A Capital Criativo passou, a partir desta segunda-feira, a designar-se C2 Capital Partners e aposta na atração de investidores estrangeiros.
Gonçalo Gil Mata, sócio da empresa de capital de risco, explicou ao Dinheiro Vivo como é que a sociedade está a viver a atual crise e quais as perspetivas para o futuro.
Segundo este responsável, “mais de metade das empresas participadas” pelos fundos da C2 Capital Partners estão com atividade suspensa. A sociedade investe estrategicamente na área do turismo, um dos que está a ser mais afetados com a crise provocada pelo confinamento da população imposto em Portugal.
Também comentou o caso que envolveu Luís Filipe Vieira, empresário e presidente do Sport Lisboa e Benfica. O caso, que foi noticiado pelo Expresso em 2018, causou polémica. Em causa estava o facto de uma parte da dívida ao Novo Banco, superior a 400 milhões de euros, da Promovalor, empresa de Luís Filipe Veira, ter sido foi colocada num fundo da então Capital Criativo.
A sociedade tem como sócio Nuno Gaioso Ribeiro, vice-presidente do Benfica, que tinha como sócio Tiago Vieira, filho do presidente do clube da Luz.
“Este fundo foi constituído com toda a transparência, seguindo todos os processos habituais de autorização por parte dos reguladores da nossa atividade e dos investidores. O fundo tem prosseguido a sua atividade normal, com total independência, como qualquer outro dos nossos fundos, pelo que, para nós, não há nenhum tema especial a ele associado”, salientou Gonçalo Gil Mata.
Ainda sobre este caso, afirmou: “Não tivemos nenhum tipo de solicitação ou contacto, por parte de nenhuma autoridade, exceto aquelas decorrentes da nossa atividade regulada de sociedade gestora”.
Seguem as respostas de Gonçalo Mata às questões do Dinheiro Vivo.
Porquê o rebranding agora?
“Ao fim de 10 anos de atividade e com uma posição consolidada no mercado de private equity, entendemos existirem condições para procurar angariar algum capital em investidores institucionais internacionais e, por isso, quisemos, sem ruturas, evoluir na marca para, sem perder a identidade, torná-la mais inteligível em termos de relação com a indústria e também noutras línguas. Este rebranding estava a ser preparado desde setembro do ano passado, quando completámos 10 anos, e decidimos fazê-lo na mesma nesta conjuntura, para sinalizar, simbolicamente, que a atividade contínua.”
Qual o balanço de 2019?
“Foi um ano importante para a sociedade, em três registos diferentes. Primeiro, uma evolução muito substantiva da carteira de participações, nas empresas em que investimos e ajudamos a crescer. Segundo, realizámos alguns desinvestimentos com resultados, estratégicos e financeiros, muito interessantes [Água Castello, Hotel do Carmo e Hotel Pessoa, por exemplo]. Terceiro, concluímos o levantamento de um fundo de expansão (o nosso quarto fundo desta natureza) com um montante levantado acima do objetivo inicial de 50 milhões de euros, junto de mais de 100 investidores, o que é um enorme sinal de confiança do mercado.”
Qual a performance dos fundos?
“O comportamento dos fundos varia consoante a política de investimento e o ano em que foram constituídos, mas até 2019 não estava desfasado dos objetivos iniciais. Destacamos ainda que a totalidade dos desinvestimentos feitos ao longo destes últimos anos tem tido uma rentabilidade em linha com os retornos do mercado europeu de private equity, o que não é nada fácil num mercado de pequena dimensão como o português.”
Qual a atual composição acionista da sociedade?
“Desde 2014 que temos vindo a adquirir as participações sociais dos investidores que não estavam envolvidos na gestão da sociedade, o que é uma tendência normal na indústria. Hoje, as participações sociais estão concentradas nos 4 sócios que têm responsabilidades executivas na sociedade gestora.”
Como está a questão do tema que envolve Luís Felipe Vieira e uma parte da sua dívida ao BES que foi incluída num dos fundos de reestruturação da Capital Criativo?
“O que foi incluído num dos nossos fundos alternativos foi uma parte dos ativos turísticos e imobiliários pertencentes à Promovalor. Existem ativos que precisam de ser desenvolvidos [terrenos em Lisboa e Algarve], outros ativos estão já em exploração [edifício de escritórios em Moçambique e Hotel no Brasil, embora este tenha encerrado por causa desta crise], outros poderão ser alienados se existirem condições de mercado. Este fundo foi constituído com toda a transparência, seguindo todos os processos habituais de autorização por parte dos reguladores da nossa atividade e dos investidores. O fundo tem prosseguido a sua atividade normal, com total independência, como qualquer outro dos nossos fundos, pelo que, para nós, não há nenhum tema especial a ele associado.
Têm estado a colaborar com as autoridades?
Não fazemos ideia do que se refere na pergunta. Não tivemos nenhum tipo de solicitação ou contacto, por parte de nenhuma autoridade, exceto aquelas decorrentes da nossa atividade regulada de sociedade gestora.”
Com a atual crise, quais as perspetivas e objetivos da empresa para 2020 e anos seguintes?
“A atual crise tem-no feito concentrar todos os esforços, de capital e gestão, a apoiar as nossas participadas, pois estamos – por opção estratégica – muito investidos nos setores do turismo, eventos e hospitalidade e restauração. Para dar uma ideia, temos mais de metade das empresas participadas com atividade suspensa. Como somos investidores de longo prazo, esperamos, naturalmente, recuperar, embora nestes setores seja previsível que demore algum tempo. Globalmente, como a nossa atividade principal se designa por capital de expansão, ou seja, somos investidores e parceiros de capital para ajudar empresas portuguesas a crescer, iremos continuar a angariar capital e a investir em empresas portuguesas: nascemos em 2009 e, portanto, sabemos bem o que é investir e capitalizar empresas em ciclos económicos mais complexos.”
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