O governador do Banco de Portugal, Carlos Costa, confirma que passou férias em Vale do Lobo, um empreendimento que foi financiado pela Caixa Geral de Depósitos, em 2013 e 2014 mas “entende que existe qualquer conflito de interesses” na sua decisão.
É o terceiro esclarecimento feito pelo governador do banco central este mês de fevereiro, sobre notícias surgidas na sequência da divulgação pública da conclusão da auditoria feita à gestão da Caixa Geral de Depósitos pela EY que revelou empréstimos ruinosos aprovados pelo banco público.
Os dois maiores partidos, PS e PSD, bem como o CDS, rejeitaram um projeto de resolução do Bloco para exonerar o governador.
O esclarecimento do governador surge em resposta a uma notícia do Jornal Económico publicada esta sexta-feira que afirma que Carlos Costa passou férias naquele empreendimento após o financiamento ruinoso aprovado pela CGD. Costa foi administrador do banco estatal entre abril de 2004 e setembro de 2006.
Segundo o jornal, o governador arrendou casa no resort de luxo quando o empreendimento já estava a falhar crédito da CGD que contou com a aprovação do próprio quando foi administrador do banco.
“Em 2013 e 2014, sete e oito anos respetivamente depois de ter cessado funções de administrador CGD, o governador passou férias no empreendimento de Vale de Lobo [6 a 16 de agosto de 2013 e 9 a 16 de agosto de 2014], tendo pago pelos arrendamentos os valores praticados pela empresa em cada ano, não tendo beneficiado de qualquer desconto”, afirma Carlos Costa. “O arrendamento foi tratado com os serviços comerciais do empreendimento de Vale do Lobo”, adianta.
- “O governador entende que não existe qualquer conflito de interesses nesta decisão, dado que, como resulta da auditoria da EY à CGD, o financiamento da CGD a Vale do Lobo teve a aprovação final numa reunião do Conselho Alargado de Crédito que não contou com a presença do sr. governador”, adianta.
O financiamento ao empreendimento Vale do Lobo foi como um dos créditos ruinosos identificados pela auditoria da EY à gestão da Caixa entre 2000 e 2015, período em que este investimento gerou perdas de 228 milhões de euros, lembra o Jornal Económico.
-
- A Assembleia da República aprovou esta sexta-feira a criação de uma nova comissão de inquérito à gestão da CGD entre 2000 e 2015.O banco, atualmente liderado por Paulo Macedo, concluiu em 2017 uma operação de recapitalização de quase 5.000 milhões de euros.
- O Governador reitera “que está totalmente disponível, como sempre esteve, para prestar todos os esclarecimentos que a Assembleia da República entender necessários, designadamente sobre os termos da sua participação nos órgãos colegiais que aprovaram as operações que são objeto da auditoria da EY à CGD”.
- Num esclarecimento feito a 8 de fevereiro, Carlos Costa anunciou que não iria participar nas decisões do Banco de Portugal sobre a CGD. A 11 de fevereiro, informou que o seu pedido de escusa foi feito a 6 de novembro de 2018.
A revista Sábado noticiou que Costa esteve presente em pelo menos quatro reuniões do Conselho Alargado de Crédito da CGD nas quais foram aprovados empréstimos problemáticos.
O Banco de Portugal está a avaliar a idoneidade de ex-gestores do banco público, na sequência do relatório da EY mas o exame exclui o governador, noticiou o Jornal Económico.
Deixe um comentário