
O Banco de Portugal cortou em sete décimas de ponto percentual as previsões de crescimento para este ano, de 2,3% para 1,6%, abaixo da expectativa do Governo. Mário Centeno mantém o défice de 0,1% para 2025, com um agravamento em 2026 para 1,3%, e alerta para o crescimento da despesa.
“Nós projetamos neste momento, tal como em dezembro, défices orçamentais em 2025, 2026 e 2027 e é, mais uma vez, motivo de preocupação”, sublinha o governador. Ainda mais quando “há o risco de incumprimento das regras europeias no horizonte”, acrescenta.
O Banco Central é claro, “embora a posição portuguesa se mantenha favorável no contexto do euro, é fundamental conter a deterioração orçamental, assegurando o cumprimento das regras orçamentais europeias”. Até porque, “a elevada dívida pública permanece uma vulnerabilidade”.
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O governador apela ao controlo orçamental, lembrando que “a despesa líquida cresce em 2025 (nestas estimativas) 5,4%, após ter crescido uns enormes 11,7% em 2024”. A somar a tudo isto, há ainda o risco externo alimentado pela imprevisibilidade das políticas norte-americanas, sobretudo para o comércio internacional.
Segundo o governador, são necessárias políticas que promovam o crescimento, e isso inclui facilitar a entrada no país de trabalhadores imigrantes. “Parar o ciclo de imigração significa parar o crescimento económico em Portugal, que ninguém tenha dúvidas sobre isso”, avisa Mário Centeno.
Centeno assegura que “o crescimento não aconteceria se não fosse o inestimável contributo da imigração para a nossa sociedade. É muito importante compreender isto, porque é muito importante compreender as razões pelas quais a nossa economia cresce”.
Acrescenta ainda que o país tem “mantido a capacidade de atrair e criar condições para que o mercado de trabalho absorva estes imigrantes”, trabalhadores com “uma distribuição de qualificações muito vastas”, que se adequa às necessidades dos setores, diz.
Riscos de deflação
Um dia depois do Banco Central Europeu ter cortado as taxas de juro diretoras, em 0,25%, o governador diz que esta tendência de descida deverá continuar. No entanto, alerta para o risco de uma situação deflacionária.
Estamos num “ciclo de redução das taxas” e segundo os dados disponíveis “tudo indica que se irá prolongar em 2025”, defende Mário Centeno.
No entanto, “esta tendência de redução vai acentuar-se até ao princípio do ano que vem, momento em que a taxa de inflação na área do euro se aproximará, quase que diria, de uns perigosos 1%”, antecipa o governador. “É um cenário que nos deve alertar”, avisa.
O objetivo do BCE é manter a inflação nos 2%, o valor que segundo a autoridade monetária garante a estabilidade”.
“Estarei sempre disponível para o país”
Em final de mandato, Mário Centeno foi ainda questionado sobre o futuro. O governador do Banco de Portugal garante total disponibilidade para o país.
“Tenho um mandato para cumprir, diria cumprido. Estarei sempre disponível para o país, seja no Governo, seja no Banco de Portugal, seja numa universidade, que é onde eu posso fazer o que gosto mais, que é falar”, diz o governador do Banco de Portugal, na apresentação do Boletim Económico de junho.
O mandato de Mário Centeno termina já no próximo mês, julho, o Governo ainda não se pronunciou sobre o cargo, se vai reconduzir o governador ou substituí-lo. Mário Centeno também não é explícito sobre se já recebeu do executivo alguma indicação, diz apenas que “há um processo institucional em curso”.
Esta é uma escolha política, aprovada em Conselho de Ministros, sob proposta do ministro das Finanças. O Governo pode consultar os partidos, mas a única obrigação estabelecida é uma audição parlamentar prévia à nomeação do futuro governador do Banco de Portugal, na Comissão de Orçamento, Finanças e Administração Pública (COFAP), de onde sai um parecer sem caráter vinculativo.
Em janeiro, depois de anunciar que não era candidato à Presidência da República, Mário Centeno voltou a manifestar disponibilidade para um segundo mandato.
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