O euro faz 20 anos e o Parlamento Europeu (PE) reuniu-se em Estrasburgo, França, para celebrar o acontecimento. Os principais líderes europeus e os mais altos responsáveis da moeda única concordam que a experiência tem sido um sucesso, mas também repararam nas falhas cometidas pelo caminho.
No plenário do PE, que decorre até dia 17, Mário Centeno, o presidente do Eurogrupo, o conselho informal dos ministros das Finanças da zona euro, declarou que “o euro é um dos grandes êxitos” da construção europeias e tem sido “âncora para a criação de emprego”.
“O euro nunca foi um fim em si, é apenas um instrumento para reforçar a estabilidade e a prosperidade europeia, tornando a união mais inclusiva”, uma forma de reduzir “as desigualdades que ainda existem entre estados membros e dentro dos estados membros”. E desejou “longa vida a um euro forte”.
No entanto, o ministro português admitiu que, apesar de ser “uma ideia muito popular” junto das 340 milhões de pessoas que usam a moeda e de esta ser “a segunda mais importante” a seguir ao dólar, também é verdade que “os últimos 20 anos não foram fáceis”. Relembrou a crise das dívidas soberanas e a recessão que veio depois e que atirou o desemprego para níveis máximos.
Mas para Centeno, “a moeda única reemergiu mais forte”. Deu como exemplo, a criação de instituições que dantes não existiam, como o Mecanismo de Estabilidade Europeu (ESM na sigla em inglês) e os avanços feitos recentemente, na cimeira de dezembro, para reformar a zona euro, aprofundar a união bancária e o sistema de resolução de bancos, caso algum tenha de falir ou problemas graves. “Tornamos o sistema de resolução mais credível”, acenou Centeno.
“As previsões para o futuro são positivas, apesar de se ter perdido algum ritmo e de alguns riscos se terem acumulado”, observou o líder do Eurogrupo.
No entanto, com a tal reforma que está em curso, “a zona euro está mais preparada para futuras crises”. Centeno reiterou que “o Eurogrupo vai trabalhar noutros pontos que ainda faltam consolidar”, como o fundo de garantia de depósitos europeus, que nesta fase da reforma do euro acabou por não avançar por causa da oposição feita pelos países da chamada nova liga hanseática (do norte, caso da Irlanda, Holanda).
Já fora do plenário, em conversa com os jornalistas portugueses, o presidente do Eurogrupo disse estar muito otimista relativamente ao futuro pois ainda há muita coisa boa que se pode fazer pelo euro.
Sobre a saída do Reino Unido da União Europeia, que esta terça-feira vai novamente a debate e a votos no Parlamento britânico (casa dos comuns), Centeno declarou novamente que “uma saída desordenada não é solução para ninguém”.
“O Brexit é uma má resposta para um problema que é real e infelizmente temos assistido a decisões que não são adequadas para resolver os problemas que de facto existem. É evidente que tem de existir um acordo, seja este ou outro acordo”, alertou o português.
Draghi: “Não há alternativa a uma zona euro mais forte”
Antes dele, tinha falado Mario Draghi, o presidente do Banco Central Europeu (BCE), que fez um balanço positivo, mas deixou muitos recados. Apesar dos muitos progressos feitos nestes últimos 20 anos, “a zona euro continua incompleta”.
“Grandes progressos foram alcançados desde a crise, mas ainda há muito trabalho para ser feito; e não há alternativa a um futuro em que continuaremos a trabalhar juntos para tornar a nossa União Económica e Monetária um motor ainda mais forte de prosperidade para todos os estados membros”, acrescentou o banqueiro central.
“Todos estamos a colher os benefícios do compromisso em torno do euro e queremos que as futuras gerações de europeus também se beneficiem deste nosso compromisso. Hoje, o nosso dever é concluir o que se iniciou há duas décadas”, rematou Draghi.
Juncker: Isto do euro não é uma aventura
Jean-Claude Juncker, o presidente da Comissão Europeia, também interveio uns minutos para dizer que “muitos céticos diziam que uma moeda única em tantos países era impossível”, que “nos estávamos a lançar nos numa aventura que levaria a União Europeia à beira do abismo”.
“Isso não aconteceu, o projeto foi coroado de êxito” porque muitos dos que fizeram esta construção “souberam antecipar o futuro”. Citou Jacques Delors, Helmut Kohl, entre outros.
Mas Juncker foi rápido a chegar até às partes menos boas do euro. Disse que “sente uma enorme deceção por não se ter aprofundado a união económica e social”, por algumas políticas seguidas nos anos da crise.
“Foi muito criticada a política da zona euro” nessa altura. Talvez tenhamos tido decisões erradas”, fazendo subir o desemprego, “talvez punindo demais os trabalhadores”.
“Lamento que tenhamos dada demasiada importância ao FMI” e “penso que nós não fomos suficientemente solidários com a Grécia”, atirou Juncker, sacando uma salva de palmas dos parlamentares.
“Regozijo-me de ver hoje Grécia e Portugal, não digo num lugar ao sol, mas numa Europa onde domina o estado de direito em democracia”. E dirigiu-se a Draghi dizendo que ele é o líder de uma instituição independente que põe em prática “esta política monetária que é da paz”.
Em Estrasburgo, a convite do Parlamento Europeu
(atualizado às 16h30 com mais declarações)
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