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Não foram só as exportações nacionais de calçado que cresceram acima dos 20% em 2022, também as importações dispararam no ano passado. No total, Portugal comprou ao exterior 54 milhões de pares de sapatos, mais 9 milhões do que em 2021. E pagou por eles 704 milhões de euros, o que representa um crescimento de 20% em quantidade e de 33,7% em valor. A maior parte veio de Espanha, mas a China surge logo no segundo lugar dos principais mercados de origem, ultrapassando, num só ano, França, Bélgica e Alemanha.
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Números que não surpreendem se tivermos em conta que, dos 24 mil milhões de pares de sapatos produzidos, em 2022, no mundo, 87% foram feitos na Ásia. Só a China, que se mantém como o maior produtor mundial de calçado, fabricou mais de 13 mil pares, assegurando quase 55% da produção mundial, seguida pela Índia, Vietname e Indonésia.
Portugal continua a comprar a Espanha quase metade dos sapatos que importa, mas a China fortaleceu a sua posição entre os fornecedores do país: tem já uma quota de mercado de 36% no número de pares importados, com os quase 16 milhões de pares do ano passado. Em valor, a quota é substancialmente mais baixa, e fica-se pelos 14%, correspondentes a aproximadamente 80 milhões de euros.
Mas – e os dados são do World Footwear Yearbook, o anuário estatístico da responsabilidade da associação do setor, a APICCAPS -, nos últimos cinco anos, a China foi o país que mais cresceu, com um aumento acumulado de 24 milhões de euros, correspondentes a uma reforço de 41%. Em segundo lugar surge o reforço da Alemanha, com 40% de aumento nos últimos cinco anos, relativos a mais 20 milhões de euros. Em 2022, a Alemanha caiu para o quarto lugar na tabela dos países de origem das importações nacionais de calçado, tendo vendido 3,7 milhões de pares no valor de 70 milhões de euros.
A França, que em 2021 ocupava o segundo lugar, caiu para quinto e a Bélgica mantém-se na terceira posição.
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Centros de reexportação
O diretor de comunicação da APICCAPS lembra que, ao contrário de Portugal, que exporta essencialmente o calçado que produz, a maior parte dos países europeus tem vindo a perder a sua indústria, funcionando como “centros de reexportação”. E dá exemplos: Espanha produziu, no ano passado, 83 milhões de pares, mas importou 328 milhões de pares, dos quais 197 milhões da China e 37 milhões do Vietname. A Bélgica, que não produz calçado, exportou 307 milhões de pares, mais de 70% dos quais oriundos do Vietname, China e Indonésia. A Alemanha, que só produziu 58 milhões de pares e consumiu 473 milhões, importou 793 milhões de pares, dois terços dos quais de países asiáticos.
“Isto significa que o que está a chegar ao nosso país é calçado muito barato, o que é sinal da conjuntura económica que se vive”, diz Paulo Gonçalves. A prová-lo está o facto de o preço médio de importação ter sido de 13 euros, no ano passado, que compara com os 26,4 euros do preço médio do calçado made in Portugal que exportamos.
Este ano, a tendência mantém-se. Nos primeiros sete meses do ano, Portugal importou 31 milhões de pares no valor de quase 420 milhões de euros, o que representa um aumento de 2,3% em quantidade e de 12,9% em valor. De Espanha vieram 12 milhões de pares, no valor de 168 milhões de euros, um aumento de 4% em quantidade e quase 21% em valor. Da China recebemos 10 milhões de pares, pelos quais pagámos 39,5 milhões de euros, um acréscimo de quase 7% em volume, mas uma quebra de 11,4% em valor. O preço médio do calçado importado de Espanha foi de 14 euros, da China não chegou aos 4 euros.
Valores que a APICCAPS insiste serem um sinal também do menor poder de compra dos portugueses, que estão a comprar mais – o consumo de calçado em Portugal cresceu mais de 21%, correspondentes a 11 milhões de pares a mais do que em 2021, num total de 63 milhões -, mas produtos mais baratos.
Efeito da imigração
Sobre o aumento do consumo, Paulo Gonçalves lembra que há que ter em conta que Portugal passou a ter quase 800 mil imigrantes a viver no país, o que certamente ajudará a explicar parte deste crescimento. De qualquer forma, sublinha: “Isto é a antítese do que defendemos. Ainda recentemente colocámos nas redes sociais um vídeo promocional sob o lema All you need is less e com o qual procurámos ensinar as pessoas a cuidarem do calçado para que ele dure mais. A verdade é que há excesso de produção e de consumo a nível mundial. Não é sustentável. Todos nós devíamos comprar menos e sermos mais responsáveis nas nossas escolhas, preferindo produtos de maior qualidade e que perdurem no tempo”.
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