Foi um importante polo ferroviário, mas, com o encerramento do tráfego de passageiros, em 1990, Estremoz deixou de figurar no mapa ferroviário, terminando os serviços prestados entre Évora, Estremoz, Portalegre e Vila Viçosa.
A cidade não sobreviveu ao século XX ferroviário e, duas décadas depois, foi excluída do Plano Ferroviário Nacional.
“Com a atual escalada do preço dos combustíveis, temos a noção que aumentam os custos de produção, retirando margem de manobra às empresas, por isso, tudo o que se conseguisse para contrariar esta situação seria um enorme apoio”, diz à Renascença, o presidente da Câmara Municipal de Estremoz.
José Daniel Sádio chegou há semana e meia à autarquia alentejana. De vereador do Partido Socialista passou, nas últimas autárquicas, a presidente de um município que agrupa importantes indústrias ligadas, por exemplo, ao turismo, aos vinhos ou às rochas ornamentais.
Conhecedor do potencial que o comboio oferece, o autarca está consciente que Estremoz não vai poder competir com cidades espanholas, como Cáceres ou Mérida que vão beneficiar com a Linha de Alta Velocidade.
“Tudo o que sejam fatores que aumentem a competitividade e reduzam custos às empresas, é evidente que vai ajudar na criação de riqueza e o comboio é disso exemplo”, reconhece.
O futuro é incerto para quem vai ficar a ver passar o comboio, numa altura em que prosseguem a bom ritmo as obras de construção da nova linha férrea entre Évora e Elvas/Caia, inserida no Corredor Internacional Sul.
Para contornar o problema, Estremoz e outras seis autarquias do distrito de Évora avançam com um projeto que prevê a possibilidade de criação de um terminal de cargas e descargas ferroviário em Alandroal. Apesar de incipiente, é uma hipótese que faz renascer a esperança.
“Estando fora do Plano Ferroviário Nacional, é claro que ficamos diminuídos em termos de capacidade de afirmação do nosso concelho, mas esta possibilidade de criação de uma plataforma logística no Alandroal e, mais tarde, uma ligação, quem sabe, à nossa zona industrial dos Arcos, é sem dúvida uma mais-valia”, considera o autarca.
Até lá, o concelho de Estremoz vai continuar a ser servido pela Autoestrada 6 e pela congestionada Estrada Nacional 4, ambas com ligação à vizinha Espanha.
De Sines ao Caia pelo Corredor Internacional Sul
A última vez que o primeiro-ministro visitou as obras em curso – a empreitada do troço Freixo-Alandroal na linha ferroviária Évora-Caia – lembrou que “o investimento, superior a dois mil milhões de euros previstos no Ferrovia 2020, surgiu numa altura em que o país se tinha desabituado a fazer grandes investimentos na ferrovia”.
O Corredor Internacional Sul, que liga a parte sul da Área Metropolitana de Lisboa e o Alentejo litoral à fronteira do Caia, é, segundo António Costa, uma “obra estratégica para valorizar um dos maiores ativos que o país tem, que é o porto de Sines” e também toda a economia da região.
“Com esta obra vamos encurtar em 150 quilómetros e em três horas e meia a distância entre o porto de Sines a e fronteira, o que significa que o porto não vai servir só o território nacional, vai poder servir toda a Península Ibérica e isso é fundamental para reforçar a capacidade de fixação de empresas e de criação de emprego em toda esta região do Alentejo”, sublinhou.
A construção desta linha moderna, acrescentou, “é um desafio muito grande para os autarcas que gerem este território”, o desafio “de criarem as oportunidades para o crescimento da atividade industrial e produtiva, porque esta linha serve quem carrega ou descarrega mercadoria no porto de Sines, mas também em qualquer ponto intermédio da linha, dirija-se a mercadoria a Sines ou ao resto da Europa”.
O conjunto de intervenções ferroviárias entre Sines e a fronteira com Espanha representa um investimento total de 700 milhões de euros, dos quais 480 milhões de euros das empreitadas do Corredor Internacional Sul, para ligar o litoral à fronteira com Espanha, e o investimento em diversas outras obras de ligação a este projeto.
A ferrovia presente na Cimeira de Trujillo
Depois do chumbo da proposta do Orçamento do Estado para 2022 na generalidade, sem perder tempo, o primeiro-ministro dá um salto a Espanha para participar, nesta quinta-feira, em Trujillo (Cáceres), em mais uma cimeira ibérica.
“Mobilidade Sustentável” é o slogan do encontro que dá destaque à área dos transportes entre os dois países, onde se insere o troço ferroviário que vai ligar Sines a Madrid, no âmbito do Ferrovia 2020, o plano de investimentos português. Os troços Aveiro-Salamanca e a nova ligação Porto-Vigo deverão ser, igualmente, alvo de conversas.
Segundo uma nota do Governo português, a reunião, pretende “aprofundar as discussões mantidas com o governo de Espanha sobre a interligação entre dois processos importantes: a implementação da Estratégia Comum de Desenvolvimento Transfronteiriço e a execução dos Planos de Recuperação e Resiliência”.
A celebração do novo Tratado de Amizade e Cooperação, a assinar por António Costa e Pedro Sánchez, é outro dos pontos relevantes desta cimeira na Extremadura espanhola.
Este novo tratado vai atualizar o acordo anterior, de 1977, com o objetivo de “reforçar os laços de amizade e solidariedade entre os dois países europeus que tinham chegado há não muito tempo à liberdade e à democracia, depois de longos períodos de ditadura”.
Os trabalhos incluem reuniões bilaterais setoriais, em que cada ministro se reúne com o seu homólogo do outro país, sendo uma delas entre os dois chefes de Governo, havendo em seguida um encontro entre todos os membros das duas delegações.
No final da cimeira, já durante a tarde, decorre o encontro, “O futuro da Europa”, com duas dezenas alunos do Instituto Politécnico de Portalegre e outros tantos estudantes da Universidade da Extremadura, com a presença de António Costa e Pedro Sánchez.
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