//CIP. Semana de 4 dias agrava falta de mão-de-obra e sobe os preços

CIP. Semana de 4 dias agrava falta de mão-de-obra e sobe os preços

Os patrões da indústria criticam o projeto-piloto que durante um ano avaliou a redução do horário semanal de trabalho para 4 dias, porque não representa o tecido empresarial.

À Renascença, Rafael Campos Pereira, da Comissão executiva da Confederação Empresarial de Portugal (CIP), lembra que “estamos a falar de algumas centenas de trabalhadores (332), num universo de cinco milhões de portugueses que trabalham”. Por outro lado, “não há empresas de base industrial, estamos aqui a falar apenas em serviços, nesse sentido, não me parece que a amostra possa ser representativa”, explica. Ainda assim, segundo o relatório final, menos de 5% dos participantes representam a indústria.

Uma centena de empresas mostraram interesse na iniciativa, mas apenas 21 aderiram ao projeto. Juntaram-se a outras 20 que já estavam a aplicar a redução de horário, por iniciativa própria. No total, entre seis meses a um ano, 41 empresas e mais de mil trabalhadores reduziram as horas de trabalho.

As que participaram relatam poupanças com energia e consumíveis e até aumento dos lucros, redução do absentismo e mais facilidade de recrutamento.

Ainda assim, Rafael Campos Pereira diz que esta não seria a melhor altura para aplicar uma medida deste género. “Neste momento, estarmos a pensar em reduzir o tempo de trabalho, quando existe falta de mão-de-obra, não temos capacidade para atrair e reter os recursos humanos de que necessitamos, as dificuldades vão ainda acentuar-se mais”, garante.

Em causa estão “perdas nas empresas, perda de capacidade em dar resposta a encomendas e perda de qualidade no emprega”, diz. Em particular no setor da indústria, a CIP admite que “uma redução em 20% do tempo de trabalho vai repercutir-se seguramente nos preços, vão aumentar 20% também”.

A redução do horário também diminui a capacidade competitiva da indústria. “Não conseguimos fazê-lo porque não conseguiremos competir com empresas do exterior que praticam preços muito mais baixos e não têm este tipo de iniciativas pensadas”, explica. “As margens que as empresas têm não são de 20%, não é possível pagar aos trabalhadores e aos acionistas, reduzindo tempo de trabalho desta forma, seria irresponsável.”

A CIP critica ainda a semana de 4 dias porque dá primazia à redução do horário, quando esta deve ser uma consequência do aumento da produtividade. “Aumentemos a produtividade e depois será responsável pensarmos em reduzir as horas de trabalho dedicadas”.

“Admito que haja empresas e entidades que comportem esta redução e que as pessoas façam o mesmo, o que significa que as pessoas estão a fazer menos do que poderiam fazer. Numa indústria, em linhas de produção ou em empresas com o tempo de trabalho proporcionalmente preenchido, não é possível aumentar a produtividade, reduzindo desta forma o tempo de trabalho”, defende.

Rafael Campos Pereira conclui que esta redução do horário para quatro dias não serve para a maioria dos setores e, à indústria, junta a construção ou a distribuição. “Aquilo que poderá ser suscetível de acomodar estas medidas será os serviços puros e similares, é uma percentagem pequena dos 5 milhões de trabalhadores portugueses”.

Das 21 empresas que integraram oficialmente o projeto-piloto da semana de quatro dias, 4 regressaram ao modelo inicial, 11 decidiram prolongar o horário e as restantes adaptaram a proposta testada.

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