//“Com os atrasos nos apoios, quando o confinamento acabar as empresas estão mortas”

“Com os atrasos nos apoios, quando o confinamento acabar as empresas estão mortas”

A palavra que mais vezes sai da boca de Jorge Pisco, presidente da Confederação Portuguesa das Micro, Pequenas e Médias Empresas – CPPME, para qualificar a situação dos empresários em Portugal é “dramática”.

Nesta entrevista à Renascença, ainda antes de ser conhecido o texto do novo estado de emergência [a conversa aconteceu na quarta-feira], Jorge Pisco analisa o passado, o presente e o futuro das micro, pequenas e médias empresas, que valem mais de 99% do total do tecido empresarial, e dispara em quase todas as direções.

Acusa o Governo de estar a tentar anestesiar os empresários com medidas e mais medidas, que se confundem e não chegam ao terreno. Em relação aos bancos, defende que estes usaram as linhas de crédito para resolverem problemas próprios, e tem ainda dúvidas de que os números do INE (Instituto Nacional de Estatística) do desemprego sejam mesmo como os que são publicados.

Apela a que a ação seja célere para que quando o desconfinamento acontecer, haja ainda a possibilidade de haver um tecido empresarial capaz de relançar a economia. Pelo meio, fala da fome por que muitos empresários estão a passar.

Porque é que as medidas que o Governo anunciou para as empresas são uma forma de anestesiar os empresários, como ainda esta semana defendeu?

O Governo procura anestesiar os empresários e basta olhar para como tem gerido os apoios. Há um baixo nível de valores que são apontados e dificuldade de acesso aos mesmos. A isso soma-se a lentidão com que são disponibilizados, as exigências e os critérios que são colocados e que excluem milhares de empresas.

Há ainda a discriminação do seu código de atividade económico (CAE) e o programa Apoiar, que encerrou por se atingirem os 150 milhões de euros que estavam previstos numa altura de pandemia. É incompreensível.

É preciso nós não esquecermos que os micro, pequenos e médios empresários ao longo destes 11 meses têm sofrido de uma forma dramática e que era necessário que o Governo tivesse olhado para eles de uma outra forma.

Por isso, dizemos que estão a tentar anestesiar [os empresários], anunciando medidas e mais medidas, mas no concreto não estão a ajudar de forma efetiva as empresas.

A perspetiva é de um confinamento de dois meses. O que é que isso significa para os micro e pequenos empresários? É uma sentença de morte?

Já hoje é. Com esta situação de dificuldade de acesso aos apoios, com os atrasos dos apoios − a não serem alterados os critérios e a forma dos apoios chegarem e da aplicação dos mesmos − quando o confinamento acabar as empresas estão moribundas. Não encerram, estão mortas.

“Estão a tentar anestesiar [os empresários] anunciando medidas e mais medidas, mas no concreto não estão ajudar de forma efetiva as empresas.”

O que temos vindo a dizer é que se não se apoiam as empresas, elas vão à falência, e são milhares e milhares de postos de trabalho que o Estado vai ter de suportar do ponto de vista social com o desemprego e falências.

O Governo anuncia linhas de milhares de milhões de euros de apoio às empresas e à economia, e mesmo assim as empresas queixam-se de que os incentivos são escassos. Quem é que aqui está a faltar à verdade?

Basta olhar para as estatísticas e ver que Portugal é dos países que menos tem aplicado fundos de apoios à economia. Fala-se muito, anuncia-se muito, mas na prática isso não é verdade.

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