Na visão do presidente executivo da Partex, António Costa e Silva, a decisão da Fundação Gulbenkian em vender a petrolífera que mantinha há 60 anos à PTT Exploration and Production (PTTEP), empresa pública tailandesa de exploração e produção de petróleo, por 622 milhões de dólares (555 milhões de euros), são excelentes notícias.
Primeiro porque o novo acionista tailandês já garantiu que vai manter inalterada a marca Partex, a sede em Lisboa e a equipa de gestão, o que significa que Costa e Silva pode manter o seu cargo à frente dos destinos da empresa. Mas acima de tudo, argumenta o CEO, porque este negócio representa uma nova fase de expansão para a petrolífera, com muito mais dinheiro para investir em novos projetos e novas geografias.
Para a Fundação Gulbenkian, a venda da Partex representa um encaixe de 555 milhões de euros e, ao mesmo tempo, uma perda de cerca de 20% das suas receitas anuais (90 milhões em 2018), que terá agora de ir procurar noutras áreas, com a energia e as renováveis como áreas mais prováveis para completar a carteira de investimentos.
Qual foi o resultado financeiro da Partex em 2018?
Em 2018 a Partex teve receitas na ordem dos 420 milhões de dólares e lucros de 37 milhões de dólares. Todos os anos a Partex produz sempre bons resultados. Em 2018 pagámos 90 milhões de dividendos à Fundação Gulbenkian. Temos sempre feito esse nosso papel.
Surgiram muitos interessados em comprar a Partex?
Houve muito interesse neste concurso. Foram 14 empresas europeias e asiáticas.
A venda à tailandesa PTTEP é uma boa notícia?
Sim. Nos últimos anos a Fundação Gulbenkian tomou a decisão de deixar de investir no petróleo e gás, e de vender a Partex, e nós passámos vários anos sem investimento. Uma empresa sem investimento vê a sua operacionalidade e capacidade de agir afetada. E é por isso que este acionista novo vem inaugurar um novo ciclo de desenvolvimento e investimento da empresa. Temos vários projetos em Abu Dhabi e em Omã, em que fomos repetidamente convidados para participar e não pudemos porque a fundação não estava inclinada para investir. Porque tomou a decisão de neste novo ciclo de investimento reduzir o peso do petróleo e gás na sua carteira de investimento – era cerca de 1/3 a 2/3.
O que vai mudar agora?
Os investimentos neste novo ciclo serão muito grandes e vão preparar a empresa para o futuro. O novo acionista é uma grande empresa, tem 16 mil milhões de dólares de capitalização bolsista, atua em 12 países. E não tem só petróleo mas também gás, que é importante para a Partex. Estamos presentes desde 1974 no projeto de LNG do Omã. O gás vai ser o combustível de futuro, em combinação com renováveis e por isso não pode depender de fundos intermitentes. A PTTEP tem estado nos grandes projetos de Moçambique, e também na Ásia.
Que mais valias oferece a Partex ao novo acionista?
Estou a tentar convencer o CEO do meu novo acionista que a Partex está não só no Médio Oriente – em Abu Dhabi e Omã – mas também no Brasil e em Angola, tem boas relações em Moçambique, contactos estreitos na Argélia, onde a PTTEP também está presente. No fundo a ideia é criar em Portugal uma plataforma de crescimento da PTTEP no mundo, para o hemisfério ocidental, começando no Médio Oriente mas alargando aos países que falam português, onde podemos ajudar o acionista tailandês. A empresa quer aumentar a sua produção, as reservas, hoje produz 380 mil barris de petróleo por dia mas quer continuar a crescer de forma robusta.
Quais as concessões da Partex que beneficiarão com a entrada da PTTEP?
Muitas das nossas concessões são históricas. É por isso que este processo demorou o seu tempo, de relojoaria geopolítica. Projetos no terreno não podiam ser postos em perigo pela entrada do novo acionista. Processo foi moroso mas obteve o apoio das autoridades nas geografias mais importantes onde operamos. Em Abu Dhabi temos uma concessão de gás que vai terminar em 2028. E agora temos um acionista com visão clara para o futuro e que quer investir. É importante para renovar as concessões, além da equipa técnica excelente. Temos de investir para nos posicionarmos na renovação das concessões. Temos outra concessão que vai terminar em 2024, em Omã. O país quer criar um hub de gás para a Ásia. A China importa cada vez mais, para substituir o carvão. A Partex tem concessões em produção em Abu Dhabi (Gasco) e também de gás natural liquefeito (três trens com capacidade de 10 milhões de toneladas por ano, exportados para a Ásia). Em Omã produz 620 mil barris por dia, e tem ainda um campo de óleo pesado (116 mil barris por dia). No Cazaquistão tem o campo Dunga (16 mil barris por dia) e ainda outras concessões em desenvolvimento: em Angola, um bloco offshore com sete poços (5 descobertas) e outro no Brasil, a meias com a Petrobras.
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