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O primeiro-ministro parece ter conseguido conter a queda livre na popularidade que o aflige desde abril do ano passado. Ao contrário da maioria dos seus ministros, com destaque para João Galamba. E do presidente da República. António Costa continua, mesmo assim, num patamar historicamente baixo (saldo negativo de 27 pontos), de acordo com o mais recente barómetro da Aximage para o DN, JN e TSF. Ao contrário, Marcelo Rebelo de Sousa, apesar de ainda não ter encontrado um antídoto para o desgaste, continua a ser o político mais popular, com um saldo positivo de sete pontos.
Ainda que a avaliação dos portugueses ao primeiro-ministro continue a ser bastante negativa, o simples facto de ter conseguido estancar a sangria é de relevo. Sobretudo se tivermos em conta que, em abril passado, marcava um saldo positivo de 26 pontos (a diferença entre as avaliações positivas e negativas) e que, desde então e até ao final de janeiro deste ano, se foi afundando, até chegar ao seu pior resultado de sempre (30 pontos negativos). No barómetro deste mês, até recupera ligeiramente (27 pontos negativos).
Castigo dos mais velhos
Entre as possíveis explicações para que António Costa esteja, aparentemente, a recuperar o fôlego, estarão os anúncios de várias medidas populares: o subsídio de 90 euros por trimestre às famílias mais vulneráveis, o aumento suplementar de 1% na Função Pública, o IVA Zero, o apoio ao pagamento de rendas e a bonificação de juros de quem tem empréstimos à habitação. É provável que os escândalos na TAP continuem a fazer estragos, mas essa fatura estará a ser paga por Fernando Medina e, sobretudo, por João Galamba (que é, agora, o ministro do Governo com pior resultado na sondagem).
Um dado relevante neste barómetro é que a recolha dos inquéritos foi feita antes de António Costa anunciar a nova atualização das pensões (e que só chega ao bolso dos pensionistas em julho), revertendo o “corte” anunciado em setembro de 2022. Com efeitos na avaliação que os portugueses com 65 ou mais anos têm feito ao primeiro-ministro: de principal pilar da sua popularidade, este escalão etário evoluiu para uma avaliação cada vez mais feroz, que atinge o seu máximo neste barómetro (saldo negativo de 33 pontos).
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Mulheres salvam Marcelo
A exemplo do primeiro-ministro, foi também a partir de abril do ano passado que o presidente da República entrou numa rota descendente. Marcelo Rebelo de Sousa não governa, mas a insatisfação com a situação económica, social e política também cobra fatura ao inquilino de Belém, que, ao contrário de Costa, ainda não consegue recuperar o fôlego. Os 46 pontos de saldo positivo que conseguiu no barómetro de há um ano estreitaram-se até aos sete que, agora, recebe na avaliação dos portugueses.
Há um outro dado que ensombra o horizonte presidencial: se dependesse apenas dos homens, Marcelo já estaria em terreno negativo (três pontos). As mulheres têm sido, habitualmente, mais generosas na avaliação e, desta vez, foram mesmo elas (com 16 pontos de saldo positivo) que o salvaram da queda no abismo. Se o ângulo de análise for a idade, foram os mais velhos (os mesmos que castigam Costa como nunca) que mais contribuíram para manter o presidente acima da linha de água (25 pontos de saldo positivo, por contraste com os mais novos, onde já está em terreno negativo).
Três meses bastaram para fazer de Galamba o “pior” ministro
De ilustre desconhecido, a besta negra do Governo. Foi o percurso de João Galamba entre janeiro e abril, na avaliação dos portugueses. No pólo oposto está Mariana Vieira da Silva, a única ministra com uma imagem positiva, de acordo com o barómetro da Aximage para o DN, JN e TSF.
O ministro das Infraestruturas estreou-se nos barómetros em janeiro passado, quando ainda tinha poucas semanas no cargo. O desconhecimento era grande, ao ponto de 57% dos inquiridos se terem, então, refugiado numa avaliação neutra ou na recusa em dar opinião. Três meses depois, percebe-se que os portugueses não gostaram do que viram e/ou ouviram (com a TAP como pano de fundo) e que aplicaram um tratamento de choque: tem um saldo negativo de 42 pontos. Não escapa nem ao crivo dos eleitores socialistas.
Galamba fica em pior posição que Fernando Medina, o que parecia ser “tarefa” impossível. O ministro das Finanças já estava num patamar baixo, mas ficou um pouco pior este mês (saldo negativo de 37 pontos), numa rota descendente desde abril do ano passado. Porém, e ao contrário do “novato” das Infraestruturas, Medina mantém a aprovação dos socialistas (saldo positivo de 21 pontos).
Dos cinco ministros que o barómetro avalia, a única acima da linha de água é Mariana Vieira da Silva. Tal como António Costa, a ministra da Presidência recupera alguns pontos relativamente a janeiro, mas há uma diferença substancial: ao contrário do primeiro-ministro, está em terreno positivo (três pontos). E é assim em quase todos os segmentos: regionais, de género, de classe e de idade (com a exceção dos 50/64 anos). Nos partidários, a história é outra: saldo positivo, só no PS (e melhor que o “patrão”).
Ventura líder de uma oposição desvalorizada
André Ventura ganhou vantagem na “corrida” a principal figura da oposição. O líder do Chega é escolhido por 40% dos inquiridos, enquanto Luís Montenegro, presidente do PSD, se mantém nos 23%. A explicação para esta subida de Ventura (que já liderava em janeiro) parece estar no facto de haver, agora, menos gente sem opinião. O líder da direita radical ganhou seis pontos em abril, valor igual à queda dos que não têm opinião. Apesar de ter ficado no mesmo sítio, há variações preocupantes para Montenegro: deixou de ser o mais “votado” entre os eleitores do PSD (que apostam mais em Ventura do que no seu próprio líder). Fazer parte da oposição, no entanto, é como estar marcado com ferro em brasa. Nesta série de barómetros, só por duas vezes, em julho e em novembro de 2020 (quando o país estava em plena pandemia e a luta partidária em pausa) o conjunto da oposição conseguiu uma avaliação positiva por parte dos portugueses. E, nesta sondagem do mês de abril, até se batem dois recordes pouco apetecíveis: a maior percentagem de avaliações negativas (52%) e o saldo mais negativo em quatro anos (30 pontos).
rafael@jn.pt
FICHA TÉCNICA
A sondagem foi realizada pela Aximage para o DN, TSF e JN, com o objetivo de avaliar a opinião dos portugueses sobre temas relacionados com a atualidade política.
O trabalho de campo decorreu entre os dias 10 e 14 de abril de 2023 e foram recolhidas 805 entrevistas entre maiores de 18 anos residentes em Portugal.
Foi feita uma amostragem por quotas, obtida através de uma matriz cruzando sexo, idade e região (NUTSII), a partir do universo conhecido, reequilibrada por género, grupo etário e escolaridade. Para uma amostra probabilística com 805 entrevistas, o desvio padrão máximo de uma proporção é de 0,017 (ou seja, uma “margem de erro” – a 95% – de 3,45%). Responsabilidade do estudo: Aximage Comunicação e Imagem, Lda., sob a direção técnica de Ana Carla Basílio.
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