A recessão é inevitável e a dependência da economia nacional do setor do Turismo só agrava a dimensão do buraco que a covid-19 abriu no caminho da recuperação. Com todas as economias mundiais paralisadas, ou perto disso, e enquanto ainda se lida com a fase inicial da pandemia, os economistas estão já a olhar para a frente e a perceber até onde pode ir a recessão.
O Banco de Portugal admitiu esta semana que poderemos enfrentar a pior recessão anual de que há registo, com o cenário mais adverso a prever um colapso de 5,7% na atividade económica real em 2020; Nuno Fernandes, professor catedrático do IESE Business School, da Universidade de Navarra, apresentou também esta semana um estudo em que alerta para a situação difícil de Itália e de Portugal, Grécia e Espanha, uma vez que mais de 15% do PIB destes três países vem do Turismo. Nuno Fernandes aponta para uma queda no PIB nacional de 6,9%, se o shutdown durar até meados de junho, com um agravamento de 2% a 2,5% por cada mês de prolongamento da crise, admitindo mesmo que ultrapasse os 10%.
“Estamos a enfrentar as condições económicas mais desafiantes de sempre e nenhum país vai sair incólume. A perda média no PIB vai ser de 8% e os países que mais dependem do Turismo vão ser os mais afetados, já que o verão vai ser fortemente condicionado. “No meu relatório aponto vários cenários e, em alguns, temos quedas do PIB global de 10% ou mais. Quão profunda, e qual a duração da crise, depende não só de medidas de saúde pública e da epidemiologia, mas também da resposta internacional, em termos políticos, e económicos, a esta crise”, diz ao Dinheiro Vivo, sem deixar de referir que estamos potencialmente “perante a maior crise dos últimos dois séculos. A destruição de riqueza existe já e será maior quanto maior a duração das medidas extremas de quarentena, que paralisam por completo inúmeros setores da nossa economia. O desemprego pode atingir valores superiores aos da ultima crise e os setores de serviços serão mais impactados: turismo direto e indireto, as linhas aéreas, retalho não-alimentar, entretenimento, cultura, e lazer em geral; representam mais de um quarto da economia portuguesa. E outros setores severamente afetados incluem a publicidade, os media e os bancos.”
A questão, agora, está também na resposta a dar a esta crise. O professor do IESE deteta uma “a descoordenação completa a nível comunitário. Os nossos lideres estão uma vez mais a falhar-nos, tal como falharam na crise financeira de 2008-2009. Os bancos centrais estão praticamente sem capacidade de influenciar a economia e já tinham gasto todas as suas ferramentas nos anos “bons”. Por isso “a única solução é uma posição concertada, conjunta, e inequívoca, a nível da União Europeia. É urgente não deixar cada país entregue a si mesmo. Uma das hipóteses é a emissão de dívida a nível comunitário, que não entra diretamente para défices ou dívidas de países individuais. E com risco partilhado por todos: estamos perante uma pandemia global; a resposta tem de ser global, ou no mínimo, na nossa zona, na União Europeia.”
Susana Peralta, professora de Economia na Nova SBE, aponta na mesma direção. “Esta é uma crise global e resolve-se com uma resposta global”, até porque “a dimensão da incerteza é muito grande. Não há nada que seja um bom benchmark, na última pandemia global tínhamos um mundo muito diferente. Agora temos uma economia muito interligada e os efeitos multiplicadores são enormes, mas a resposta está a demorar muito”, diz ao DV. Susana Peralta considera que medidas económicas continuam “a deixar o risco do lado das empresas: o endividamento é mau e não fazemos ideia de como as empresas vão estar no fim do lockdown, porque ninguém teve tempo para se preparar para isto, nem famílias nem empresas.É preciso mutualizar o risco, mas mutualizar a nível europeu”, defende.
Para a fase de normalização, Susana Peralta prevê “uma recuperação lenta, porque vai haver uma enorme crise de confiança. Dificilmente as pessoas voltarão de imediato a uma esplanada ou os turistas vão voltar logo.” E deixa o exemplo da China, que “parece estar a voltar, mas é um regresso muito controlado, com fronteiras fechadas e isso tem um custo económico enorme”.
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