Partilhareste artigo
A incerteza é equiparada à de um tremor de terra: sabemos que quando começa tem um fim, mas não conseguimos prever quando nem a dimensão dos estragos que causará. Já sem glória nos últimos tempos, com as ações a caírem de forma progressiva e os resultados financeiros a gritarem por um zero à direita, o Credit Suisse terá vivido ontem um dos dias mais negros da sua centenária história, ao assistir a uma desvalorização recorde de 30% na bolsa de Zurique, depois de o principal acionista, o Banco Nacional Saudita, ter recusado injetar mais capital para segurar as pontas da instituição.
Relacionados
E como “confiança e banca são conceitos que andam de mãos dadas”, defende Filipe Garcia, economista da IMF, a espiral de descrença, que conheceu o seu início na passada sexta-feira, nos Estados Unidos, com o colapso do Silicon Valley Bank (SVB) e posterior encerramento do Signature Bank, não tardou em chegar às praças europeias e, sem exceção, o cenário foi de descida para os bancos, incluindo os do PSI, uma tendência que, diz Henrique Tomé, analista da XTB, “demonstra as preocupações dos investidores sobre o setor”, mas não “em particular sobre os bancos” em causa.
O ambiente já era de receio, mas o economista João Duque esclarece que a falência do credor de startups norte-americano em nada estará relacionada com a crise então espoletada no Credit Suisse. Relativamente à retração dos investidores, o responsável normaliza, alertando que “até os reguladores se pronunciarem e assumirem o compromisso de capitalizar os bancos até onde for necessário, o mercado continuará preocupado” – e a única forma de convencer o comprador, “que está com medo”, a adquirir ações “é baixando o preço”.
Um furo no banco suíço, que é um dos maiores do mundo e tem uma atividade transversal que poucos têm, “provocaria sempre danos, nem que fosse por apenas 48 horas”, comenta o mesmo responsável. Notando a “importância sistémica” do Credit Suisse, também Filipe Garcia diz acreditar que, direta ou indiretamente, a maioria das instituições financeiras tem exposição a este que pertence ao grupo dos “to big to fail”, isto é, demasiado grandes para cair. Mas, será mesmo impossível que o gigante se despenhe e que o seu tombo provoque uma crise como a de 2008? “É uma das consequências possíveis se o banco tiver efetivamente problemas”, atenta o especialista da IMF. Analisando igualmente a hipótese mais catastrófica, também João Duque adverte que, se este for o início de uma reincidência, é sabido que, logo atrás do Credit Suisse, desabarão o alemão Deutsche Bank e todos os grandes bancos.
No entanto, e olhando para a cronologia, os especialistas julgam que uma lição terá sido retirada daquele período e que “os governos, reguladores e supervisores estão hoje dotados de mais ferramentas” para lidar com este tipo de situações. “Hoje, por exemplo, um banco pode sofrer uma intervenção”, aponta Filipe Garcia, explicando que, ao ser tomada tal decisão, o governo e o banco central exigirão “o sacrifício de acionistas e obrigacionistas” – ou seja, estes terão de ter consciência de que, colocando-se esta opção, perderão todo o seu dinheiro. O economista defende que, a haver algum tipo de intervenção no Credit Suisse, será naqueles moldes, “para evitar o contágio ao restante sistema financeiro”.
Subscrever newsletter
Mais cedo do que os analistas esperavam, o banco central Suíço garantiu ajudar financeiramente a instituição liderada por Ulrich Körner, caso seja necessário. O anúncio aconteceu ao final da tarde, depois de se especular que o governo estaria a ser pressionado para intervir o mais rapidamente possível. Extinta a incerteza, voltará o mercado financeiro ao normal ritmo? Filipe Garcia defende que, certamente, “haverá mais condições para os bancos europeus recuperarem”.
Deixe um comentário