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Em plena véspera de mais uma reunião em que o Banco Central Europeu (BCE) se prepara para decretar uma nova subida das taxas diretoras em 50 pontos base, o tombo do Credit Suisse, que registou a maior queda de sempre em bolsa, veio abanar as convicções da instituição liderada por Christine Lagarde de combater a inflação a todo o custo.
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Na reunião desta quinta-feira, o supervisor da banca da Zona Euro estará a ponderar um aumento mais suave das taxas de juro, abaixo dos 50 pontos base, ou mesmo uma travagem.
Até porque os funcionários do BCE já estão a avaliar o grau de exposição dos bancos da Zona Euro à instituição sediada em Zurique, avança esta quarta-feira a Reuters que cita fontes ligadas à supervisão bancária do espaço da moeda única.
Ainda assim, uma das fontes afirmou à agência noticiosa que considerava que as dificuldades financeiras do Credit Suisse eram específicas daquela instituição, ou seja, não representavam riscos sistémicos.
No entanto, as preocupações do BCE afiguram-se agora mais sérias, sobretudo depois de o comissário europeu para a Economia, Paolo Gentiloni, ter desvalorizado a falência do californiano Silicon Valley Bank (SVB), na passada sexta-feira, e o encerramento, por arrasto, do nova-iorquino Signature Bank, no domingo.
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Gentiloni considerou, na passada segunda-feira, que não existia “qualquer contágio direto” para o sistema bancário europeu, afastando “qualquer risco significativo”.
As ações do Credit Suisse estão a cair, esta quarta-feira, 30% na bolsa de Zurique, para um novo mínimo, depois de o Banco Nacional Saudita, o seu principal acionista, ter dito que não daria mais assistência financeira ao banco suíço para fazer face às suas dificuldades.
O tombo da instituição de crédito suíça arrastou todo o setor financeiro europeu, que em sessões recentes já tinha sofrido com o colapso do banco norte-americano Silicon Valley Bank.
Dos principais bancos europeus, a Société Générale descia 9,83 %, o BNP Paribas 8,74% e o ING (Países Baixos) 8,24%.
Perante este cenário, o analista Ricardo Evangelista, da corretora britânica ActivTrades, considera que, neste momento, o sentimento da generalidade dos analistas aponta para uma subida das taxas de juro do BCE de apenas 25 pontos base, ou seja, metade do que estava previsto.
“As notícias de que o principal acionista do Credit Suisse não irá investir mais no banco, depois de terem sido detetadas ‘insuficiências materiais’ nos relatórios de contas dos últimos dois exercícios”, terão contribuído para esta mudança de perspetiva, defende o analista da ActivTrades.
Para além disso, “o colapso do SVB deixou os mercados hipersensíveis a más notícias no setor bancário e este episódio do Credit Suisse ocorre na pior altura possível, gerando novas quedas nas bolsas, sobretudo no setor da banca”, afirma Ricardo Evangelista.
“Levanta-se assim uma vez mais o espetro da instabilidade do sistema financeiro europeu. Neste cenário, o BCE fica com uma escolha difícil, de por um lado cumprir o seu mandato de controlar a inflação, e por outro evitar exacerbar ainda mais a volatilidade nos mercados e contribuir para a instabilidade do sistema financeiro”, conclui.
Em fevereiro, o Banco Central Europeu subiu as taxas de juro de referência na Zona Euro em mais 50 pontos base. Assim, a taxa de juro aplicável às operações principais de refinanciamento passou para 3%, enquanto as taxas de juro aplicáveis à facilidade permanente de cedência de liquidez avançaram para 3,25% e a taxa aplicável à facilidade permanente de depósito foi aumentada para 2,5%.
Na altura, a autoridade monetária liderada por Christine Lagarde disse que iria repetir o incremento em março.
“O Conselho do BCE prosseguirá a trajetória de subida significativa das taxas de juro a um ritmo constante e mantê-las-á em níveis suficientemente restritivos para assegurar um retorno atempado da inflação ao seu objetivo de 2% a médio prazo. Nessa conformidade, o Conselho do BCE decidiu hoje proceder a um aumento de 50 pontos base das três taxas de juro diretoras do BCE, as quais espera continuar a aumentar”, explicou num comunicado divulgado após a reunião de fevereiro passado.
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