//Crédito abranda. Mas no consumo bate máximos de 14 anos

Crédito abranda. Mas no consumo bate máximos de 14 anos

Os avisos já foram feitos pelos supervisores. Mas, apesar de algum abrandamento dos últimos meses na concessão de crédito devido aos travões recomendados pelo Banco de Portugal, os empréstimos para o consumo continuam a bater máximos. Nos primeiros nove meses do ano, as instituições financeiras concederam quase 13 milhões de euros por dia nesse tipo de empréstimos.

Até final de setembro o novo crédito ao consumo totalizou quase 3,5 mil milhões de euros, uma subida de mais de 15% face ao mesmo período do ano anterior. É mais do dobro do que o registado há cinco anos. E é preciso recuar até 2004 para se encontrar um ano em que os bancos tivessem dado mais crédito ao consumo.

A entrada em vigor, no início de julho, das recomendações do Banco de Portugal para a concessão de crédito até terão permitido abrandar o ritmo do novo crédito ao consumo. Em setembro os novos empréstimos foram de 353 milhões de euros, cerca de 50 milhões abaixo do registado no mês anterior e ligeiramente acima do verificado no mesmo mês do ano passado, segundo dados divulgados pelo supervisor esta terça-feira.

A instituição liderada por Carlos Costa quer impedir que sejam atribuídos empréstimos que possam representar mais de metade do rendimento de quem o pede. E pretende também limitar o prazo do crédito ao consumo para um máximo de dez anos. Essas regras até permitiram uma desaceleração. Mas o abrandamento é ainda insuficiente para impedir máximos de 14 anos neste segmento.

No último Relatório de Estabilidade Financeira, divulgado em junho, o Banco de Portugal avisou que o crédito ao consumo estava a ter “um crescimento elevado”. Explicava essa subida com a “melhoria das condições no mercado de trabalho”, o “aumento da confiança dos consumidores para níveis historicamente elevados” e o “crescimento continuado do consumo privado”. Além disso, notou a entrada de novas entidades neste mercado como outro dos fatores a alimentar a subida rápida deste tipo de crédito.

Do lado do governo, a mensagem é também de alerta. O secretário de Estado Adjunto e das Finanças, Ricardo Mourinho Félix, pediu no final de setembro “vigilância” no crédito, em especial no segmento do consumo. E o executivo liderado por António Costa continua a agravar o tratamento fiscal deste tipo de empréstimos. Houve uma manutenção das medidas de desincentivo ao crédito ao consumo, com a proposta do Orçamento do Estado de 2019 a manter o agravamento em 50% das taxas que visam a tributação deste tipo de empréstimos.

Crédito para comprar casa abranda

As limitações recomendadas pelo Banco de Portugal levaram a um abrandamento na concessão de crédito para a compra de casa. Desde que as recomendações entraram em vigor, em julho, que tem existido uma desaceleração em todos os meses. Em setembro, data dos dados divulgados esta terça-feira pelo Banco de Portugal, o novo crédito à habitação foi de 790 milhões. Foram menos 200 milhões que o pico atingido em junho, quando os bancos aceleraram no crédito antes da entrada em vigor das recomendações do regulador.

O supervisor definiu que o montante de um empréstimo não deve em 90% o valor do imóvel que é dado como garantia e que o esforço financeiro das famílias para pagar créditos não ultrapasse, contabilizando já uma eventual subida dos juros, 50% do rendimento da família. Pretende ainda limitar a maturidade máxima dos empréstimos a um prazo de 40 anos e que em 2022 a maturidade média seja de 30 anos.

Apesar do abrandamento dos últimos meses, nos primeiros nove meses do ano foram concedidos quase 7,3 mil milhões para a compra de casa. É o ano com o ritmo mais elevado desde 2010.

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