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O crédito para a compra de casa continua a crescer numa fase em que o mercado imobiliário continua em alta. Em maio os bancos concederam mais de 1,3 mil milhões de euros, segundo dados do Banco de Portugal divulgados esta segunda-feira. Foi o terceiro mês consecutivo em que os novos empréstimos à habitação superaram os mil milhões de euros.
Olhando para o acumulado desde o início do ano, os novos empréstimos à habitação totalizaram 5883 milhões de euros, um valor que não era tão elevado desde 2008, ano em que no mesmo período alcançou os 6603 milhões de euros, de acordo com as contas feitas pelo Dinheiro Vivo.
Uma das razões que explica este crescimento é o aumento das poupanças dos portugueses. Como explicou ao Dinheiro Vivo Filipe Garcia, economista da IMF, “a pandemia atingiu as famílias de forma muito diversa. Muitas delas têm hoje condições financeiras mais vantajosas do que há um ano, devido a poupanças de vária ordem. Todos os indicadores mostram um aumento global de poupança e depósitos. Deste modo, tendo muitas famílias capacidade para uma “entrada” de uma habitação e havendo crédito disponível e relativamente barato, acaba por ser uma decisão compreensível”.
Além disso, atualmente, “as taxas de juro de depósitos e outras aplicações do mesmo âmbito não são atrativas e como não há culturalmente uma apetência por investimentos financeiros, o imobiliário acaba por ser uma alternativa de aplicação”, acrescentou.
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Este aumento dos novos empréstimos à habitação acontece também ao mesmo tempo que os preços no mercado imobiliário residencial continuaram a aumentar, embora a um ritmo mais lento. No primeiro trimestre de 2021, o valor das casas cresceu 5,2% face ao ano anterior, segundo dados do INE. Razão pela qual Filipe Garcia relembra que “mesmo se o número de operações fosse o mesmo, os montantes concedidos seriam mais altos”.
Apesar de estarem a conceder mais crédito para a compra de casa, os bancos não aparentam estar a tomar risco excessivo, segundo o Banco de Portugal. No Relatório de Estabilidade Financeira de junho, o supervisor bancário referiu que “uma potencial deterioração das condições de financiamento internacionais poderá traduzir-se na retração da procura de imóveis por não residentes”. No entanto, garantiu que “a ocorrer, uma correção dos preços em Portugal tenderá a ser mitigada pela redução nos últimos anos do rácio de endividamento das famílias, para todos os níveis de rendimento e pela melhoria do perfil de risco dos mutuários, seguindo a recomendação macroprudencial relativa a novos créditos ao consumo e à habitação”.
Mesmo com o novo crédito a acelerar, têm existido amortizações de empréstimos significativas, uma vez que o stock [o valor total do crédito à habitação dos bancos] subiu a um ritmo mais lento que o dos novos empréstimos. Aumentou cerca de 1,7 mil milhões nos primeiros cinco meses do ano para 96,67 mil milhões de euros.
Filipe Garcia relembrou que “os bancos têm de fazer negócio e assumir risco faz parte. Em todo o caso, não me parece que os bancos corram um risco muito relevante dado que não estão, em média, a emprestar a 100% e ficam com o imóvel como colateral num mercado que está quente, mas não em preços demasiadamente especulativos na maioria dos casos”, detalhou. Questionado sobre se esta tendência da aceleração dos novos empréstimos para comprar casa pode fazer sobreaquecer ainda mais o mercado imobiliário, o economista respondeu que tendo em conta os dados a que tem tido acesso, neste momento notam-se no mercado imobiliário três tendências: descida nas rendas, manutenção na compra de usados e subida nos novos. Tendo em conta este quadro, admite “que, se o mercado continuar a aquecer, o usado possa novamente voltar a subir de preços”.
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