A taxa de juro dos empréstimos à habitação em Portugal é 47% mais alta do que a média da zona euro. E tem vindo a subir no último ano, em sentido contrário ao verificado na média dos restantes países da moeda única. A taxa anual de encargos efetiva global (TAEG) dos novos empréstimos à habitação em Portugal situava-se, em agosto deste ano, nos 2,7%, segundo dados do Banco Central Europeu (BCE).
É um aumento de 79 pontos-base face à TAEG registada um ano antes. Na zona euro, a taxa média fixou-se nos 1,84%, menos 27 pontos-base do que em agosto de 2018. Esta taxa reflete os encargos com juros e ainda outros encargos inerentes ao empréstimo à habitação. Também a taxa acordada anualizada, que apenas cobre os pagamentos de juros, tem vindo a aumentar, atingindo em agosto 2,34%, nada menos de 56% acima dos 1,5% de média da zona euro.
“Não há muito a dizer, apenas que não é de estranhar que tal aconteça porque deriva das condições a que os bancos nacionais acedem a crédito nos mercados internacionais e que, à semelhança do que acontece com o país nas emissões de dívida soberana, pagam taxas mais altas devido a uma maior perceção de risco”, considera Nuno Rico, economista da Deco – Associação para a Defesa do Consumidor.
“Por outro lado, as dificuldades financeiras que as instituições bancárias atravessaram durante a crise, e que algumas ainda vão sentindo, obrigam a que tenham menos espaço para diminuir receitas, entre as quais a margem financeira. Além disso, o mercado nacional é também de menor dimensão, o que acaba por limitar de alguma forma a concorrência”, adiantou.
Outro fenómeno que se tem registado é a maior procura por contratos a taxa mista, com uma TAEG mais alta. Este tipo de empréstimos representava 3,8% do saldo em dívida no final de 2017 e 5% um ano depois. Segundo o Banco de Portugal, “para esta evolução contribuiu não só o aumento da contratação a taxa mista verificado nos últimos anos, mas também a redução mais acentuada do número de contratos a taxa variável vivos em carteira”.
Com as taxas Euribor em terreno negativo, os bancos têm tentado vender empréstimos a taxa fixa ou mista.
O mercado do crédito à habitação é muito apetecível para a banca, que tem sede de receitas e vê nos empréstimos uma forma de engordar a margem financeira. Os bancos emprestaram quase mil milhões de euros para a compra de casa em julho, mais 14% do que no mês anterior. É o valor mais alto em um ano.
No custo dos empréstimos à habitação na zona euro, Portugal fica bem acima de países como a Alemanha ou a vizinha Espanha. O custo com o crédito à habitação na Alemanha situava-se em agosto nos 1,4%, abaixo da média da zona euro. Em Espanha o custo é de 2,19%.
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