Corretoras resistem – para já
As maiores corretoras de criptomoedas mundiais, para já, não parecem inclinadas a bloquear os seus serviços na Rússia. Mas a pressão está a aumentar, dado o papel essencial na cadeia de compra: como há muito poucos serviços ainda por todo o mundo que aceitam pagamento direto com criptomoedas, a maioria das aquisições são – quase sempre – intermediadas por corretoras.
O CEO da Kraken, Jesse Powel, disse na semana passada que não irá bloquear nenhum serviço, a não ser que seja obrigado. “A nossa missão é (…) trazer as pessoas para o universo da criptoeconomia, onde as linhas arbitrárias nos mapas já não importam, onde não têm de se preocupar em ser apanhados numa confiscação ampla e indiscriminada de riqueza”, escreveu numa publicação no Twitter.
Por sua vez, a Binance, a maior corretora mundial, anunciou em comunicado que não ia “unilateralmente congelar milhões de contas de utilizadores inocentes”, pois tal iria “diretamente contra a razão pela qual existem” as criptomoedas. Dias depois, contudo, tomou uma medida: bloquear as contas dos oficiais russos cujos nomes constem da lista dos oligarcas e políticos sancionados pelos Estados Unidos e União Europeia.
Pedro Borges, co-fundador e CEO da Criptoloja – a primeira corretora de criptomoedas em Portugal –, diz à Renascença entender a “preocupação” europeia, mas defende que a utilização de moedas como a bitcoin para contornar as sanções internacionais não terá um efeito “mensurável ou sequer decisivo”.
As criptomoedas podem ser “trocadas, enviadas, entre carteiras e endereços” – que não têm titularidade -, mas, nalgum ponto, terão de ser “transformadas em moeda fiduciária”. E aí entram sempre as corretoras, onde os titulares de conta são conhecidos das empresas. “Hoje em dia, é de alguma forma fácil e está relativamente acessível aos Estados saber os pontos, os gateways onde que posso transformar cripto em moeda fiduciária. Portanto, esse rastreamento pode ser feito”, explica.
Dito isto, para Pedro há sinais que o criptoguerra está mesmo a acontecer. Sinais que lhe vieram bater à porta – literalmente.
Só numa semana, 15 cidadãos ucranianos abriram conta na Criptoloja: um número significativo, tendo em conta que antes existiam apenas dois. “Não lhe sei dizer o porquê, as pessoas abrem as contas online, etc. Mas seguramente algo se está a passar.” Aconteceu também aparecer uma mãe portuguesa que tem uma filha emigrada na Rússia e para quem não estava a conseguir enviar dinheiro. “Veio abrir conta, comprou uma criptomoeda para enviar para filha. Não tinha forma nenhuma de enviar valor.”
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