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Este ano é um ano para esquecer para muitas empresas cotadas em Lisboa. As medidas adotadas pelo Governo no âmbito da epidemia do novo coronavírus criaram uma das maiores crises económicas de sempre. Os impactos sociais também são visíveis, incluindo no aumento do desemprego. No total, a crise tirou 6.800 milhões de euros ao índice principal da bolsa portuguesa, o PSI20, que acumula uma queda de 10% desde janeiro, que contrasta com a perda de 5,3% do índice europeu Stoxx 600. A descida só não é maior porque o mês de novembro registou ganhos recorde. O índice português disparou 17% nesse mês. “A tendência do mercado é de alta no curto/médio prazo e o último mês do ano habitualmente é de alguma consolidação dos ganhos, mas a liquidez deverá permanecer baixa na época natalícia”, diz Paulo Rosa, economista e corretor sénior do Banco Carregosa.
Os investidores ficaram animados com a esperança de que vai haver uma diminuição das medidas restritivas que têm sido adotadas pela maioria dos países, e que têm provocado uma quebra forte no consumo e afetado alguns setores de atividade de forma agressiva.
O fim da incerteza em torno das eleições nos EUA e o progresso anunciado por farmacêuticas no desenvolvimento de vacinas para o novo coronavírus animou os mercados, que aguardavam com ansiedade pelo fim das medidas da maioria dos governos. Ao contrário de países como a Suécia, onde a atividade económica decorre com normalidade, a maioria dos restantes países optaram por medidas penalizadoras para a economia, como o confinamento forçado da população e restrições severas das deslocações e viagens. O Governo português tem implementado a estratégia seguida pelos pares europeus, e prevê uma recessão da economia de 8,5% em 2020. O Fundo Monetário Internacional acredita que a contração do Produto Interno Bruto português chegue aos 10% este ano.
Mas a expectativa é de uma recuperação económica já em 2021, o que deverá refletir também em valorizações nas bolsas. “A vacina, as taxas de juro baixas e os estímulos monetários e fiscais – que deverão ser aprovados pelo congresso dos EUA, pela Reserva Federal norte-americana e pelas União Europeia e Banco Central Europeu – poderão suportar ganhos das bolsas em 2021, depois de um ano atípico de 2020”, diz o mesmo economista.
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“As bolsas estão muito otimistas. Em dezembro devemos assistir ao anúncio de mais estímulos pelos bancos centrais”, disse Filipe Garcia, economista da IMF-Informação de Mercados Financeiros.
Vencedores e vencidos
O setor da banca tem sido dos mais afetados pela crise económica. O Millennium bcp perdeu 40% do seu valor em bolsa desde janeiro deste ano. Vale agora 1,8 mil milhões de euros, menos 1,2 mil milhões do que no final de 2019. Também as empresas ligadas ao setor do retalho e restauração estão entre as que têm desvalorizado. A Sonae, dona do Continente e da Worten, desvalorizou 25% desde o início do ano e regista uma capitalização bolsista de 1,3 mil milhões de euros. A Jerónimo Martins, dona do Pingo Doce, perdeu 3,4% em bolsa este ano e vale agora 8,9 mil milhões de euros. A NOS vale agora menos 32% e a Galp Energia perdeu 34% do seu valor no mercado.
Pela positiva, a EDP valorizou 22% e segue com um valor em bolsa de 18,3 mil milhões de euros. A EDP Renováveis disparou 70% neste ano. Vale agora 15,66 mil milhões de euros em bolsa. “São estas duas empresas que têm impedido o PSI20 de ir mais para negativo em 2020”, considera Filipe Garcia.
“As ações mais penalizadas pelo distanciamento social e as empresas cíclicas podem registar recuperação em 2021. As empresas exportadoras também podem capitalizar se os níveis de globalização regressarem a níveis pré-covid”, aponta Paulo Rosa. “A energia, nomeadamente o setor petrolífero, poderá recuperar se a procura de petróleo e o preço do ouro negro continuarem suportados como no último mês”, adianta. Também as empresas ligadas a energias renováveis deverão continuar a ser favorecidas.
Mas há riscos para um cenário mais cor-de-rosa em 2021. “Há vários analistas otimistas demais em relação à recuperação económica em 2021”, defende Filipe Garcia. “Os grandes riscos em 2021 serão: Ineficácia da vacina, aparecimento de inflação acima do indesejável e fraco crescimento económico com desemprego associado”, alertou o economista do Banco Carregosa. No caso do setor da banca, é esperado um aumento do crédito malparado com o chegar do fim do prazo de vigência das moratórias no crédito. Se as medidas mais restritivas do Governo se mantiverem até à Primavera, também haverá um impacto no consumo e na generalidade da atividade económica.
Sendo o PSI20 influenciado por menos de meia dúzia de pesos-pesados, a evolução das grandes cotadas em Lisboa vai determinar a evolução do índice. “O PSI20 tem quatro ou cinco componentes principais. Ainda agora perdeu mais uma componente (Sonae Capital)”, lembrou Filipe Garcia. “Os investidores não gostaram da saída da Sonae Capital”, adiantou. A empresa saiu de bolsa na sequência de uma Oferta Pública de Aquisição lançada pela holding da família Azevedo, a Efanor. Só no final deste ano se deverá saber qual a empresa que integrará o índice bolsista português.
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