Partilhareste artigo
Os encargos com a habitação dispararam 45% nos últimos sete anos, pesando atualmente 39,1% no orçamento das famílias portuguesas, segundo o Inquérito às Despesas das Famílias, divulgado ontem pelo Instituto Nacional de Estatística (INE). Em termos nominais, e considerando que a despesa média anual apurada dos agregados no biénio 2022/23 foi de 24 190 euros, traduz-se isto em 9452 euros, bem como num acréscimo de 2951 euros face aos custos de 6501 euros registados em 2015/16.
Relacionados
Em concreto, o crescimento observado neste período foi de 7,2 pontos percentuais (p.p.) e explica-se essencialmente pelo aumento das rendas e da inflação, já que a subida verificada foi superior à que “teria ocorrido se a despesa média das famílias com a habitação tivesse aumentado à taxa de crescimento do índice de preços no consumidor”, que se fixou nos 16,2% entre dezembro de 2015 e dezembro de 2022, de acordo com o INE.
No conjunto “habitação, água, eletricidade, gás e outros combustíveis”, que totaliza os supramencionados 9452 euros, são as rendas subjetivas, isto é, aquelas que as próprias famílias estimam pagar, a rubrica que mais contribuiu para o agravamento dos encargos, representando 27,4% (6626 euros) do orçamento global, uma subida de 7,3 p.p. em relação aos 20,1% (4083 euros) de há sete anos. Contas feitas, são agora mais 2543 euros.
As rendas efetivas, por seu turno, passaram de um valor médio de 520 euros e de um peso de 2,6%, para 786 euros e 3,2%, reforçando o respetivo contributo – o terceiro maior – em 0,7 p.p.. Já a eletricidade, o gás e outros combustíveis mantém-se como o segundo grupo de despesa com maior relevância, embora com perda de importância absoluta e relativa face ao período em comparação, apresentando quase menos 100 euros e um contributo menor, de 1,4 p.p., para os encargos totais.
Os dois restantes grupos (abastecimento de água e serviços diversos relacionados com a habitação e manutenção, reparação e segurança das habitações), mostram os dados do INE, não apresentaram oscilações significativas.
Subscrever newsletter
Encargos com alimentação diminuem
Se os custos com a habitação aumentaram, os encargos com a alimentação, vestuário e calçado, em contrapartida, perderam relevância na estrutura da despesa familiar – fenómeno que se estendeu, embora em menor escala, também à categoria dos transportes e dos acessórios, equipamentos e manutenção associados à casa, faz saber o instituto de estatística. No entanto, embora os produtos alimentares e bebidas não alcoólicas tenham reduzido o seu peso no orçamento total ao longo dos sete anos, passando de 14,3% para 12,9%, em valor absoluto os encargos aumentaram em 205 euros.
Ora, daquela que foi a despesa média dos agregados no mais recente biénio – 24 190 euros -, cerca de dois terços correspondem a encargos associados à habitação (39,1% ou 9452 euros), à alimentação (12,9% ou 3119 euros) e aos transportes (12,4% ou 3001 euros). A categoria dos restaurantes e alojamentos assumiu a quarta posição da lista, representando 8,6% da despesa, ou seja, cerca de 2071 euros – um contributo relevante -, enquanto os serviços de educação foram a última rubrica de consumo, pesando apenas 1,3% no orçamento das famílias (324 euros), sendo ultrapassada pelo grupo das bebidas alcoólicas, tabaco e narcóticos (1,6%).
A despesa média anual, não obstante, não foi homogénea pelo país. Uma análise por regiões revela que o consumo foi mais elevado, face ao nacional, na região Norte (25 057 euros), na Área Metropolitana de Lisboa (24 491 euros) e na Região Autónoma da Madeira (24 363 euros), e mais baixo na Região Autónoma dos Açores (20 439 euros), onde se registou um perfil de consumo mais disperso – enquanto ao nível nacional os transportes pesaram 12,4%, por exemplo, neste arquipélago representaram 15%.
Famílias com crianças gastam mais 8861 euros por ano
O Inquérito às Despesas das Famílias de 2022/23 concluiu ainda que os agregados com dependentes a cargo gastam, em média, 30 700 euros por ano, mais 8861 euros do que as famílias sem dependentes, que têm uma despesa média de 21 839 euros. Distribuindo de janeiro a dezembro, representa isto um acréscimo mensal de 738 euros.
O INE explica que, para a diferença entre agregados com e sem crianças, contribuíram sobretudo os encargos com transportes e com habitação, cuja diferença, entre os dois tipos de agregados familiares, superou, em ambos os casos, os 100 euros mensais. “A presença de crianças dependentes nos agregados familiares gerou também uma despesa superior em alimentação, em restauração e alojamento e em educação: mais 85, mais 79 e mais 62 euros mensais, em média, respetivamente”, é referido.
Em termos de estrutura da despesa média do agregado familiar, destacam-se, quando existem crianças dependentes, os pesos mais elevados dos encargos com transportes (mais 3,2 p.p.) e com educação (mais 2,2 p.p.) e, pelo contrário, a importância relativa menor da despesa com habitação ( menos 7,9 p.p.).
Deixe um comentário