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Os promotores imobiliários estão a travar os investimentos em novos projetos habitacionais, apesar do mercado ter absorvido no ano passado mais de 190 mil casas, num volume de transações da ordem dos 30 mil milhões de euros, recordes absolutos no setor. Em 2021, o número de empreendimentos residenciais submetidos a licenciamento em Portugal Continental fixou-se nos 16 306, uma quebra de 18% face ao ano anterior. E o número de fogos caiu 19%, para 37 428, segundo revelam os dados disponibilizados pela Confidencial Imobiliário.
O aumento dos custos da construção e a morosidade dos processos de licenciamento parecem ser os principais entraves que estão a refrear os investidores, já que o mercado não perdeu dinamismo nestes anos de pandemia. O país continua a debater-se com escassez de oferta e elevada procura, sustentando a trajetória ascendente dos preços da habitação.
Nas duas principais cidades do país há uma nítida perda de interesse por parte dos promotores. Os números não deixam margem para dúvidas. No ano passado, entraram 212 projetos residenciais na Câmara de Lisboa, que englobam um total de 2522 fogos. Estes números traduzem uma quebra face a 2020 de 47% e de 32% respetivamente. No Porto, a realidade é semelhante. Na autarquia da Invicta, foram submetidos a licenciamento 256 projetos em 2021, menos 46% do que no ano transato, a que correspondem 2148 unidades habitacionais, traduzindo uma quebra de 36%. Em ambos os concelhos, destaca-se a aposta na tipologia T1 (em Lisboa, representam 930 do total de fogos; no Porto, são 908).
Para Ricardo Guimarães, diretor da Confidencial Imobiliário, “a quebra na promoção residencial em 2021, face a um contexto de acréscimo da procura e de subida de preços, reflete provavelmente as dificuldades no desenvolvimento de nova oferta”. Até porque, frisa, “não há uma contração das vendas nem dos preços que pudesse justificar uma travagem da oferta por receio da capacidade de absorção da procura”.
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Certo é que no último inquérito da consultora junto dos promotores imobiliários, os principais obstáculos apontados ao lançamento de novos projetos foram “os entraves burocráticos, especialmente o tempo que demoram os licenciamentos, bem como o aumento dos custos de construção”. A morosidade na aprovação dos projetos e a burocracia associada são queixas recorrentes dos operadores do setor, a que se soma desde o início do ano passado a escalada dos preços dos materiais de construção e do custo da mão-de-obra, variáveis que fazem elevar o preço dos projetos e, por consequência, das casas.
E nem as periferias das duas grandes cidades do país escapam ao travão dos promotores. A quebra nos pedidos de licenciamento não é tão expressiva nas duas áreas metropolitanas, mas não impede de se verificar que nem esses concelhos estão a atrair os investidores. Ainda assim, e como nota Ricardo Guimarães, estão a ganhar quota às suas “capitais”. Em 2020, Lisboa gerou 32% dos fogos da Área Metropolitana de Lisboa (AML) e, em 2021, a sua quota foi de 27%. No Porto, a representatividade caiu de 39% para 28%, aponta o responsável.
As autarquias que constituem a AML somaram um total de 3766 projetos, que integram 9297 fogos, traduzindo decréscimos de 7% e de 21% face a 2020, revelam os números da consultora, que têm por base os pré-certificados energéticos emitidos pela ADENE, obrigatórios nos processos de licenciamento municipal. Na Área Metropolitana do Porto (AMP,) contabilizou-se a entrada de 1497 processos, englobando 7685 fogos, menos 26% e 11%, respetivamente. Nestes territórios, os promotores estão a concentrar os empreendimentos nas tipologias T2 e superiores.
Sempre a subir
Este declínio no investimento residencial poderá impulsionar a subida dos preços das casas no país, tendo em conta que dessa forma não se dilui a linha entre a escassez de oferta e a elevada procura. Um problema que se agudiza ainda mais para as famílias portuguesas. É que se muitas esperavam que a pandemia provocasse uma quebra no ritmo de valorização da habitação no país ou, pelo menos, uma estagnação, isso não se veio a comprovar.
No terceiro trimestre de 2021, o preço mediano das casas em Portugal atingiu os 1311 euros por metro quadrado, uma subida homóloga de 12,2%, divulgou na semana passada o Instituto Nacional de Estatística. Lisboa apresentou um crescimento de 12,8%, para 3 592 €/m2. Já no Porto, o preço chegou aos 2319 euros entre julho e setembro, uma subida de 3,9%. E se ainda não há dados oficiais para a globalidade do ano de 2021, a Confidencial Imobiliário aponta que os preços das casas em Portugal Continental somaram um aumento de 12,2%, atingindo um valor médio de 1822 €/m2. Na capital, o incremento foi de 11,7%, para 3973 €/m2. No Porto, cresceu 10,3%, para 2687 €/m2.
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