Entre os maiores consumidores, a Europa ainda é a mais resistente, mas já são visíveis cedências. A própria União Europeia já declarou os investimentos em energia nuclear como favoráveis ao clima, o que permite libertar financiamento público e privado para novos projetos na área.
Neste momento, há apenas algumas centrais nucleares em construção, mas França já tem planos para avançar com “14 novos reatores até 2050”, pelo menos. O governo francês está em negociações com o grupo Eletricite de France SA, para gerir o maior operador nuclear da Europa.
A Alemanha, que está a sofrer o maior impacto com a redução do fornecimento do gás russo, deverá prolongar a atividade das três centrais nucleares do país.
Já depois da invasão da Ucrânia, a Bélgica chegou a um princípio de acordo com o grupo francês Engie para explorar por mais 10 anos a central nuclear.
No Reino Unido, o governo deu luz verde em julho para a construção de uma nova central nuclear, no sudeste de Inglaterra. Será o segundo projeto novo em duas décadas. A empresa conta que até 2023 fique fechada a questão do financiamento.
Ásia: a mais necessitada
Alvos de crises sucessivas, a Europa e os Estados Unidos vão precisar de algum tempo para recuperar. Segundo a consultora Mackenzie, “Cerca de 80% do crescimento da procura de energia nos próximos anos será na Ásia, dada a deterioração económica na Europa e nos EUA”.
Esta necessidade deverá relançar o nuclear. Esta energia viveu anos dourados após a crise do petróleo, na década de 1970. Agora o nuclear tem mais obstáculos para ultrapassar, tem de enfrentar a oposição de políticos e organizações ambientalistas e não-governamentais, além da segurança e do financiamento.
Mesmo assim, Alex Whitworth, chefe de energia e pesquisa renovável na Ásia da consultoria Wood Mackenzie, acredita que “se os preços dos combustíveis fósseis permanecerem altos por um período de três a quatro anos, isso seria suficiente para lançar uma era de ouro do desenvolvimento nuclear, especialmente na Ásia, porque é onde eles são mais sensíveis ao preço e porque há mais necessidade”.
A Agência Internacional de Energia (AIE) também defendeu, no último mês, que o mundo precisa desta resposta. Segundo a AIE, a capacidade nuclear global tem de duplicar até 2050 para se atingirem metas líquidas de zero, para alimentar veículos elétricos e produzir combustíveis não fósseis, como hidrogénio e amónia, para reduzir as emissões da indústria pesada.
Na Ásia-Pacifico, os novos líderes já estão a preparar-se para as necessidades energéticas a curto prazo. Uma mudança que não fica limitada ao governo.
Segundo Paul Stein, presidente da Rolls-Royce SMR, uma unidade da Rolls-Royce, “novas tecnologias, como pequenos reatores modulares (SMR), mais rápidos de construir e menos onerosos do que as unidades convencionais, estão a ser discutidas em Singapura, nas Filipinas e no Japão”.
“As economias fortemente industrializadas do Extremo Oriente precisam tanto, talvez ainda mais, de um rápido aumento da energia nuclear, tanto quanto a Europa industrializada e os Estados Unidos”, acrescentou Paul Stein.
Do ponto de vista do custo, em média, a eletricidade gerada pelo nuclear fica a menos de metade do preço, se comparada com a eletricidade produzida com gás natural e fica em linha com o carvão.
Argumentos que alimentam os novos projectos, em construção desde 2017, de reatores chineses e russos. As sanções a Moscovo, após a invasão à Ucrânia, atrasaram mas não travaram as operações.
A atrapalhar estes empreendimentos estão também as questões da segurança. O desastre na central japonesa Fukushima obriga a revisões adicionais de segurança, o que tem implicado custos adicionais, acrescidos com a pandemia.
Exemplo disso, o projecto Hinkley Point C da EDF, em construção no Reino Unido, que vai começar a gerar energia com uma década de atraso e um rombo no orçamento inicial. Nos EUA, dois reatores já acumulam um atraso de seis anos e os custos duplicaram.
EUA: entre o passado e o futuro
Seis mil milhões de dólares. Foi o valor aprovado no último ano pelo Presidente norte-americano, Joe Biden, só num programa para apoiar o setor nuclear, o “Civil Nuclear Credit”. Não impediu o fecho da central do Michigan, mas pode ir a tempo de manter “Diablo Canyon”, na Califórnia.
Os EUA têm mais reatores do que qualquer outro país, mas têm vindo a perder unidades, devido aos custos de segurança e à competição com as renováveis e o gás natural. Em dez anos, passaram de 104 reatores para 92, segundo a Reuters.
No final de julho foi anunciado um acordo no Senado que pode ajudar a manter as antigas centrais e construir novos reatores, mais avançados. O objetivo é produzir eletricidade com “emissão zero” e combustível para os reatores nucleares, que é normalmente importado da Rússia. Esta é agora uma decisão política e passa pelo congresso.
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