//Deloitte na mira da CMVM pela atuação na CGD

Deloitte na mira da CMVM pela atuação na CGD

A Deloitte foi a auditora da Caixa Geral de Depósitos desde 2002 até 2016. Assinou as contas do banco público durante quase todo o período analisado pela auditoria especial da EY e que identificou perdas de 1,2 mil milhões de euros em créditos de risco e com irregularidades. E a sua atuação na auditoria ao banco público, desde 2008, está a ser acompanhada pela Comissão do Mercado de Valores Mobiliários (CMVM).

Entre 2007 e 2016, datas em que estes dados estão disponíveis nos relatórios da CGD, a Deloitte recebeu 37,5 milhões de euros do banco público em troca de serviços de auditoria e de revisão de contas. O valor inclui ainda outros serviços que lhe foram adjudicados por “deter um maior conhecimento do Grupo CGD que lhe confere uma abordagem mais vantajosa em termos de prazos de implementação”.

A CMVM só é a responsável pela supervisão das auditoras desde 2016. Mas Gabriela Figueiredo Dias disse nesta semana, num encontro com jornalistas, que o regulador que lidera “tem competências” para avaliar a atuação das auditoras desde 2008. Entre esse ano e 2016, a vigilância às auditoras era feita pelo antigo Conselho Nacional de Supervisão de Auditoria.

O supervisor do mercado de capitais tinha assento nessa entidade, o que lhe dá poderes para avaliar a função de auditoria desde 2008. Antes desse ano, reconhece a líder da CMVM, dificilmente poderá existir um apuramento de responsabilidades. “Pode ter impacto nas idoneidades, mas esta fase estará diluída no tempo”, disse Gabriela Figueiredo Dias.

Mas a presidente do supervisor avisou que “posteriormente a 2008 será diferente e aí teremos outro tipo de abordagem possível”. No entanto, o regulador do mercado de capitais ainda não solicitou acesso à auditoria especial da EY ao banco público. Mas garante que está a fazer “um acompanhamento atento e cuidadoso”.

A Deloitte não detetou as irregularidades nas políticas de concessão de crédito enunciadas na versão preliminar da auditoria da EY aos atos de gestão na CGD entre 2000 e 2015.

Neste documento, divulgado pela comentadora Joana Amaral Dias na CMTV, foram identificadas operações aprovadas com parecer de análise de risco desfavorável, sem a exigência de garantias reais em situações de maior risco, sem estudos de viabilidade e sem pareceres técnicos da direção de risco.

Perdas de 1,2 mil milhões

Nos empréstimos mais problemáticos, o banco público assumiu perdas de 1,2 mil milhões de euros. Entre os maiores prejuízos estiveram financiamentos concedidos à Artlant e a acionistas da La Seda, a Joe Berardo, a Manuel Fino, à AE Douro Litoral, à Opway e a Vale do Lobo.

O Dinheiro Vivo questionou a Deloitte sobre se fez ênfase às contas ou alertas sobre eventuais irregularidades, mas não obteve esclarecimentos da auditora até à hora de fecho desta edição.

A atual auditora da CGD é a EY, que acumulou essa função com a da análise especial e independente da gestão do banco público. A CMVM diz estar também a acompanhar essa situação e que, se houver necessidade de intervir, irá fazê-lo. Faria de Oliveira, antigo presidente da CGD, disse ao Jornal Económico que o documento contém “erros graves”, apontando falhas como as datas em que liderou do banco público.

Apesar das conclusões do relatório preliminar, a EY disse à Lusa responsabilizar-se apenas pelo relatório final da auditoria, emitido em junho de 2018. A versão preliminar tem data de dezembro de 2017.

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