Já na semana passada, numa call com analistas após a apresentação de resultados dos primeiros nove meses de 2019, o CEO da EDP, António Mexia, tinha avançado que, além das barragens do Douro que já estão na mira de compradores como a Iberdrola, Engie, Verbund, Statkraft e ainda de um fundo de investimento, “outras opções alternativas ou complementares, também na Península Ibérica, então a ser consideradas e avaliadas”, sem entrar em mais detalhes.
Ou seja, tendo em conta a forte procura e o apetite pelos ativos que a EDP já colocou à venda para diminuir a sua exposição ao mercado ibérico (que entre janeiro e setembro de 2019 valeu prejuízos milionários à empresa), Mexia aproveitou esta quarta-feira o palco da Web Summit para desenvolver o assunto.
“Compradores para os ativos há sempre muitos. Há alternativas a serem estudadas neste momento. Há outros ativos em Espanha e outros ativos em Portugal. Não há planeta B, mas há planos B”, afirmou aos jornalistas à margem do evento tecnológico, citado pelo Eco e pelo Jornal Económico. Questionado sobre se o valor das ofertas poderão levá-lo a desistir da venda, respondeu: “Não é esse o risco. Longe disso”, disse depois de ter sido entrevistado por uma jornalista do Wall Street Journal no painel “Reshaping Business to Save the Planet”.
Aos analistas, na semana passada, Mexia sublinhou os “fracos recursos hídricos” este ano, com uma queda de 47% na produção hídrica da EDP na Península Ibérica nos primeiros nove meses do ano, por comparação com o período homólogo (e 39% abaixo da média histórica para Portugal).
Por causa disso já está em marcha o processo de venda de ativos hidroelétricos (barragens no Douro com uma capacidade de cerca de 1,7 GW) em Portugal cujo “progresso se mantém sem mudanças”, disse Mexia aos analistas. “Continuamos confiantes que o projeto fique concluído até ao fim de 2020”, acrescentou ainda, revelando que “ao nível do Governo português e de Bruxelas está tudo a correr de forma normal”.
Com a venda das barragens a EDP espera encaixar dois mil milhões de euros. “Está a decorrer o processo de diligências por parte de um grupo selecionado de partes interessadas com vista à entrega de ofertas vinculativas até ao final de 2019”, refere a apresentação da EDP aos analistas.
“Neste momento a EDP tem um conjunto de cinco potenciais compradores, onde está incluída a Iberdrola. Tivemos já reuniões com a Engie, com a Verbund, com a Statkraft e com um fundo. Há vários interessados no portfólio e há valor nestes ativos”, confirmou recentemente ao Dinheiro Vivo Berto Martins, diretor de Mercados da área de Trading da EDP, durante uma conferência da APREN.
“Sei que temos nos nossos resultados muitas parcelas pequenas na Ibéria e em Portugal, mas também sabemos que somos uma empresa muito competitiva em novos mercados, como os Estados Unidos, o Brasil e agora a Coreia do Sul. Controlamos o nosso destino e temos de encontrar um equilíbrio”, rematou Mexia.
Na Web Summit, Mexia repetiu aos jornalistas que “o processo está a decorrer normalmente. Temos um plano com várias soluções alternativas para vender dois mil milhões de euros na Península Ibérica. Há várias soluções alternativas. Esta é uma delas, que penso que faz sentido para que Portugal possa ter mais operadores, o que penso que é positivo. Se for essa a alternativa escolhida, estará concluído até ao final do ano”, disse o gestor, citado pelo Eco, garantindo que o comprador ainda não está escolhido.
“Há um enorme conjunto de investidores no mundo que procura rentabilidades que para nós são adequadas enquanto vendedores”, rematou.
Com Portugal a registar prejuízos de 33 milhões de euros nos primeiros nove meses de 2019, um agravamento face aos 25 milhões de prejuízos já reportados no período homólogo, e com Espanha a perder também 26 milhões de euros nos últimos três trimestres, face a 2018, o CEO da EDP, António Mexia confirmou a intenção do grupo em “reduzir a exposição ao mercado ibérico
Antecipando os resultados anuais de 2019, Mexia espera que a rotação de ativos fique concluída no Brasil no último trimestre e um resultado histórico na área das renováveis. O EBITDA recorrente deve fechar o ano a rondar os 3,6 mil milhões de euros e os lucros recorrentes deverão fixar-se em 800 milhões.
Sobre a parceria firmada este ano com a francesa Engie para criar uma joint-venture no eólico offshore, fixo e flutuante, António Mexia, citado pelo Jornal Económico, revelou que “este processo, nomeadamente o offshore nos Estados Unidos, vem dar uma credibilidade e um ânimo adicional a esta parceria. Ninguém quer controlar o offshore sozinho pelas suas características ou escalas dos projetos. Em conjunto permite mais projetos ao mesmo tempo para diversificar o risco”
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