//Depois do BES “supervisão curva-se menos perante sensações de poder”

Depois do BES “supervisão curva-se menos perante sensações de poder”

Uma década depois da queda do BES, que se assinala no dia 3 de agosto, o CEO do BPI diz que o setor mudou. “Somos menos banqueiros e mais bancários”, diz. Enquanto isso, a supervisão “está mais próxima, mais intrusiva e curva-se menos perante sensações de poder que possam existir”. João Oliveira e Costa acrescenta ainda que “as regras de supervisão são hoje mais eficazes e os agentes de supervisão estão mais preparados”. “Temos um ambiente regulatório muito robusto, dos mais robustos do mundo”.

São declarações durante a apresentação dos resultados do BPI, que no primeiro semestre registou uma subida de 29% dos lucros, para 327 milhões de euros, face ao período homólogo. João Oliveira e Costa admite que superaram as expectativas, graças a “um comportamento a nível comercial melhor” do que antecipavam e à evolução dos juros.

Só na operação em Portugal o banco atingiu 268 milhões, mais 35% que no primeiro semestre do ano anterior.

A margem financeira, a diferença entre os juros cobrados nos créditos e os juros pagos nos depósitos, cresceu 13% para 491 milhões de euros. Ainda assim, o BPI diz que o pico já foi atingido no final do ano passado. “Já se nota um retorno a uma certa normalidade da margem financeira, antecipamos que a tendência irá manter-se no resto do ano e em 2025”, diz o CEO.

As comissões subiram 14% nos primeiros seis meses deste ano, para 168 milhões, devido “à liquidação antecipada da participação em resultados de apólices de seguros comercializadas em anos anteriores”, segundo o banco.

O crédito total aumentou 1%, assim como o crédito à habitação, já os empréstimos para empresas subiram 2%.

Os depósitos também continuam a crescer, registaram um aumento de 4% e o banco diz que já superou as perdas registadas com a fuga para os Certificados de Aforro.

Segundo João Oliveira e Costa, “os resultados vão ficar mais perto do ano anterior, e não abaixo como esperávamos”.

Garantia pública no crédito à habitação “terá efeito relativamente reduzido

A taxa de esforço vai restringir o acesso à garantia pública para a compra da primeira habitação por jovens até aos 35 anos, alerta o presidente do BPI. Na prática, a medida deverá ter um efeito relativamente reduzido.

“Penso que a ideia é positiva, o problema é que, como não há casas, penso que a medida terá um efeito relativamente reduzido“, diz João Oliveira e Costa.

O CEO sublinha ainda que “é preciso não esquecer que as pessoas vão pagar 100% do crédito”, por isso, terá de se ter em conta a taxa de esforço.

“Nós iremos emprestar a quem cumprir os níveis da taxa de esforço que o regulador e toda a gente tem chamado a atenção, para não sobre endividarmos as pessoas. É importante perceber que fica um pouco mais restrito em termos de rendimento quem é que pode aceder a esse tipo de crédito”, lembra.

Garante ainda que o BPI irá aderir à medida, “se vier nas condições que os bancos podem aceitar”, e rejeita aumentar o “spread” neste tipo de créditos.

Sobre a possibilidade de não haver acordo político no Orçamento do Estado para 2025, Oliveira e Costa defende que, até ao momento, não viu diferenças significativas nas propostas de ambos os lados e que as prioridades do país devem estar em primeiro lugar. Lembra que “somos vistos de fora” e “é muito importante para continuarmos a atrair investimento”. Por isso, “devia prevalecer uma grande maturidade e penso que era útil chegarmos a um consenso e termos estabilidade“.

Defende ainda a redução da carga fiscal das empresas e volta a lembrar que o BPI paga cerca de 37% em impostos, incluindo a contribuição extraordinária sobre o setor bancário.

“BPI teve atuação correta” no caso do cartel da banca

O Tribunal de Justiça da UE admitiu esta semana que a troca de informação entre os bancos “só poderá ter tido por objetivo falsear a concorrência”, o que abre caminho para que o tribunal da Concorrência português decida no mesmo sentido.

O CEO do BPI mantém que o banco teve “uma atuação correta” e está confiante num desfecho positivo deste caso, em que a instituição arrisca pagar uma coima de 30 milhões de euros. O banco não tem provisões para este risco legal.

“Temos total convicção de que o BPI teve uma atuação correta durante todo o período. Este esclarecimento não altera a nossa convicção.”, diz João Oliveira e Costa, que não muda nada do que já tinha dito, mesmo depois deste entendimento do Tribunal de Justiça da UE.

Ainda assim, assegura que o BPI irá aceitar o que “a justiça venha a decidir” neste processo da Autoridade da Concorrência. “Temos de respeitar com serenidade e aguardar os tempos e formalismos da justiça”, dz.

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