//“Desacelerar a economia” pode ser a solução para o capitalismo?

“Desacelerar a economia” pode ser a solução para o capitalismo?

Na entrada do outono e a uma semana de mudar a hora, ficam sugestões literárias para preencher os dias com novas ideias.

“Visões da Desigualdade”, Branko Milanovic (Actual)

Esta é uma viagem de dois séculos, da Revolução Francesa ao fim da Guerra Fria, que explora como seis dos economistas mais influentes da história refletiram sobre a desigualdade e a distribuição de rendimentos. Uma leitura para, no mínimo, refletir sobre o que queremos que seja a redistribuição no nosso tempo.

Neste livro o economista sérvio-americano, Branko Milanovic, antigo economista chefe do Banco Mundial e considerado um especialista nesta área, recua no tempo e coloca a mesma questão a seis economistas: “Como encara a distribuição de rendimentos na sua época e como espera que ela se altere?”

São questionados François Quesnay, Adam Smith, David Ricardo, Karl Marx, Vilfredo Pareto e Simon Kuznets. Ou seja, em cerca de 350 páginas o autor analisa a obra de cada um e como evoluiu o respetivo pensamento sobre a desigualdade, o que permite observar como as visões variaram entre épocas e sociedades.

Milanovic conclui que não podemos falar de “desigualdade” como um conceito geral, “qualquer análise está ligada a um tempo e lugar específicos”. O economista traça retratos intelectuais, que definem a desigualdade à luz da teoria económica da altura e incluindo as nuances psicológicas e perspetiva de cada pensador, tendo em conta os respetivos contextos e metodologias históricas.

“O Capital no Antropoceno”, Kóhei Saitó (Presença)

A desaceleração da economia em resposta à crise ambiental e ao aumento da desigualdade. É a solução defendida pelo jovem filósofo japonês Kóhei Saitó, num livro que desafio o capitalismo.

O autor inspira-se na ecologia marxista, o que rompe com a conceção comum de que para Marx seria indiferente a natureza. Estava focado no trabalho, como principal gerador de valor, a natureza era “matéria-prima” para a produção. A propriedade e as condições de produção eram o campo de batalha revolucionário.

No entanto, já nos últimos anos de vida, Karl Marx passou a dar mais atenção à biologia, química e geologia, segundo revelam cadernos, cartas e escritos menos conhecidos. Demonstra mais respeito pelas sociedades agrárias e pré-capitalistas e escreve, por exemplo: “como a Terra é finita, é óbvio que existem limites biofísicos absolutos para a acumulação de capital.”

Além desta nova visão de Marx, Saitó explora uma solução alternativa ao capitalismo: o “decrescimento”. Defende a desaceleração da economia e a redução do consumo, uma sociedade mais justa, que não esteja focada no lucro mas nas necessidades humanas.

Saito questiona ainda a viabilidade das soluções tecnológicas para problemas ambientais e sublinha a necessidade de ir além da reciclagem e dos carros elétricos. É preciso mais, muito mais.

“Capitalismo Abutre – Crimes corporativos, resgates indiretos e a morte da liberdade”, Grace Blakeley (Casa das Letras)

É um livro, mas também se pode considerar um manifesto. Numa linguagem direta e acessível, a jornalista Grace Blakeley desconstrói o sistema capitalista e, de exemplo em exemplo, explica porque é que “não foi corrompido, funciona exatamente como devia”.

Um desses exemplos, que dá título ao segundo capítulo, é a história de um dos empresários norte americanos mais bem-sucedido: Henry Ford. A experiência do “simpatizante do fascismo” é o mote para “os Estados Unidos da fordlândia”, um capítulo inteiro sobre o capitalismo industrial, efeitos e consequências.

Ao longo do livro, Blakeley visa demostrar como as elites usam em proveito próprio a “livre concorrência” ou como o capitalismo está concebido para beneficiar as corporações e os ultra-ricos.

A autora olha para as falhas do sistema e expõe os crimes corporativos e o planeamento, pondo em causa a própria liberdade na ideia de “mercado livre” subjacente ao capitalismo.

Apesar do retrato negro e cru sobre a ganância corporativa, Blakeley termina com um sinal de esperança, porque as “fissuras” abertas no sistema permitem aspirar a um futuro mais justo e livre.

“O Capitalismo não é o Problema, é a Solução – Uma viagem pela história recente através dos cinco continentes”, Rainer Zitelmann (Actual)

Num ensaio que entra em rutura com o pensamento dominante após a crise financeira de 2008, o historiador e sociólogo alemão Rainer Zitelmann refuta o apelo a uma maior intervenção governamental.

Neste livro, sem “jargões económicos”, o autor defende as vantagens do capitalismo, para dinamizar o crescimento e a prosperidade e aliviar a pobreza.

Zitelmann percorre vários continentes em diferentes momentos da história para exemplificar, com casos reais, como o capitalismo tem resolvido grandes problemas: na Alemanha Ocidental e de Leste, na Coreia do Norte e do Sul, no Chile capitalista e na Venezuela socialista.

O autor de “Adam Smith Tinha Razão”, desafia neste livro políticos, media e intelectuais a olharem para o capitalismo como a solução e não o problema.

“O Colapso da Verdade – A reeleição de Trump e o risco democrático na Europa e no mundo”, Germano Almeida (Ideias de Ler)

Que legado quer deixar Donald Trump neste segundo mandato na Casa Branca? Este é o mesmo presidente que tomou posse em 2017?

Em “O Colapso da Verdade” o analista de política internacional, Germano Almeida, analisa o caminho do político e empresário até à reeleição, o contributo dos multimilionários e a gestão da “verdade”.

Já depois de tomar posse, olha para algumas das decisões que marcaram o início deste mandato, como a subida das tarifas alfandegárias ou a política de deportações.

Mas este mandato vai muito para lá das fronteiras norte-americanas, tem repercussões mundiais que ainda estão por avaliar. Do comércio internacional à estabilidade geopolítica, tudo pode estar em causa. Germano Almeida explora o papel dos EUA no conflito entre a Rússia e a Ucrânia, assim como a reação da Europa, o papel da China neste “novo mundo” de Trump e a resposta da NATO a tudo isto.

Num tempo marcado pela desinformação e em que a verdade é colocada em cheque por quem tem responsabilidade de a defender, estamos em permanência a ser confrontados com casos que prometem marcar a atual administração norte-americana, muitas vezes com impacto externo. É preciso parar, é preciso refletir sobre o caminho que está a ser feito.

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