Detroit é a capital automóvel nos Estados Unidos. É nesta cidade que estão instaladas as sedes e as principais fábricas dos grupos automóveis General Motors, Ford e Fiat-Chrysler. Só que o novo coronavírus foi demolidor e obrigou as fábricas dos três grupos automóveis no dia 18 de março. Dezenas e dezenas de empresas foram arrastadas pela situação e também fecharam portas. A cidade do estado do Michigan perdeu uma década de recuperação da economia e enfrenta a maior crise social desde a Grande Depressão, da década de 1930.
“Quando os Estados Unidos se constipam, o Michigan tem uma pneumonia”, assinala o especialista Don Grimes, da universidade do Michigan, citado pelo El País. “As recessões da economia afetam-nos com mais força do que ao resto do país por causa da estrutura da nossa economia, muito dependente da indústria e, em especial, do automóvel. Numa crise, o automóvel perde mais do que outras indústrias”, acrescenta o especialista.
A equipa deste especialista antecipa que a taxa de desemprego naquele estado atinja o recorde dos 23% no segundo trimestre – a série de dados começou em 1976. Nem na Grande Recessão se verificaram números tão elevados – em 2009, a taxa foi de 15%. Nos Estados Unidos, perto de 36,5 milhões de pessoas ficaram no desemprego desde meados de março, por causa das medidas de confinamento para travar a pandemia no país.
Don Grimes lembra ainda que “entre 2009 e 2019 os rendimentos das famílias do Michigan tinham crescido 49%”. Em comparação com a média nacional, aquele estado “estava a viver a melhor década da história moderna. E, de repente, entrámos num mundo novo”.

Famílias com fome no estado do Michigan têm de passar por um corredor para abastecerem-se de alimentos para várias semanas. (Gregory Shamus/Getty Images/AFP)
Nesse mundo novo, negócios como o de Jackie Victor foram arrasados. Esta empresária começou com um café, em 1997, com quatro empregados. Mais de 20 anos depois, explorava quatro restaurantes e era responsável por 135 funcionários. Todos os dias, alimentava os milhares de treinadores das fábricas de Detroit. Só que quando os gigantes automóveis suspenderam a produção, deixou de haver pessoas para comprar focaccias e capuchinos. Sobrou apenas um trabalhador.
O mesmo aconteceu ao designer de moda masculina de luxo, John Varvatos. Na semana passada, teve de declarar falência do seu negócio, que estava a chegar aos cinco anos de existência.
A recuperação de Detroit deverá demorar. Na segunda-feira, os gigantes automóveis vão voltar ao trabalho mas haverá pouca gente com margem financeira para comprar um carro novo – o que poderá ser sinal de mais problemas dentro de alguns meses.
Quanto a Jackie Victor, num cenário otimista, conta recuperar metade do negócio até ao final deste ano.
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