//Dois gráficos para entender a escalada da inflação e Euribor, com impacto na carteira dos portugueses

Dois gráficos para entender a escalada da inflação e Euribor, com impacto na carteira dos portugueses

Pela primeira vez desde 2011, o Banco Central Europeu (BCE) anunciou a subida das suas três taxas de juro diretoras em 50 pontos base, com o objetivo de estabilizar os preços na União Europeia. Mas a verdade é que há muitos meses que os mercados têm vindo a antecipar esta medida, com o crescimento da taxa Euribor desde o início do ano passado.

Embora as duas não estejam diretamente relacionadas, as taxas Euribor acompanham e antecipam as decisões do Banco Central Europeu. No último dia do ano passado, a média mensal do valor referência para as taxas de juros aplicadas nos principais bancos europeus situava-se abaixo dos -0,5%, mas tem vindo a subir graças, e não só, a uma inflação em máximos históricos e ao conflito militar na Ucrânia.

Depois de cinco anos em valores negativos, a média da Euribor a 12 meses passou para o terreno positivo a 21 de abril e atingiu esta quinta-feira os 1,142% – algo que não acontecia há mais de uma década.

A seis meses, o prazo mais utilizado no crédito à habitação, a média da Euribor está acima de 0% desde junho e fixou-se esta semana em 0,632%, também um máximo dos últimos 10 anos – desde agosto de 2012 que não era tão alta. A Euribor a seis meses esteve negativa durante seis anos e sete meses (entre 6 de novembro de 2015 e 3 de junho de 2022).

A Euribor a três meses subiu agora para o terreno positivo, sendo de 0,145%, quando era de -0,58% no final de 2021 – um máximo desde outubro de 2014. A taxa Euribor a três meses esteve negativa entre 21 de abril de 2015 e 13 de julho último (sete anos e dois meses).

Por sua vez, a inflação que tem ditado mexidas no mercado já vem a subir há mais tempo e disparou com o início da guerra na Ucrânia. Em junho deste ano, o índice de preços no consumidor (IPC) subiu para 8,7%, o seu valor mais alto em quase trinta anos – é preciso recuar até dezembro de 1992 para encontrar uma situação igual no país.

Esta atualização fica 0,5 pontos percentuais acima do valor registado em maio e quase mais 7 pontos percentuais acima do mesmo período de 2021.

BCE faz mexidas em três taxas. Prestações da casa podem subir até 150 euros por mês

A correção em alta da taxa de juro fará com que os empréstimos se tornem mais dispendiosos para empresas e famílias, com o BCE a mexer em três taxas principais:

  • a taxa de juro de refinanciamento, que é utilizada na maior parte da injeção de liquidez feita através do sistema bancário (de zero para 0,5%);
  • a taxa de juro da facilidade de crédito marginal, usada nos empréstimos concedidos aos bancos (de 0,25% para 0,75%);
  • e a taxa de juro de depósitos, que é a remuneração oferecida pelo BCE ao dinheiro depositados pelas instituições financeiras no banco central (passou de -0,5% para zero).
Preço das casas aumenta mais de 200 euros por metro quadrado no último ano

Esta é a primeira subida das taxas de juro em 11 anos. Na nota do BCE, lê-se que “a futura trajetória das taxas de juro diretoras definida pelo Conselho do BCE continuará a depender dos dados e ajudará a cumprir o objetivo de inflação de 2% a médio prazo”, com o objetivo da “estabilidade de preços”.

Além disso, o regulador europeu aprovou um novo Instrumento de Proteção de Transmissão (IPT), para ajudar a proteger os países e sistemas bancários mais vulneráveis às variações dos juros da dívida e evitar uma nova crise das dívidas soberanas.

Em junho, a Deco Proteste avisou que as subidas nos créditos à habitação podiam chegar aos 100 a 150 euros por mês. Num cenário mais conservador, segundo as simulações da associação de defesa do consumidor para a Renascença, em que a taxa de juros fica entre 1% e 1,5%, a subida pode ser superior a 100 euros por mês, no espaço de um ano.

Se a Euribor chegar aos 2%, como é a expectativa do mercado para o final de 2023, o aumento médio ultrapassa os 150 euros, para empréstimos entre 100 e 200 mil euros a 30 anos.

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