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E m Portugal passamos cerca de duas horas por dia a comer, mas dois terços das refeições que comemos não são preparadas em casa. E, embora a grande maioria da população nacional faça a sua alimentação em casa, um quarto da população mais jovem – e mesmo adulta – passa muito pouco tempo na cozinha e até desvaloriza os benefícios de fazer a sua própria comida. Estas são algumas das conclusões do estudo “Como comemos o que comemos – um retrato do consumo de refeições em Portugal”, que é lançado hoje pela Fundação Francisco Manuel dos Santos.
Diz o estudo, coordenado por Ana Isabel de Almeida Costa, que “há uma preferência estrutural das famílias portuguesas pelo consumo de refeições fora de casa”, uma situação que difere da maioria das famílias europeias.
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De acordo com os dados recolhidos pelas responsáveis pelo relatório, em 2015-2016 o consumo alimentar fora de casa representou 8,1% da despesa total anual média por agregado registada em Portugal. Já na Bélgica, por exemplo, foi de apenas 5%. Da mesma forma, que quando comparado com o Reino Unido, o consumo alimentar fora de casa foi 35,1% da despesa alimentar total anual média por agregado em Portugal, contra 30,7% da despesa alimentar total semanal per capita dos ingleses.
Assim, é a partir dos 64 anos que se assiste ao aumento da Despesa Total Anual Média dedicada ao consumo alimentar em casa em Portugal, sendo que é o rendimento das últimas duas décadas que leva as famílias nacionais a optar por comer em casa, em detrimento de realizar refeições fora.
Neste campo, diz o estudo “Como comemos o que comemos – um retrato do consumo de refeições em Portugal”, existe uma relação direta entre nível de rendimento e situação profissional e o consumo de refeições fora de casa. Ou seja, “ir a um restaurante é́ mais comum entre as pessoas com rendimentos e níveis de escolaridade mais elevados, e que residem em grandes centros urbanos”. Revela o documento que as encomendas de comida acontecem oito vezes mais em famílias com maiores rendimentos, sendo que estas têm também despesas com alimentação duas vezes maiores, quando comparadas com as famílias com rendimentos menores.
A mulher é quem cozinha
Já no que concerne à confeção das refeições em casa, a maioria da responsabilidade ainda recai sobre as mulheres e “resultam de normas sociais persistentes, que nelas depositam a responsabilidade pela alimentação e o bem-estar da família e, em grande medida, continuam a isentar os homens desse encargo”.
Na prática, três em cada quatro mulheres passam pelo menos uma hora por dia a fazer comida. O que equivale a uma percentagem três vezes superior à da realidade masculina. Como reforça o estudo, “se ao tempo despendido a cozinhar for somado o tempo dedicado, pelas mulheres, a prestar cuidados à̀ família ou a desempenhar outras tarefas domésticas, conclui-se que estas exercem, em cada mês, mais de dois dias de trabalho não remunerado do que os homens”.
Diz, ainda, o relatório que metade dos portugueses cozinham pelo menos uma hora por dia, enquanto 27%, embora cozinhe, gasta menos de uma hora diária nessa atividade. E dois em cada 10 portugueses nunca cozinham.
Jantamos mais em casa
É ao almoço que grande parte da população nacional come fora de casa (42%), sendo que a maioria destas refeições ocorrem no local de trabalho ou ensino (21%). Da mesma forma, há quem almoce em restaurantes (9%), em casa de familiares e amigos (8%) ou em cafés e padarias (3%).
Em sentido oposto, 72% das refeições dos portugueses acontecem em casa, na sua grande maioria o pequeno-almoço e o jantar. E é para preparar a refeição da noite que os portugueses mais cozinham, chegando aos 56%. Neste ponto, jantar fora, acontece em 13% das vezes e, nestas ocasiões, é mais frequente que se coma em casa de familiares e amigos (6%) do que em restaurantes (4%).
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Detalha o estudo que “entre os maiores de idade, a proporção do consumo doméstico é́ ainda significativamente maior nos agregados com menor rendimento líquido (menos de 970 euros mensais) e em situações de insegurança alimentar do que nos restantes”.
Por outro lado, são os agregados com um rendimento líquido maior, ou igual, a 1455 euros mensais que mais consomem em restaurantes ou através de empresas de catering.
Existe, em Portugal, uma relação direta entre o nível de rendimento e situação profissional e o consumo de refeições fora de casa. São as pessoas que mais ganham que mais vezes se deslocam a um restaurante.
A confeção das refeições
Cada vez comemos mais alimentos que não são preparados em casa. Dois terços das refeições consumidas pelos residentes em Portugal resultam de confeção não doméstica, isto é, de atividades de produção, preparação e/ou confeção alimentar que ocorrem fora de casa, detalha o estudo “Como comemos o que comemos – um retrato do consumo de refeições em Portugal”. Que ainda vai mais longe e declara que quase 90% do que consumimos ao pequeno-almoço ou lanche não é feito em casa. “Em concreto, três quartos dos alimentos e bebidas ingeridos ao pequeno-almoço, assim como dois terços dos ingeridos em merendas provém da indústria ou do retalho alimentar, enquanto a maior parte dos restantes consumos tem origem em caféś e estabelecimentos similares”.
Cozinhar é uma prática a que cerca de um quarto da população jovem e mesmo adulta não se dedica. Para além de não valorizarem a comida caseira, dão mais valor à conveniência, à socialização e ao entretenimento proporcionado pelo consumo alimentar não-doméstico.
A refeição na dieta e na saúde
Excluindo a população mais idosa (que na sua maioria investe os seus rendimentos – provenientes de pensões de reforma ou outras prestações sociais – em alimentação preparada em casa), existe uma preponderância por parte dos portugueses para consumir refeições em restaurantes e noutros locais fora de casa (que não de ensino ou trabalho ou a casa de familiares ou amigos). Um hábito que está associado a uma menor probabilidade de se ter uma dieta próxima do padrão mediterrânico. Sendo que no caso dos adultos não idosos alia-se ao sedentarismo.
O estudo detalha ainda que na população em idade ativa o Índice de Massa Corporal é maior nos homens que mais comem fora de casa e que não preparam as suas refeições nem vão às compras.
Já o excesso de peso e a obesidade incidem menos em mulheres em idade ativa e que estão inseridas em famílias com rendimentos mais altos, que mais vezes comem fora e que menos se preocupam com a preparação das refeições. Em sentido inverso, as mulheres que se envolvem na preparação das refeições familiares, “o excesso de peso e a obesidade poderão estar ligados à divisão do tempo diário entre o trabalho remunerado e o trabalho não pago de cuidado à família, assim como ao nível de rendimento e à composição do agregado”.
2 horas é o tempo que, em média, os portugueses passam por dia a comer. O que significa que metade do tempo de lazer diário é dedicado às refeições.
72% das refeições da população nacional são feitas em casa, principalmente o pequeno-almoço e o jantar.
42% da vezes os portugueses almoçam fora, sendo que a maioria dos almoços acontece no local de trabalho ou de ensino (21%).
90% dos alimentos que consumimos ao pequeno-almoço e lanche não são feitos em casa. Ao almoço, a proporção de alimentos não-domésticos é de 55%. Já ao jantar, 56% dos portugueses cozinham e aumentam assim a confeção doméstica.
27% dos portugueses dedicam menos de uma hora por dia a cozinhar. Dois em cada 10 nunca cozinham e metade passam, pelo menos, uma hora diária a confecionar refeições.
3 em cada quatro mulheres passam pelo menos uma hora por dia a cozinhar. O que equivale a uma percentagem três vezes maior que a dos homens, no que à preparação de refeições diz respeito, em Portugal.
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