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Os portugueses têm sentido o rendimento disponível encolher, perdendo poder de compra e dificultando hábitos de poupança. É o que diz um recente estudo da Boston Consulting Group (BCG), que nota que dois terços dos portugueses poupam menos de 10% do salário.
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De acordo com o o estudo “Consumer Sentiment Survey 2023”, os rendimentos das famílias portuguesas estão a cair desde 2020, sendo que 66% não chega a poupar 10% do que ganha todos os meses e, a cada grupo de dez portugueses, há quatro “que nem 5% do seu rendimento” líquido consegue poupar. Por outro lado, 16% dos portugueses dizem poupar entre 10% a 20% do salário líquido. Outros 10% dizem conseguir reservar 20% a 30% do salário e “apenas 2% consegue economizar mais de metade do que aufere”.
“A inflação, a subida das taxas de juro e o não acompanhamento dos salários são as principais causas de perda do poder compra, mas também da diminuição da taxa de poupança e de investimento”, nota a BCG, adiantando que o nível dos orçamentos das famílias portuguesas após despesas (7,5%) estava, no final de setembro “6,7 pontos percentuais atrás da média da Zona Euro (14,2%).
O estudo aponta que em 2023, 64% sentiu “um aumento acentuado do peso da alimentação, 44% do veículo pessoal, 42% da renda da habitação, 36% da farmácia, 17% da saúde e 16% com os animais de estimação”. Ora, “este aumento da despesa em necessidades básicas provocou uma queda acentuada dos gastos noutras categorias, como entretenimento fora de casa (-40%), viagens (-37%), roupa e acessórios (-36%), mobiliário e decoração (-23%), perfumaria e maquilhagem (-22%), tecnologia e eletrónica (-19%) e bebidas alcoólicas (-17%)”. E por conseguinte influenciou também a capacidade de poupar dinheiro do rendimento mensal.
Para o managing director e partner da BCG Portugal, Tiago Kulberg, as famílias “estão com a carteira mais apertada”. Por isso, a tendência dos hábitos de consumo passa “cada vez mais por aproveitar campanhas promocionais”. Outra consequência de ter menos dinheiro disponível, prossegue o gestor, é que as famílias “estão a gastar mais online onde é mais fácil comparar preço”.
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Acresce que estes resultado também revelam, segundo Kulberg, “que ainda há um caminho a fazer em termos de literacia financeira em Portugal”. O gestor defende, por isso, que é preciso dar “mais conhecimento e conforto [às famílias] para diversificar o mix de investimentos e, deste modo, obter melhores retornos a prazo”.
Dois em cada dez jovens investe em ações e obrigações
O estudo da BCG refere que quando os portugueses conseguem poupar fazem-no a pensar em eventuais imprevistos, na reforma ou em viagens. Quase dois terços (64%) destina as suas poupanças “para cobrir potenciais imprevistos”, enquanto 36% usa o que poupa “para acumular para a reforma”, e 30% em viagens.
“Comprar uma casa faz parte das intenções de investimento da poupança de dois em cada dez inquiridos, seguida de comprar um carro (11%) e gastar noutros bens de consumo (10%)”, lê-se.
Ainda assim, entre os que conseguem poupar, o estudo do BCG diz que a maior parte procura poupar colocando dinheiro em ativos de baixo risco, como depósitos à ordem e depósitos a prazo.
Os jovens adultos recorrem sobretudo a depósitos à ordem (39%) e depósitos a prazo (33%), mas dois em cada dez jovens portugueses investem em ações e obrigações, enquanto os fundos de pensões (6%), e ativos não financeiros (3%) são os investimentos menos atrativos.
“Dos portugueses de meia-idade, quatro em cada dez investem em depósitos à ordem, 36% em depósitos a prazo, e 12% em ações e obrigações. Estes têm menos interesse em fundos de pensões (8%) e ativos não financeiros (3%)”, lê-se.
Entre os portugueses com mais de 65 anos, 45% poupa através de depósitos a prazo e 36% em depósitos à ordem. Também nesta parte da população, os fundos de pensões (8%), as ações e obrigações (7%) e os ativos não financeiros (4%) merecem pouca atenção dos mais velhos
O estudo tem como base um inquérito a 1.000 portugueses em todo o território de Portugal continental, conduzido entre 15 e 25 de setembro de 2023, com base em 33 perguntas relacionadas com o sentimento dos portugueses para com os seus hábitos de consumo este ano.
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