//É possível um capitalismo mais moral e inovador?

É possível um capitalismo mais moral e inovador?

Um dos maiores construtores automóveis da atualidade vende veículos elétricos, movidos a energia solar e energia limpa – chama-se Tesla. Uma das entradas em bolsa com mais sucesso nos últimos 20 anos foi o IPO (Inicial Public Offering) da Beyond Meat, produtora de substitutos de carne à base de plantas, com sede em Los Angeles.

Rebecca Henderson garante que nada disto é coincidência. As empresas já estão a trabalhar diariamente para a criação de um sistema mais equilibrado, sustentável e humano. E não deixaram de ser lucrativas.

A economista não está contra o capitalismo, até porque o sistema encerra em si mesmo o pior e o melhor da repartição de riqueza na sociedade actual. Se nos conduziu até ao expoente da desigualdade, também foi o que mais equilibrou os pratos da balança, de acordo com a professora. Mas precisa de ser reformado.

Em “Repensar o Capitalismo para Salvar a Humanidade” (Ed. Ideias de Ler), a autora passa para o papel o popular curso com o mesmo nome que leciona em Harvard.

Henderson explica que este “não é um problema que o mundo dos negócios consiga resolver sozinho”. Para garantir progressos reais, na resolução das alterações climáticas ou da desigualdade económica, é também essencial o envolvimento do Estado.

A investigadora divide em cinco passos este “capitalismo repensado”, para uma reforma do sistema político e económico, que podem ser aplicados individualmente nas empresas:

  1. Criar valor partilhado: Já não chega fazer como sempre foi feito, “business as usual”. Para garantir que o planeta e o capitalismo sobrevivem, o capital social e ambiental não podem ser gratuitos ou problemas de outra pessoa. As empresas precisam de lucro, mas não podem ter como única missão ganhar dinheiro. “A transição será profundamente disruptiva, mas também fonte de inúmeras oportunidades”, garante Hendersen.
  2. Construir uma organização de missão: A gestão fácil passa por tratar as pessoas como peças da engrenagem. Tratar os trabalhadores “com dignidade e respeito, como cocriadores autónomos e empoderados”, é mais difícil, mas também mais ético, e não necessariamente mais dispendioso. Além disso, “há inúmeras provas que estas empresas são significativamente mais inovadoras e produtivas”, garante a autora, muitas conseguem mesmo pagar “salários altos”.
  3. Reprogramar a finança: É preciso novas métricas, que não se limitem ao lucro, “os investidores têm de entender os benefícios de criar valor partilhado”. As decisões de negócio já estão a introduzir o impacto ambiental, mas as métricas ESG ainda estão em desenvolvimento e nem tudo se pode medir. Por outro lado, empresas que pertençam a consumidores e trabalhadores aceitam melhor canalizar os lucros para o bem geral. Outra opção é reduzir o poder dos investidores, através de alterações nos modelos de governação, o que irá encontrar certamente resistência.
  4. Construir cooperação: A ideia é simples: “se todos fizerem a sua parte, todos beneficiam”. Há sempre a tentação de ir à boleia, mas a psicologia de grupo ajuda a garantir a participação. Esta ideia tanto se aplica em família ou comunidade, como numa empresa, num setor ou mesmo entre países – chama-se “autorregulação”. É a resposta, por exemplo, para a eliminação do trabalho infantil na produção têxtil.
  5. Reconstruir as instituições e reparar os governos: Há problemas que só se resolvem com envolvimento governamental, seja devido à subsidiodependência do tecido empresarial, seja pela incapacidade das empresas para pagarem melhores salários, pela perda de poder dos sindicatos ou pelo sistema tributário em vigor. Mas o poder não está todo do lado do governo, as empresas atuais também têm bastante influência sobre quem governa. A autora defende que se equilibre a balança, que as empresas que querem criar valor partilhado procurem também reconstruir as instituições.

Ao longo de oito capítulos, são inúmeros os exemplos de empresas e empreendedores que já estão a transformar o capitalismo, rumo a “um futuro mais justo, seguro e próspero”. Esta investigadora do Nacional Bureau of Economic Reserch garante que o mundo dos negócios pode fazer a diferença, a bem do Planeta e da humanidade, mas ninguém chega lá sozinho.

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