As receitas da indústria do jogo em Macau estão a diminuir devido à desaceleração económica na China, o que se reflete na desconfiança dos grandes apostadores, consideram analistas ouvidos pela Lusa.
A Direção de Inspeção e Coordenação de Jogos (DICJ) de Macau anunciou esta quarta-feira que as receitas dos casinos do território diminuíram 2,4% nos quatro primeiros meses do ano, em relação a igual período de 2018, e que só no mês de abril caíram 8,3% em termos homólogos.
Para o diretor do Centro de Estudo e Ensino do Jogo do Instituto Politécnico de Macau (IPM), Changbin Wang, as receitas dos casinos na capital mundial do jogo estão intimamente ligadas às previsões e à situação económica da China.
“Acredito que a tendência na receita de jogos depende muito da situação económica na China continental. Se a economia da China continental melhorar, a receita de jogos ficará melhor. Caso contrário, não ficará”, considera Changbin Wang, em declarações à Lusa.
Uma das principais razões para a quebra das receitas dos casinos prende-se com a diminuição das receitas angariadas nas salas de grandes apostas: no primeiro trimestre deste ano, o jogo VIP sofreu uma redução de 13,4%, em relação ao período homólogo do ano passado, no qual tinham atingido 42,956 mil milhões de patacas (4,707 mil milhões de euros).
No ano passado, as receitas geradas pelo jogo VIP foram de 166,09 mil milhões de patacas (mais de 18 mil milhões de euros), 54,8% do total arrecadado pelos casinos de Macau ao longo de 2018 (32,79 mil milhões de euros).
Contudo, nos três primeiros meses do ano, a fatia das grandes apostas representou apenas 48,8% do bolo total das receitas, o que, segundo a analista da Bloomberg e especialista no jogo na Ásia Margaret Huang, está relacionado com a cautela dos grandes apostadores.
“O jogo ‘VIP’ está a enfrentar uma maior pressão porque os grandes corretores chineses continuam cautelosos sobre a desaceleração do crescimento económico no país”, disse à Lusa a analista da Bloomberg.
“A procura está a ser reprimida porque os apostadores estão a esperar pelo aumento da confiança no mercado antes de viajarem a Macau”, considera Margaret Huang, acrescentando que as receitas globais do jogo “terão novas quedas a longo do primeiro semestre do ano”.
Também o diretor do Centro de Estudo e Ensino do Jogo do IPM partilha desta opinião: “Acredito que as razões estão na China continental. Por um lado, a situação económica geral na China continental não é tão otimista, por outro, o interesse de muitos VIP em apostar pode estar a diminuir depois de tantos anos de expansão”.
A agência de notação financeira Fitch, que prevê para 2019 um crescimento do produto interno bruto na China de 6,1%, menos que os 6,6% de 2018, atribui “a recente desaceleração das receitas do jogo de Macau ao sentimento económico negativo” na China continental, exacerbado por tensões comerciais e pela desaceleração do crédito”.
“A desaceleração [da receita do jogo em Macau] está amplamente ligada à desaceleração económica na China continental, que deve afetar negativamente de maneira desproporcional o segmento VIP”, escreve a Fitch no seu relatório “All In: Manual Global de Jogos Abril de 2019”.
Contudo, a agência de notação financeira acredita que as projeções da indústria do jogo em Macau, único local na China onde os casinos são permitidos, vão melhorar a curto-médio prazo “devido aos estímulos fiscais assertivos do Governo Central”, mas também devido “à difusão das tensões comerciais com os Estados Unidos e às melhorias recentemente concluídas na infraestrutura de transporte”.
A abertura em outubro de 2018 da ponte Hong Kong-Zhuhai-Macau, a maior travessia marítima do mundo, “cria um ponto de entrada adicional, acelera o tempo e reduz o custo das viagens para Macau”, considera a Fitch.
A previsão da abertura, para o segundo semestre do ano, da linha do metro ligeiro que vai ligar os mais modernos e luxuosos resorts do Cotai, faixa de casinos entre as ilhas da Taipa e de Coloane, ao aeroporto e ao terminal de ferry da Taipa, é visto como uma mais valia que poderá alavancar as receitas do jogo no território.
O resort integrado Grand Lisboa Palace, da Sociedade de Jogos de Macau (SJM), da empresa fundada por Stanley Ho, que abre as portas ainda este ano, e ainda “as importantes renovações e ampliações” dos casinos das operadoras Melco, Sands, Galaxy e Wynn, entre 2020 e 2021, “devem ajudar a impulsionar positivamente o crescimento da receita de jogos em Macau”, aposta a Fitch.
“Acredito que haverá maiores ganhos no segundo semestre deste ano e em 2020”, corrobora Margaret Huang.
Por fim, a Fitch defende que o término dos contratos de concessão e subconcessão, em 2022, “não será uma interrupção significativa para os operadores de jogos”
Em meados de março, o Governo de Macau prolongou até 2022 o prazo dos contratos de concessão da SJM e de subconcessão da operadora MGM, igualando assim o prazo final dos contratos das outras duas concessionárias e subconcessionárias.
“O Governo adotará uma abordagem pragmática do processo e valorizará a estabilidade, dados os altos níveis de emprego fornecidos pelos operadores”, escreve a agência de notação financeira.
Deixe um comentário