//Economistas defendem medidas para um plano pós-moratórias 

Economistas defendem medidas para um plano pós-moratórias 

É um dos principais riscos para Portugal em 2021. O fim do regime das moratórias no crédito a empresas e famílias em setembro pode fazer disparar o incumprimento e o nível de malparado. A materializar-se o risco, devedores e bancos ficariam em maus lençóis, mas não seriam os únicos. Visto que foi grande a adesão às moratórias com garantia estatal, também a República poderá ser afetada. Pelas contas da agência de rating DBRS, Portugal é o país europeu com mais peso de moratórias com garantia: 88% do total. Segue-se Espanha (71%), Suécia (67%) e Itália (66%).

O aprofundar da crise com o novo confinamento poderá impulsionar a adesão ao regime. “Não espero uma segunda avalanche, mas pode haver uma adesão das empresas que tenham perdido músculo e não tenham ainda aderido”, diz João Duque. O economista defende a criação de apoios de exceção quando acabar o prazo para as famílias e empresas que necessitem.

“O fim das moratórias está previsto para setembro. Terá impacto nas famílias e empresas, que não vão conseguir regressar à normalidade no primeiro semestre”, alerta Pedro Lino, CEO da Optimize Investment Partners. “É vital começar a preparar a fase de ajustamento e que o regresso dos pagamentos de créditos possa ser faseado ou incrementado percentualmente.” Para Pedro Lino, a solução poderia passar por implementar o regresso ao pagamento das prestações por fases em cada trimestre no ano que vem ,”até 100% no fim de 2022″. Por outro lado, salienta, “é essencial que quem está abrangido pelas moratórias tenha a noção de que a dívida está a ser adiada e terá de ser paga em mais anos. O BCE está a comprar alguns anos com as taxas negativas, colocando o serviço da dívida a zero, mas o pagamento do montante terá de ser feito”. “O regresso à normalidade, após um tempo de queda de rendimento para muitos negócios levará anos, pelo que deve haver apoios ao nível fiscal: redução de IRC e TSU e de IRS para os particulares, muito afetados no rendimento”, sugere.

Para o economista da Deco Nuno Rico, dado o elevado volume de adesão às moratórias, “há que ver a situação com cuidado”. “Cerca de 20% do total dos créditos estão sob moratória. E a dívida não desaparece. Acumula juros e torna-se até maior. É preciso ter noção disso”, sublinha. “Há que criar um modelo que prepare o período pós-moratórias. O regime não pode ser prolongado por muito tempo, porque não se resolve a questão adiando dívida.” A Deco está a preparar um conjunto de propostas para ajudar as famílias que perderam rendimentos na crise a lidar com o fim do prazo das moratórias no crédito.

Bola de neve


Portugal lidera nas moratórias a nível europeu. Segundo o Banco de Portugal, as famílias foram as que pediram mais em toda a Europa, com 17% dos empréstimos abrangidos. No caso das empresas, o rácio é de 32%, cerca de um terço dos créditos. O efeito mais visível do impacto da medida tem sido nos lucros da banca, que, segundo a APB, recuaram 65% até setembro, em termos homólogos, pressionados sobretudo pelos custos com eventuais perdas no crédito.

Mário Centeno, governador do BdP, reconheceu recentemente que as moratórias serão alvo de reavaliação nos próximos meses. “As moratórias atingem dimensão significativa, muito maior que a média da zona euro e a média da UE.”