//Eduardo Paz Ferreira. Com provas de má gestão, Estado pode recuperar dinheiro entregue ao Novo Banco

Eduardo Paz Ferreira. Com provas de má gestão, Estado pode recuperar dinheiro entregue ao Novo Banco

Se se provar que houve má gestão, o Novo Banco pode ser obrigado a devolver os apoios, as injeções de capital que tem recebido, depois de ter sido vendido ao fundo norte-americano Lone Star.

Esta é a convicção de Eduardo Paz Ferreira, professor da Faculdade de Direito de Lisboa. À Renascença, diz que existe no contrato uma cláusula que prevê consequências para uma eventual violação grosseira das obrigações.

“Não conheço os documentos, não tenho seguido a gestão em concreto do Novo Banco e, portanto, não posso ser muito categórico nesta matéria. Mas dá uma ideia de que há uma estratégia deliberada para prejudicar o Estado, usando uma cláusula que foi lá incluída de boa fé e para facilitar as coisas, fazendo com que sejam empolados os prejuízos, designadamente com vendas de ativos que são significativos, designadamente ativos patrimoniais, que, no auge do ‘boom’ imobiliário, foram vendidos a preço de saldo.”

Eduardo Paz Ferreira diz que, para o Fundo de Resolução recuperar pelo menos parte das entregas contratualizadas, a auditoria em curso terá ainda de concluir que existe má gestão.

“Se dessa auditoria resultar que isto tudo que estive a dizer é real, então, sem dúvida, houve uma manobra para defraudar o Estado e para usar o dinheiro dos contribuintes para benefício privado, havendo toda a possibilidade de o fundo de construção e o Banco de Portugal, que tem sido de uma tolerância nestas matérias completamente inexplicável, virem a reivindicar a devolução do dinheiro que foi pago a mais.”

Eduardo Paz Ferreira considera ainda que o Banco de Portugal agiu com grande distração neste caso. Como noutros: “a atuação tem sido de uma grande distração por parte de uma entidade reguladora, que tinha por obrigação ter percebido os sinais do banco, ter sido mais atenta e ter tomado medidas mais atempadas.”

“Eu creio que é um problema no sistema financeiro português, como aliás no sistema financeiro geral, que é a circunstância de ser uma espécie de grande família, em que todos acham que todos os primos são bons e que são corretos e que têm bons comportamentos”, aponta.

“Ora, isto não é necessariamente assim. Às vezes, os primos têm tentações e aí é preciso dizer-lhes que se portem bem”, remata Paz Ferreira.

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