//Empresários lamentam que bancos queiram ganhar com a crise

Empresários lamentam que bancos queiram ganhar com a crise

“Lucros zero para os bancos” neste ano e no próximo, defendeu hoje Rui Rio no Parlamento porque “a banca, que deve muito a todos os portugueses, não pode querer ganhar dinheiro com a crise”, sublinhou o líder do PSD no debate parlamentar sobre o decreto presidencial do estado de emergência.

A mesma ideia tem vindo a ser reclamada por grupos de empresários. “Apesar dos juros negativos, a banca poderá cobrar comissões de gestão e acompanhamento anual de até 0,5%, mais juros anuais de 1% a 1,5%, equivalente a um ganho anual global de 1,5% a 2% por operação”, nas linhas de crédito disponibilizadas às empresas. “Nos últimos 12 anos, os portugueses injetaram mais de 24 mil milhões de euros no sistema bancário – são 7,5 vezes mais do que a atual solução para salvar a economia nacional (…) Contudo, a banca nacional julga que terá um ano 2020 glorioso onde se prepara para ganhar”, nota Bernardo Theotónio Pereira, empresário cofundador da Firma, num artigo publicado no Dinheiro Vivo (que pode ler aqui).

Apesar dos protestos, os bancos portugueses garantem estar empenhados em ajudar as empresas a ultrapassar as atuais dificuldades e a relançar a economia quando a pandemia de covid-19 acalmar, na mesma medida em que foram ajudados na crise financeira de 2008. Mas nem todos veem nestes apoios os melhores possíveis.

“Estas linhas de crédito não deixam de ser uma forma de as empresas se endividarem para o futuro, uma vez que não existe qualquer tipo de apoio a fundo perdido”, sublinha a associação de empresários de Coimbra. “E as taxas de juro, sendo baixas, são muito acima daquilo que devia ser”, lamenta a NERC. “A maioria das empresas afetadas pela crise da covid-19 deixou de faturar, com quebras de mais de 80% desde os primeiros dias de março e terão as portas fechadas pelo menos até fins de abril. Por isso é necessário para tempos excecionais, medidas de rápida execução e de fácil acesso”, defende o presidente, Horácio Pina Prata, pedindo ainda a abolição das taxas fixas mensais dos TPA durante os meses de março, abril, maio e junho, bem como uma solução do apoio aos sócios-gerentes das microempresas.

Bancos vão “lucrar milhões”

Infelizmente, esta situação e os consequentes protestos não são um exclusivo português. “Os bancos preparam-se para fazer milhares de milhões em juros e comissões com os 350 mil milhões de dólares previstos pela Fed para linhas de apoio às pequenas empresas americanas” (que empregam até 500 pessoas), escrevia ontem o Financial Times. Ainda assim, as medidas de emergência que Trump injetou na economia têm contornos distintos das linhas de crédito europeias.

Em primeiro lugar, pressa é palavra de ordem nos Estados Unidos, com os empresários a preencher apenas duas páginas para ativar o pedido e os bancos a poder emprestar de imediato, sem ter de esperar aprovação – enquanto por cá os empresários se queixam da excessiva burocracia e regras apertadas que deixam muitos longe da possibilidade de aceder aos apoios, conforme explicava hoje Bruno Bobone ao Dinheiro Vivo: “É necessário o governo tirar as condições de acesso para todos poderem aceder às linhas, incluindo empresários em nome individual, desempregados, etc., para que a situação tenha solução de imediato.” (Leia mais aqui)

Por outro lado, será o próprio Estado americano, e não as empresas, a pagar aos bancos: “O governo federal pagará 5% por empréstimos abaixo dos 350 mil dólares, 3% em valores inferiores a 2 milhões e 1% para montantes acima disso, sem encargos de capital.” Quanto às empresas, o dinheiro chega a fundo perdido para pagar salários, juros hipotecários, rendas e matérias-primas nos dois meses seguintes ao empréstimo e apenas serão penalizadas – com uma taxa de 0,5 – as que nesse período despedirem ou cortarem salários. Ou seja, conforme explica o Financial Times, as empresas que precisem de ajudas serão ajudadas sem custos – e os bancos vão ganhar com estes créditos, mas será o governo a desembolsar.

Startups na Alemanha recebem 2 mil milhões

A falta de apoios a startups é outra queixa recorrente entre os empresários portugueses, no que aos apoios previstos pelo governo diz respeito.

“Não se entende que, por parte dos responsáveis governativos e após várias semanas em crise, não seja dada nenhuma indicação, nenhum sinal, nenhuma palavra relativamente às medidas para ajudar as startups“, lamenta em opinião publicada hoje no Dinheiro Vivo Paulo Ferreira dos Santos. “França, Alemanha, Estónia e muitos outros países desenvolveram rapidamente medidas específicas para as startups, às quais alocaram meios financeiros consideráveis. Em Portugal o silêncio é ensurdecedor”, lamenta o empreendedor.

De facto, o exemplo alemão é bem distinto do português. “Os instrumentos de crédito usuais normalmente não se adaptam à realidade das empresas jovens e inovadoras”, reconheceu o ministro da Economia e Energia, Peter Altmaier ainda ontem, antes de anunciar um bolo de 2 mil milhões direcionado para as startups.

Para assegurar a sobrevivência desta importante fatia do tecido empresarial e salvar os empregos de milhares de jovens talentos a elas ligados, o governo de Angela Merkel desenhou mesmo um pacote específico para este tipo de empresas, que considera “determinantes para o futuro”.

Dos apoios aprovados em Berlim, destacam-se ainda os 40 mil milhões de euros anunciado na última semana para apoiar trabalhadores independentes e pequenos empresários – que por cá ainda não têm acesso a soluções. Desse montante, um quarto será diretamente injetado em microempresas.

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