Os primeiros três meses do ano não foram positivos para a maior parte das empresas da bolsa portuguesa: o lucro acumulado desceu 8,85%, totalizando 669,5 milhões de euros. Foram menos 65 milhões que no primeiro trimestre de 2018. E há mudanças no ranking das cotadas mais lucrativas do PSI20. Na Europa, as grandes empresas também tiveram um trimestre menos lucrativo, começando a pagar a fatura da guerra comercial e do Brexit.
Na bolsa portuguesa, o setor da energia tirou força aos resultados. A EDP lucrou menos 66 milhões, ficando as contas em 100 milhões. A Galp viu o resultado cair 32 milhões para 103 milhões de euros. Os dois pesos-pesados da bolsa foram ultrapassados pelo BCP na lista das empresas mais lucrativas do PSI20. O banco liderado por Miguel Maya aumentou os lucros de 85,6 milhões para 153,8 milhões de euros. Nuno Caetano, analista da corretora Infinox, considera o BCP como “o principal destaque positivo nesta época de apresentação de resultados”.
O BCP foi o principal destaque positivo nesta época de apresentação de resultados.”
O especialista explica ao Dinheiro Vivo que “estes números devem-se muito ao facto de o banco ter reduzido bastante as rubricas do crédito malparado e do volume de imparidades”. Depois das perdas pesadas durante a crise e da reestruturação que foi forçado a fazer, o banco tenta regressar à normalidade. E vai distribuir o primeiro dividendo desde 2010. Destinou 30 milhões para remunerar os acionistas, 10% do lucro obtido no ano passado.
Menos energia nos lucros
Das 13 cotadas do índice de referência que já apresentaram contas trimestrais, mais de metade teve uma quebra nos resultados. O setor da energia, o que mais pesa na bolsa portuguesa, foi o que perdeu mais gás. A EDP foi uma das grandes desilusões, indica Nuno Caetano.
O analista afirma que a elétrica “teve um resultado aquém do esperado, com o lucro a cair 39% nos primeiros três meses do ano. Apesar do crescimento nas redes no Brasil, na comercialização e nas renováveis, a produção hidráulica e eólica não permitiu acompanhar esse crescimento. A carga fiscal e custos financeiros pesaram também para o decréscimo das contas”. Já a EDP Renováveis viu o lucro descer de 94 milhões para 61 milhões de euros.
A EDP teve um resultado aquém do esperado. Apesar do crescimento nas redes no Brasil, na comercialização e nas renováveis, a produção hidráulica e eólica não permitiu acompanhar esse crescimento. A carga fiscal e custos financeiros pesaram também para o decréscimo das contas”.
Também a Galp fraquejou. A petrolífera apresentou no primeiro trimestre do ano um lucro de 103 milhões de euros, 24% abaixo face ao mesmo período do ano anterior. Nuno Caetano detalha que “a petrolífera justifica este resultado com o impacto negativo na operação no Brasil, onde contabiliza um impacto negativo de 98 milhões de euros”.
Mas apesar do saldo final mais modesto, Nuno Caetano salienta pontos positivos: “A dívida líquida da empresa caiu cerca de 15% [queda de 281 milhões face a março do ano passado para 1,6 mil milhões] e o EBITDA [lucro antes de juro, impostos, depreciações e amortizações] subiu 9%” para 494 milhões.
No grupo das empresas a desiludir os investidores esteve ainda a Jerónimo Martins. O lucro da dona do Pingo doce desceu 13 milhões para 72 milhões de euros. “Esta depreciação de resultados dá-se devido à sua operação polaca, onde houve a obrigatoriedade de fechar os espaços comerciais ao domingo e uma depreciação acentuada do Zloty neste período”, explica Nuno Caetano.
Brexit e guerra comercial penalizam
Na Europa, os lucros das maiores empresas em bolsa também desaceleraram. O resultado acumulado das mais de 300 empresas do índice bolsista Stoxx 600 que já divulgaram as contas desceu 2,2%. O lucro somou 86 mil milhões de euros nos primeiros três meses do ano, menos 1,9 mil milhões que no mesmo período de 2018, segundo dados da Thomson Reuters. As maiores descidas foram nos setores de matérias-primas e do consumo, compensada pelo aumento dos lucros das farmacêuticas.
A queda dos resultados ocorre numa fase de preocupações sobre os danos causados às empresas pela guerra comercial entre os EUA e a China e de incerteza sobre o processo de saída do Reino Unido da União Europeia. “Além do facto do crescimento da economia ter atingido alguma saturação, as incertezas político-económicas internacionais como o Brexit e a recente guerra comercial são sempre fatores a ter em conta”, diz Nuno Caetano.
Também nos EUA, o cenário é de cautelas apesar de as cotadas terem conseguido impressionar nos resultados do primeiro trimestre. O Morgan Stanley avisou, numa nota a investidores a que o Dinheiro Vivo teve acesso, que “as estimativas para os resultados são demasiado elevadas e que o índice bolsista S&P 500 poderá sofrer uma recessão nos lucros do segundo trimestre”.
Deixe um comentário