//Empresas de crédito ultrapassam banca nos empréstimos para consumo

Empresas de crédito ultrapassam banca nos empréstimos para consumo

A segunda edição do estudo sobre o impacto do crédito ao consumo na economia portuguesa, entre 2018 e 2024, conclui que nos últimos anos as famílias passaram a recorrer mais a instituições de crédito especializado para financiarem despesas de consumo.

“As instituições com atividade universal, a banca, representavam em 2014 cerca de 54% do total de crédito aos consumidores, as instituições com atividade especializada representavam 45,7%”, diz à Renascença um dos autores deste trabalho, o economista Pedro Brinca.

Entretanto, as instituições com atividade especializada ganharam mais peso no mercado, e “hoje já está perto dos 55%, enquanto o peso no crédito ao consumo das instituições com atividade universal, que inclui os bancos, representa apenas 45,2%”, acrescenta. Registou-se uma inversão, “não muito pronunciada, mas ainda assim significativa”, conclui.

Este estudo revela ainda o peso do crédito ao consumo na recuperação da economia, depois da pandemia de Covid-19, um período marcado pela “contração acentuada dos rendimentos”.

Créditos ajudaram a sustentar economia e emprego

De acordo com Pedro Brinca, o financiamento do consumo das famílias “contribuiu de forma muito positiva e determinante para a sustentação, quer da atividade económica, quer do emprego”.

“Na recuperação da pós-pandemia, a produção de créditos dos associados da ASFAC (Associação de Instituições de Crédito Especializado), contribuiu positivamente para o crescimento do PIB (Produto Interno Bruto), em cerca de 1 ponto percentual em média por trimestre, e para o crescimento do emprego, em cerca de 0,75 pontos percentuais em média por trimestre”, explica Pedro Brinca.

São dados apresentados na conferência anual da ASFAC, onde o economista, autor do estudo juntamente com João Duarte, explicou também que a maioria do crédito ao consumo se destina à compra de carro ou a despesas pessoais.

“Cerca de 42,4% em 2018, até 39,2% em 2024” do crédito ao consumo cedido pelos associados da ASFAC destinou-se à compra de automóvel. “Entre os 42% e os 44%, variou ao longo dos últimos seis anos” do financiamento foi para despesas pessoais. “Entre 15% a 17%” foi acionado através de cartões de crédito.

Pedro Brinca sublinha ainda que, embora os juros no crédito ao consumo também tenham subido, registou-se “um desfasamento de cerca de um ano após o aumento das taxas de juros de referência do BCE, o que atrasou a transmissão do custo de financiamento aos consumidores e serviu como almofada, amortecedor, da subida em geral das taxas de juros”.

Porquê? “Porque uma boa parte do crédito ao consumo é taxa fixa e é de mais lento ajustamento”, explica.

Créditos também dão estabilidade financeira às famílias

O professor da Nova SBE defende ainda a importância do crédito ao consumo, para garantir a estabilidade financeira da economia e das famílias.

“Claramente, são uma ferramenta importante para não haver variações elevadas no bem-estar das famílias, quando há um choque ocasional dos seus rendimentos”, diz. Por outro lado, “permitem às pessoas ter períodos mais alargados de procura de um emprego que se ajuste melhor ao seu perfil, do que se tivessem que aceitar a primeira oferta para não sofrer uma diminuição de rendimento”.

“Mesmo ao nível da economia, quando há algum choque sistémico, como vimos na questão da pandemia, ou como vimos, por exemplo, com a questão da troika, ou até algumas recessões mais ligeiras”, o crédito ao consumo tem um efeito positivo.

Estas são as conclusões da segunda edição do estudo sobre o impacto do crédito ao consumo na economia portuguesa, apresentadas esta quarta-feira na conferência anual da ASFAC.

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