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O tema é complexo e gera paixões como em quase tudo o que tem a ver com o Douro, a mais antiga regulamentada e demarcada do mundo. A Associação das Empresas de Vinho do Porto (AEVP), entidade que tem como associados 21 empresas comerciais que representam 60% das vendas de vinhos da região, pede uma “reforma administrativa” da região – leia-se a atualização e atualização do Método Moreira da Fonseca -, sem a qual, acredita, o modelo existente é “absolutamente insustentável”. Em causa está a vontade de “criar mais riqueza” para os vários intervenientes na cadeia produtiva, pondo fim aos excedentes crónicos de oferta de uvas.
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A questão está no facto de o quadro regulamentar do setor ter sido criado numa altura em que a região produzia essencialmente vinho do Porto e em que a denominação de origem Douro não tinha expressão, “sendo muitas vezes tratada como um subproduto da região”. Mas hoje, os vinhos durienses estão numa trajetória de crescimento sustentado, ao contrário do vinho do Porto que, há 20 anos, vem perdendo terreno. O problema é que, embora ambas as denominações de origem sejam feitas com as mesmas uvas, o vinho do Porto tem a sua produção contingentada, em função das vendas e dos stocks, através do chamado ‘benefício’, enquanto que os vinhos do Douro podem ser produzidos sem qualquer limitação que não a da qualidade – têm de ser certificados como tal – e a da produtividade máxima por hectare das vinhas, estabelecido, por lei, nos 55 hectolitros por hectare.
“Enquanto o vinho do Porto gere procura, no vinho do Douro geramos oferta que é muito superior às necessidades do mercado”, diz o presidente da AEVP. E se é verdade que a solução poderá ser, apenas, esperar que a procura pelos vinhos do Douro aumente, levando a que o aumento da procura pelas uvas as valorize, António Filipe acredita que esta é uma solução “demasiado lenta”, que levará a que “a cura possa aparecer depois do paciente estar morto”.
Agir do lado da oferta, com arranque de vinha ou eliminação de produção através da chamada vindima em verde – quando as uvas são colhidas antes de se desenvolverem – é algo que a região não quer fazer, pelo que, para a associação, a questão tem de ser olhada por via da reforma administrativa do Douro.
“Não temos soluções, mas temos a certeza que o que existe hoje não pode ser mantido. É uma completa ilusão e é absolutamente sustentável”, diz António Filipe explicando que a associação propõe que o Método Moreira da Fonseca seja “atualizado e adaptado aos desafios presentes e futuros”. Moreira da Fonseca foi um engenheiro agrónomo que desenvolveu, na década de 40, um método único no mundo para classificar e pontuar os terrenos durienses, em função de 12 fatores distintos, como a incidência solar, inclinação, idade da vinha e altitude, entre outros, cujos pontos, depois de somados, permitem determinar a qualidade expectável da uva para vinho do Porto, que vai da categoria A, a mais valorizada, à I, a de menor qualidade.
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Para a AEVP a solução parece estar na redução da produtividade máxima estabelecida na lei e que é de 55 hectolitros por hectare já que, refere António Filipe, a produtividade média na região, analisada por sub-região, variou, na última década, entre os 21,80 e os 35,88 hectolitros por hectare.
“Pedimos ao Instituto dos Vinhos do Douro e Porto a constituição de um grupo inteprofissional que olhe a produtividade e adequo os seus limites às possibilidades de cada concelho e freguesia. Precisamos de adequar a oferta à evolução da procura para que, a ptrazo, se consiga um aumento sustentado dos preços à produção”, explica, frisando: “Não queremos que esta seja uma discussão política, mas técnica e científica.
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