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As maiores preocupações do sistema financeiro estão centradas nos empréstimos às empresas, especialmente nas que foram mais afectadas pela pandemia. No final de março, cerca de um terço do crédito a empresas estava sob moratória. O problema é mais grave no alojamento e restauração, já que quase 60% do crédito neste setor tinha as prestações suspensas.
Com o fim deste apoio previsto para setembro, e com a Autoridade Bancária Europeia (EBA) a afastar novos alargamentos dos prazos, têm sido várias as vozes de diferentes quadrantes a apelar a uma solução para mitigar o tsunami que pode atingir milhares de empresas. O ministro da Economia já indicou esta semana, no Parlamento, que o Estado poderá conceder algumas garantias de forma a possibilitar alargamentos dos prazos de reembolso. O objetivo, explicou Pedro Siza Vieira, é “permitir alguma carência, para que as empresas não concentrem o seu cash flow no reembolso de dívidas”. Mas o ministro não deu grandes detalhes sobre a solução que está a ser negociada.
Há meses que os empresários aguardam por indicações concretas sobre os eventuais apoios. Em reação ao anúncio de Siza Vieira, a Associação da Hotelaria, Restauração e Similares de Portugal (AHRESP) lembra que “é da maior importância que sejam disponibilizados mecanismos de capitalização, bem como uma urgente revisão dos planos de amortização a longo prazo (no mínimo por 10 anos), de forma a garantir o cumprimento das obrigações das empresas e atenuar o valor das prestações a reembolsar”. Em comunicado, a associação que representa um dos setores mais afetados sublinha ainda que aguarda “com expectativa mais esclarecimentos sobre estas duas medidas”.
Os especialistas contactados pelo Dinheiro Vivo sugerem às empresas em maiores dificuldades que preparem a negociação com os bancos para alargamento do prazo contratual e ou estabelecer um período de carência. Na visão de João Calado, coordenador do Gabinete de Orientação ao Endividamento dos Consumidores (GOEC) e professor do ISEG, também será importante “avaliar o recurso a fontes alternativas de financiamento e, no limite, considerar a redução dos gastos operacionais”.
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Apesar de acreditar que à semelhança do crédito à habitação também muitas empresas que beneficiam das moratórias não têm necessidade de continuar no mesmo regime, Filipe Garcia, economista da IMF, alerta que há vários empresários que não estarão em condições de “honrar o serviço da dívida”. “É bem possível que o fim das moratórias às empresas venha a provocar uma onda de falências nas “derrotadas” da pandemia. Receio que as empresas em causa pouco ou nada possam fazer”, lamentou. Já para a banca, avisa que poderá ser proveitoso preparar um terreno de negociação com as empresas para evitar mais falências e despedimentos.
Quanto ao tipo de soluções que podiam diminuir os efeitos desta situação, o economista defende que, no caso das empresas, havendo a possibilidade de identificar e quantificar o impacto da pandemia e eventual viabilidade das mesmas, poderia fazer sentido “a reestruturação rápida da dívida, sem passagem pelos trâmites habituais como Processo Especial de Revitalização (PER) ou insolvências”.
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