Mario Draghi, presidente do Banco Central Europeu (BCE), comprometeu-se a fazer mais empréstimos baratos para os bancos da zona euro. Uma medida que vai retirar pressão ao setor financeiro dos países do sul, incluindo Portugal. A banca nacional tem quase 20 mil milhões de liquidez de prazo alargado concedida pelo BCE.
Os bancos portugueses estão no top 5 dos que pedem mais dinheiro, apesar de terem reduzido a dependência de forma acentuada nos últimos anos. Em relação aos ativos, Portugal é o terceiro país que mais recorre à liquidez do banco central. Equivale a quase 5% dos ativos. Apenas Itália e Espanha têm uma dependência maior. Os empréstimos do BCE teriam de começar a ser pagos a partir de junho do próximo ano, o que criava o risco de uma “congestão” de financiamento que poderia criar dificuldades à banca.
A esmagadora maioria desses financiamentos dizem respeito à segunda fase das operações de refinanciamento de prazo alargado direcionadas (TLTRO na sigla em inglês) feitas desde junho de 2016. Foi dinheiro dado aos bancos a quatro anos, com custo zero ou mesmo pagando-lhes caso o emprestassem à economia.
Para evitar que os bancos tivessem de ir ao mercado ou de usar o dinheiro em caixa para pagar esses empréstimos, o BCE decidiu nesta semana que vai fazer novos TLTRO a partir de setembro, desta vez a dois anos.
Os prós e os contras
Mario Draghi justificou mais dinheiro grátis com “a congestão do financiamento dos bancos nos próximos anos causada pela aproximação dos reembolsos do TLTRO existentes, de amortizações consideráveis de obrigações e pelo cumprimento de requisitos regulatórios”.
Além de ter de pagar os TLTRO, o sistema financeiro nacional debate-se ainda com a necessidade de emitir dívida elegível para fundos próprios suscetíveis de absorver perdas em caso de resolução (MREL). Esse é um dos grandes desafios identificados pelo Banco de Portugal.
Os analistas do Commerzbank consideram que o impacto da medida será sentido principalmente pelos bancos da periferia. Filipe Garcia, economista da IMF, refere que a medida é “uma notícia positiva, apesar de ser já esperada”. Do lado de quem avalia a qualidade do crédito dos bancos, a análise também é positiva. A agência Moody’s espera que este “novo programa mitigue os riscos de financiamento da banca” da zona euro.
Mas existe o reverso de medalha. O BCE decidiu mais rondas de dinheiro grátis porque cortou as perspetivas de crescimento para a economia da zona euro. E, para dar novo empurrão à retoma, além do novo ciclo de empréstimos, vai manter os juros em 0% e a taxa de depósitos em -0,40% por mais tempo do que o anteriormente sinalizado. Só deverão começar a subir em 2020.
“As taxas negativas têm sido um desastre para muitos bancos, especialmente em Itália, Espanha e Portugal”, observa a Schroders. A gestora considera um erro manter os juros nestes níveis por muito mais tempo. E os investidores também não estão agradados, castigando as ações do setor desde a reunião do BCE da passada quinta-feira.
O novo TLTRO é ainda encarado como uma forma de manter à tona bancos em dificuldades. “Os bancos que continuam a usar este recurso são menos estáveis do que a maioria, e muitos estão concentrados em Itália”, refere a Schroders. O sistema financeiro desse país deve 250 mil milhões ao BCE, um terço do total de 740 mil milhões da zona euro.
Quanto devem os bancos?
Novo Banco
O banco deve 6,4 mil milhões (5,9 mil milhões líquidos de depósitos no BCE).
BCP
O valor dos TLTRO é de quatro mil milhões (2,7 mil milhões líquidos).
BPI, Santander e Montepio
O BPI tem recursos de bancos centrais de quatro mil milhões. O Montepio deve 1,5 mil milhões. O Santander tinha 4,4 mil milhões (1,9 mil milhões líquidos).
CGD
Pagou antecipadamente três mil milhões de TLTRO.
Deixe um comentário