Partilhareste artigo
Mais de metade dos portugueses consideram “mais difícil” fazer escolhas sustentáveis, quando vão às compras, dada a conjuntura social e financeira atual. A nível global, a fatia de consumidores que não pode fazer escolhas sustentáveis por questões financeiras é de 45%, em Portugal é de 54%. O que não admira, se atendermos a que, de acordo com um inquérito realizado pela Kantar, 62% dos portugueses assumem ser “difícil” ou mesmo “muito difícil” fazer face às despesas com produtos alimentares e bens essenciais.
Relacionados
A inflação, a guerra e a instabilidade política são questões que estão a preocupar crescentemente as famílias portuguesas e a obriga-las a mudar as suas escolhas, indica o mais recente estudo da consultora de mercado, cujos dados foram divulgados pela Centromarca – Associação Portuguesa de Empresas de Produtos de Marca, parceira no segmento do retalho alimentar. Intitulado “Who Cares, Who Does?”, o estudo mostra, ainda, que a estabilização da pandemia, e o regresso ao trabalho presencial, se traduzem num aumento da frequência de compra de comida já pronta, já que se passa menos tempo em casa.
“As dificuldades económicas e a progressiva quebra do poder de compra das famílias está a conduzir a uma racionalização do consumo e a um foco nos produtos mais básicos e de menor preço”, refere o diretor-geral da Centromarca, Pedro Pimentel, que acrescenta: “Uma parcela importante dos produtos mais sustentáveis está, atualmente, fora das primeiras prioridades dos consumidores, o que gera os presentes resultados e esta suposta menor preocupação ambiental, que – diga-se – é comum à generalidade dos mercados europeus”.
A verdade é que, apesar de tudo, os consumidores portugueses são ainda dos que, a nível europeu, mais procuram comprar frescos, como a carne, o peixe, as frutas ou os vegetais, produzidos localmente. A média europeia é de 41%, a nível mundial sobe para os 44%, mas em Portugal 46% dos consumidores dão importância à compra de frescos locais, sendo que 67% dizem fazê-lo para apoiar os produtores ou pescadores locais enquanto 57% dizem que a razão se prende com o fato de serem produtos “mais saborosos”.
Há ainda 33% que que apontam a questão da diminuição da pegada de carbono como razão de base para esta escolha, seguidos de 20% que indicam que estes produtos locais são “mais baratos”.
Subscrever newsletter
As questões da sustentabilidade são ainda um fator importante para as famílias portuguesas e a prová-lo está o facto de 80% dos consumidores levarem o seu próprio saco para as compras e de 70% dos inquiridos indicarem que procuram comprar embalagens “mais amigas do ambiente”. A questão é, na verdade, só 19% é que consegue evitar “regularmente” as embalagens de plástico. Indica o estudo que 51% da população portuguesa quer fazer mais pelo ambiente, o que representa um valor potencial de 3,6 mil milhões de euros, diz a Kantar.
O estudo, que contemplou um inquérito a 99 mil pessoas em 24 países, com o objetivo de entender de que forma a sustentabilidade pode ser uma vantagem competitiva para as marcas, mostra ainda que 63% da população diz dar preferência a produtos de empresas que financiem iniciativas locais ou apoiem instituições de caridade, ao mesmo tempo que mais de metade dos consumidores assumem “duvidar das reais preocupações ecológicas das marcas, vendo-as sobretudo como uma ferramenta de marketing”.
Significativo é o facto do estudo mostrar que, pela primeira vez em três anos, há um decréscimo efetivo no número de consumidores mais preocupados com o ambiente: só agora 19% quando, o ano passado, representavam 23%. A Kantar lembra que, somados aos que até gostariam de ser mais amigos do ambiente, mas admitem que o preço dos produtos sustentáveis é uma barreira, estes consumidores valem, no total, seis mil milhões de euros em gastos em bens de grande consumo, ou seja, nas compras do retalho alimentar.
“Apesar dos resultados que este estudo mostra, é expectável que este valor volte a aumentar em breve”, refere Marta Santos, da Kantar, sublinhando que “a nossa estimativa indica que o grupo dos [consumidores] eco-ativos pode representar até 43% da população portuguesa em 2027”.
Deixe um comentário