O investidor espanhol desapareceu do ranking das maiores compras de imobiliário por não residentes em Portugal em 2017. Este é um setor cada vez mais francófono. De França, chegou quase um quinto do investimento por estrangeiros, segundo dados do Instituto Nacional de Estatística divulgados ontem. Os belgas representaram 4%, e os suíços 5,5%.
No ano passado, 7,7% dos imóveis vendidos em Portugal foram adquiridos por não residentes. Foram 2,78 mil milhões de euros – 12,5% dos valores captados. E França liderou, com 19,6% das compras. Reino Unido, Brasil, China e Suíça foram os seguintes maiores pontos de origem do investimento. Mas, Espanha, que em 2016 era a quarta maior compradora, desapareceu do top 5.
“Não me lembro já do último cliente espanhol que tive”, diz Tiago Grácio da PortugalRur, imobiliária especializada em vendas de quintas, com três quartos das transações a estrangeiros. Grácio diz que os espanhóis eram compradores fortes de terrenos rústicos, e favoreciam zonas de raia nos distritos de Évora, Portalegre ou Bragança. “Sempre foi um cliente bem típico nosso. Mas, de um momento para outro, desapareceu”.
Apesar de o mercado espanhol ser um investidor importantíssimo em Portugal, o investimento no imobiliário não tem estado na mira”, diz Enrique Santos.
A Câmara de Comércio e Indústria Luso-Espanhola explica porquê. Em 2017, o investimento espanhol em imóveis ficou por 1,8 milhões de euros. “Apesar de o mercado espanhol ser um investidor importantíssimo em Portugal, o investimento no imobiliário não tem estado na mira”, diz o presidente Enrique Santos. 2018 já será diferente. Até junho, os espanhóis aplicaram 88,6 milhões de euros, acima dos níveis de 2016.
Os espanhóis investiram menos, mas também foram empurrados para baixo pelas outras nacionalidades. A Associação dos Profissionais e Empresas de Mediação Imobiliária em Portugal (APEMIP) salienta o caso do Brasil. “O potencial de investimento dos brasileiros tem crescido e deverá continuar a aumentar face à instabilidade política, social e económica que se vive no Brasil”, prevê o presidente Luís Lima.
Fora dos circuitos das grandes vendas a estrangeiros – Algarve, Lisboa e Porto – as regiões oeste e de Coimbra concentraram 9,6% das transações.
Tiago Grácio diz que é em Coimbra que tem feito o maior número de vendas de imóveis a brasileiros. Mas, na zona centro, dominam hoje franceses, belgas e suíços. Fora dos circuitos das grandes vendas a estrangeiros – Algarve, Lisboa e Porto – as regiões oeste e de Coimbra concentraram 9,6% das transações. “Geralmente, são pessoas acima dos 55, 60 anos. Procuram um sítio onde vão viver permanentemente, ou passar metade do tempo”.
Para isso, contribuem os benefícios fiscais atribuídos aos residentes não habituais, diz o especialista da PortugalRur, mas também os preços do imobiliário. “O valor dos imóveis anda muito abaixo dos preços praticados nas zonas de Lisboa ou do Porto. Consegue-se arranjar casas de campo e pequenas quintas por valores de quase metade”, diz Grácio.
“A Região do Oeste e o Turismo do Centro têm feito um trabalho muito interessante no que diz respeito à sua promoção enquanto destino de investimento. É habitual vê-los representados em feiras internacionais, apostando na captação de investimento estrangeiro, e não haja dúvida de que este trabalho tem retorno, e que ganha especial representatividade uma vez que nesta região os valores dos ativos são mais baixos do que em Lisboa, Algarve ou Porto, surgindo assim como uma boa alternativa de investimento”, junta o presidente da APEMIP.
“Lisboa está fora do entendimento, com preços malucos”, diz Jean Pierre Hougas, o presidente da União dos Franceses no Estrangeiro (UFE) nas regiões centro e oeste. “Nas Caldas da Rainha, na região oeste, podemos encontrar casas por volta de mil euros por metro quadrado”, descreve; em Lisboa, nos centros históricos, chegam a passar 6000 euros o m2 .
O capítulo da organização histórica de apoio aos franceses na diáspora que Hougas dirige, com sede nas Caldas, conta 550 sócios. Organiza eventos onde comparecem até 1800 francófonos, não só de França, mas também da Bélgica e da Suíça. Em todo o país, os membros da UFE são mais de três mil, e Jean Pierre Hougas arrisca que são hoje “a maior associação em Portugal”.
O oeste dá-lhes as praias que vão da Ericeira à Figueira do Foz, o golfe, os centros históricos de Óbidos a Alcobaça, e o ski da Serra da Estrela no inverno. “Só Caldas da Rainha tem mais de 10 museus. E tudo está perto, a menos de uma hora de carro”.
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