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O secretário-geral do Conselho Nacional da Água defendeu hoje que os agricultores devem pagar pela água e alertou que Portugal está a “atirar literalmente” para o mar 400 milhões de euros ao ano por não reutilizar aquele recurso.
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Em entrevista à Lusa, Poças Martins alertou que a “água de graça” e subsídios dados aos agricultores “são perversos” e que é preciso “uma mudança de paradigma” na agricultura portuguesa.
O também ex-secretário de Estado do Ambiente no último Governo de Cavaco Silva reafirmou que a construção de barragens não é solução no combate à seca, mas sim “adaptar as utilizações” de água à disponibilidade, “poupar, ser mais eficiente [no uso de água] e fazer contas”.
“Neste momento não podemos estar a pedir mais barragens enquanto os agricultores não forem eficientes na rega. Não podemos estar a fazer mais barragens e depois regar por aspersão em agosto”, defendeu.
Segundo Poças Martins, a rega em Portugal “não é feita de forma parcimoniosa” pelos agricultores porque não se fazem contas: “Em Portugal praticamente não se paga pela água [para a Agricultura] e não se mede a água e por aquilo que não se mede nem se paga, não se poupa”, afirmou.
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O docente na Faculdade de Engenharia da Universidade do Porto considerou que em Portugal se podia gastar menos água na Agricultura.
“Os agricultores têm que ser mais eficientes na água, têm que escolher melhor as suas culturas. Por exemplo, como em Portugal os solos não são propícios para os cereais, que gastam muita água, Portugal praticamente não faz cereais e isso é bom, não podemos pensar que devemos ser mais autossuficientes em cereais porque não temos condições para isso”, apontou.
Segundo disse, “há países com menos água do que Portugal e que estão melhores”, porque, salientou, “fazem algo que em Portugal não se faz de todos e que é o verdadeiro caminho, reutilizar água”.
Em Portugal, referiu Poças Martins, são desperdiçados milhões de litros de água: “Nós temos uma quantidade de água gigante, água residual, que estamos a desperdiçar no mar, em que já gastamos 60 ou 70 cêntimos por metro cúbico para tratar, são 600 mil milhões de litros, que dá cerca de 400 milhões de euros por ano que estamos a atirar literalmente para o mar”, alertou.
Para o docente, em Portugal não se reutiliza a água porque “s agricultores vão buscar água aos poços pagando zero, vão buscar água aos rios pagando zero e ao Alqueva pagando 0,03 cêntimos por litro”.
“Se os agricultores pagassem mais pela água, seria económico reutilizar essa água que está neste momento a ser atirada ao mar. Tem que haver uma mudança de paradigma na agricultura, como houve há 20 anos com a água para abastecimento público”, explicou.
Os subsídios pagos aos agricultores são, também, outro problema apontado pelo ex-governante: “A generalidade dos agricultores como tem a água barata e como estão, permanentemente, habituados a muitos subsídios, não são eficientes (…), os subsídios são perversos”, classificou.
“A maior ajuda em Portugal aos agricultores, mas que talvez não seja ajuda, é dar água de graça, porque a água de graça é perversa, não estimula o desenvolvimento, não estimula a poupança, não estimula a eficiência”, finalizou.
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