//Estado da Nação. Fundação lança desafio para transformar o emprego em Portugal

Estado da Nação. Fundação lança desafio para transformar o emprego em Portugal

A pandemia destapou e realçou as falhas que já eram sentidas há anos no mercado e visíveis nas estatísticas. Portugal não brilha nos indicadores de ensino e deixa muitas empresas sem resposta, em termos de formação e qualificação de trabalhadores.

Este primeiro “Estado da Nação”, um trabalho de investigadores da Universidade do Minho e da Universidade de Aveiro, conclui que o mercado de trabalho não está a valorizar as competências adquiridas: “uma parte substancial dos jovens com ensino superior não está empregada (19,4%) ou está a trabalhar em ocupações que não exigem este nível de ensino (15%). A fundação defende que “é necessário garantir o alinhamento entre a educação e o mercado de trabalho, em termos de áreas de estudo, competências desenvolvidas, duração e formato da oferta educativa”.

O emprego tornou-se “mais envelhecido, qualificado e concentrado em setores de alta tecnologia e conhecimento, principalmente no setor dos serviços”. As necessidades do mercado aumentaram em áreas como a ‘Programação e Design de tecnologia’, ‘Interpretação científica-matemática’ e ‘Análise e Avaliação de sistemas’. Já as “atividades mais manuais e operacionais estão a perder terreno”.

Licenciados perdem salário

“Estudar compensa”, garante à Renascença o presidente executivo da Fundação José Neves. Apesar de o salário médio real dos licenciados ter caído cerca de 17%, entre 2010 e 2018, “em média, um licenciado em Portugal ganha mais 750 euros que um trabalhador só com o secundário”. A qualificação revela-se como uma vantagem, ao longo da vida, acrescenta.

Por outro lado, foi a qualificação que protegeu (e ainda protege) muitos jovens do desemprego na crise que atravessamos, defende Carlos Oliveira. “Durante a pandemia, a probabilidade de ficar desempregado aumentou em cerca de 70% para jovens, 50% para os trabalhadores menos escolarizados e duplicou para os trabalhadores do setor do alojamento e restauração.” Os jovens ficaram mais vulneráveis devido à “menor experiência profissional e aos vínculos laborais menos estáveis”.

Teletrabalho só para 30%

A pandemia pode ter acelerado o trabalho em casa, mas esta continua a ser uma possibilidade reservada apenas a trabalhadores mais qualificados e experientes e ao alcance de menos de um terço da população.

Segundo este estudo, “62% dos trabalhadores estão em profissões com baixa probabilidade de serem exercidas em casa”. Carlos Oliveira acrescenta que nem todos os que podiam acabaram por ir trabalhar para casa, só uma parte ficou em teletrabalho.

Os investigadores concluem, assim, que “não é evidente que se tenha iniciado um movimento de transição para um modelo de teletrabalho mais permanente e generalizado.”

Aumenta o fosso inter-geracional em qualificação

Além de penalizar os menos qualificados, a pandemia acentuou o ‘gap’ inter-geracional na população ativa, no plano da qualificação, que em Portugal já é dos maiores da União Europeia.

“Enquanto três em cada quatro jovens adultos têm pelo menos o ensino secundário completo (75,2%), nem metade dos adultos mais velhos concluiu esse nível de ensino (46,5%). Esse ‘gap’ inter-geracional de quase 29 pontos compara com 7,9 pontos na média europeia e é o maior de todos os Estados-membros”, refere o estudo.

Estes dados são agravados pela baixa participação em formação ao longo da vida. Em 2019, apenas 10,5% dos portugueses fizeram ações de formação, um valor que desceu ligeiramente na última década. Além disso, os que mais participam são os mais qualificados (21,2%), “entre os adultos menos escolarizados apenas 4,2% participa em aprendizagem ao longo da vida”.

Sem surpresa, uma vez que já tem sido referido noutros estudos, as mulheres são em média mais qualificadas, mas têm salários inferiores. “A disparidade salarial entre géneros atingia os 28%, 38% e 32% entre os que têm o ensino secundário, licenciatura ou mestrado, respetivamente, sempre a favor dos homens”, segundo o relatório.

Ambição para 2040

Este relatório alerta para “o risco de coexistir escassez de competências e uma parte significativa da população com competências obsoletas”. A solução passa pela educação e formação, “transformar Portugal numa sociedade do conhecimento”.

Para lá chegar, o documento traça várias metas a 20 anos, indicadores-chave de uma sociedade do conhecimento, organizados em três eixos: educação, emprego e alinhamento entre educação e emprego.

. Educação

– 15% adultos com baixa escolaridade (- 33 pp)

– 5% jovens adultos com baixa escolaridade (- 20 pp)

– 45% adultos com ensino superior (+ 19 pp)

– 60% jovens adultos com ensino superior (+ 23 pp)

. Alinhamento educação-emprego

– 25% adultos participem em educação e formação (+ 15 pp)

– 90% jovens recém-formados empregados (+ 13 pp)

. Emprego

– Portugal no TOP10 dos países com mais emprego em tecnologia e conhecimento

Orçamento das bolsas pode disparar. Procuram-se parceiros

A fundação não quer estar sozinha e abre a porta a outras organizações sem fins lucrativos, que se queiram juntar nesta ambição. O objetivo é a qualificação dos jovens, a requalificação da população com baixas qualificações, a promoção da aprendizagem ao longo da vida, o alinhamento entre educação/formação e necessidades do mercado de trabalho, o acompanhamento e antecipação das necessidades do mercado de trabalho e a diversificação da oferta educativa.

Carlos Oliveira, presidente executivo da fundação, admite à Renascença multiplicar o orçamento atual das bolsas de estudo reembolsáveis, que até ao próximo ano conta com cinco milhões de euros.

“Uma das coisas que estamos a fazer já, em articulação com a Nova SBE, é avaliar o impacto mais sistémico destas bolsas. Estamos a estudar se, em vez de cinco milhões, tivéssemos 10, 15, 20 ou 50, se teríamos um impacto sistémico no país”, avança.

“Se tivermos fundamentação para isso, o que vamos fazer é encontrar outras entidades, publicas e privadas, que possam juntar-se a este programa, assim como nós juntarmo-nos a outros programas, para terem mais força e criar impacto”, diz o responsável pela fundação.

Todos se podem candidatar a esta ajuda. Carlos Oliveira deixa o convite para que aproveitem esta oportunidade de formação. A avaliação é feita pela vontade e oportunidade de progressão. Mesmo quem tem um bom salário, mas não tem rendimento disponível no momento, pode ver o nome aprovado.

A saúde mental

Depois das bolsas reembolsáveis para formação, a fundação apresenta agora um novo programa, que visa o desenvolvimento pessoal e o bem-estar dos portugueses.

Em linha com a missão da FJN, o objetivo é despertar a consciência individual, através de uma ferramenta, gratuita, que combina tecnologia com psicologia. O foco está na saúde mental e no equilíbrio emocional.

A aplicação tem conteúdos validados cientificamente e programas criados com várias universidades, nacionais e internacionais.

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