Como é que as políticas públicas podem combater esta distorção do mercado?
A lei económica diz-nos que a resposta é muito simples: aumentar a oferta. Tem de se construir. Se nós permitimos a construção, o aumento da oferta vai aliviar a pressão, a que chamou de distorção, e que na economia chamamos de desequilíbrio − pois há um excesso de procura e tudo o que nós temos de fazer é resolver a procura, ou criar leis para limitá-la.
Mas nem sei se é legal, do ponto de vista internacional, por poder ser discriminatório.
A solução mais fácil e mais eficaz é a de acelerar os processos de certificação dos projetos para que a produção e a disponibilidade de casas aumentem e se reduza a pressão da procura.
Ainda no mercado imobiliário, que impacto terá esta subida das taxas de juro? Acha que podemos ter uma crise igual à de 2013 com muitas famílias a terem de entregar as casas aos bancos?
Tendencialmente eu acho que não, porque as condições são ligeiramente diferentes. Na altura, o que aconteceu foi um choque no grande consumidor da economia, o Estado, que ficou limitado.
Isso provocou também uma recessão brutal, aumentos brutais do desemprego, chegou aos 17%, e as pessoas ficaram sem capacidade financeira para pagar a casa.
Agora as pessoas continuam a trabalhar. Não é a subida da taxa de juro que vai criar a recessão por si, não é o objetivo. Vai reduzir a atividade económica, vai tornar o crédito mais caro, mas tendencialmente diria que o efeito não se vai sentir com tanta força.
Mas os salários não crescendo, o custo de vida aumentando com a inflação, e em cima disso as famílias levarem ainda com uma prestação mais pesada no crédito à habitação, é expectável que a família média em Portugal consiga fazer face a esta subida?
Não nos podemos esquecer que nós estivemos confinados bastantes meses, o que nos permitiu aumentar um pouco a nossa folga.
Isso dá-nos alguma margem para fazer face a um problema, uma subida, por exemplo, do crédito. Dependendo do montante de subida à partida, o problema será resolvido.
O segredo vai estar no desemprego, se o desemprego continua baixo, os trabalhadores terão algum poder negocial para exigir subir os salários. Não tanto como a inflação, mas vai acontecer uma subida de salários e com isso consegue-se pelo menos contrariar parte do efeito da inflação.
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