Já há mais hospitais privados do que públicos em Portugal. No ano passado, o Estado pagou 469,184 milhões de euros em exames e análises aos privados, mais 20 milhões do que em 2017, revela a reportagem “O Negócio da Saúde”, transmitido esta terça-feira, na RTP.
Salvador de Mello (José de Mello Saúde), Isabel Vaz (Luz Saúde) e Vasco Antunes Pereira (Lusíadas) são os rostos de três impérios que juntos, movimentam 1,5 mil milhões de euros por ano.
O grupo José de Mello Saúde, detentor dos hospitais Cuf, gere ao abrigo das parceiras público-privadas (PPP) o hospital de Vila Franca de Xira e o de Braga. O Estado paga ao grupo 220 milhões de euros por ano por esta gestão. Salvador de Mello reconhece o trabalho realizado na unidade de Braga, que foi distinguido como o melhor hospital do país pela Entidade Reguladora da Saúde, mas afirma que, do ponto de vista do negócio, perderam “muito dinheiro”.
O dono da Cuf fatura 660 milhões de euros por ano.
“Parece que o Estado fez estas parcerias porque precisava de dinheiro. Foi um casamento por interesse”, diz Isabel Vaz, CEO do Luz Saúde. O Estado paga 100 milhões de euros ao grupo Luz Saúde para gerir o hospital Beatriz Ângelo. “Temos resultados negativos com a parceria”, destaca.
A faturação do Luz Saúde ascendeu aos 544 milhões de euros no ano passado. O grupo está a construir uma nova unidade em Lisboa para somar às 29 já existentes, um investimento de 100 milhões. Nova unidade vai contratar entre 800 a 900 novos profissionais, conta Isabel Vaz.
O grupo Lusíadas tem 10 unidades de saúde no país. Fatura 300 milhões de euros por ano. Sob a sua gestão, no âmbito das PPP, tem o hospital de Cascais, recebendo 75 milhões de euros do Estado para o fazer.
“Nós temos uma focalização no cliente muito diferente daquilo que tem sido o nosso SNS”,afirma Vasco Antunes Pereira.
Os privados têm cada vez mais peso na vida dos portugueses. Em 2018, o império José de Mello Saúde realizou 2639 milhões de consultas. Com 18 clínicas e hospitais em Portugal, a Cuf Descobertas duplicou. A obra ainda não tem um ano, e o grupo já tem data de abertura para a Cuf Tejo, um investimento de 150 milhões de euros.
“As tendências do setor são muito claras, as necessidades de saúde são crescentes, o envelhecimento da população é um fator que leva a que as pessoas tenham de procurar cada vez mais cuidados de saúde”, defende Salvador de Mello.
O futuro das PPP na saúde é incerto, com o hospital de Braga em processo de reversão da gestão para o Estado (a 1 de setembro deste ano passa a ser gerido por uma equipa do SNS), por falta de entendimento com a José de Mello Saúde para a prorrogação do atual contrato e também não foi lançado, entretanto, um novo concurso público. Em Cascais, o contrato foi estendido, mas também ainda não há novo concurso e em Vila Franca de Xira, a Administração Regional de Saúde está a negociar com o grupo José de Mello Saúde uma possível extensão do contrato que ainda está em vigor e que termina em 2021. O contrato da Luz Saúde com o Estado no Hospital e Loures termina em 2022.
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