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Só num mês, registou-se um aumento de cinco mil milhões de euros no endividamento da economia portuguesa. Famílias, empresas e Estado somam um endividamento que atingiu um novo recorde, ao situar-se, em junho, nos 762,5 mil milhões de euros.
O novo máximo histórico não surpreende. O endividamento do setor não financeiro tem batido máximos todos os meses. E a tendência deverá manter-se, à medida que se tenta minimizar os impactos da crise económica provocada pelas medidas adotadas no âmbito da gestão da pandemia.
“Os apoios à crise vão continuar e, neste cenário, muito provavelmente, vai levar a que continue a subir o endividamento”, disse Filipe Garcia, economista da IMF-Informação de Mercados Financeiros. “Os bancos continuam também a querer dar incentivos à contratação de crédito”, adiantou.
No primeiro semestre deste ano, o endividamento do setor não financeiro aumentou 14,1 mil milhões de euros, comparando com o mês de dezembro de 2020. “Esta subida deveu-se aos aumentos de 8,1 mil milhões de euros do endividamento do setor público e de 6,0 mil milhões de euros do endividamento do setor privado”, referiu o Banco de Portugal numa nota de informação estatística divulgada ontem.
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Do total de endividamento, “350,5 mil milhões de euros respeitavam ao setor público e 412,0 mil milhões de euros ao setor privado”.
Segundo o Banco de Portugal, o aumento registado no “endividamento do setor público resultou, sobretudo, dos acréscimos registados no endividamento junto do setor financeiro [4,4 mil milhões de euros] e no endividamento perante o exterior [3,0 mil milhões de euros]”. Comparando com o valor de endividamento registado em junho de 2020, o aumento no caso do setor público foi de 6,8%.
No caso das empresas, o endividamento cresceu 4,0 mil milhões de euros, “subida explicada principalmente pelo financiamento obtido junto do setor financeiro [2,2 mil milhões de euros] e do exterior [1,8 mil milhões de euros]”. O endividamento das sociedades não financeiras fixou-se em 267,9 mil milhões de euros no final de junho deste ano. Trata-se de uma subida de 1,5% em termos homólogos.
Quanto aos particulares, o endividamento subiu 2,0 mil milhões de euros, para um máximo desde março de 2015, nos 143,9 mil milhões de euros, “refletindo o incremento do financiamento obtido junto do setor financeiro”. Em termos de variação face a junho de 2020, o aumento foi de 2,3%.
Quanto à tendência, a taxa de variação anual (TVA) do endividamento total das empresas privadas foi de 1,6%, mais 0,1 pontos percentuais (pp) do que o verificado no final de 2020. Mas regista um abrandamento pelo terceiro mês consecutivo. Quanto à TVA do endividamento total dos particulares, subiu 1,3 pp, para 2,7%, registando um acelerar pelo quarto mês consecutivo, segundo dados do Banco de Portugal.
Filipe Garcia lembra que, devido às moratórias que estão ainda em vigor, o stock de dívida não tem diminuído como deveria, por haver menos amortização. No caso da moratória pública no crédito à habitação, o prazo termina no final do próximo mês de setembro.
No global, o saldo de empréstimos abrangidos por moratórias no final de junho era de 37,5 mil milhões de euros, dos quais 14,4 mil milhões de euros respeitavam a créditos da casa.
Para Filipe Garcia, os dados divulgados ontem pelo Banco de Portugal, que mostram uma evolução do aumento do endividamento da economia, são preocupantes, apesar de não se esperar para breve uma subida das taxas de juro de referência nem uma mudança na política de estímulos económicos do Banco Central Europeu.
Debilidades
Mas este aumento do endividamento coloca Portugal numa situação mais débil. “Um maior nível de endividamento é sempre uma debilidade”, disse o mesmo economista. “Quer dizer que a economia como um todo está vulnerável a choques”, adiantou. “Mas o Banco Central Europeu estará sempre preocupado em não repetir uma nova crise de dívida, como a de 2011, que foi uma grande ameaça à moeda única”, apontou.
Para Filipe Garcia, o aproximar do fim das moratórias deverá levar a alguma redução do stock de endividamento, sobretudo no caso dos particulares. “Mas há um conjunto de medidas que vão ser postas à disposição das empresas que vão contribuir para o aumento do endividamento”, adiantou. Lembrou que continuara a haver “um convite ao endividamento por parte dos bancos e há agentes económicos que estão a aceitar”.
No caso das famílias, a Deco – Associação Portuguesa para a Defesa do Consumidor alertou esta semana que há mais famílias a recorrer ao crédito fácil – cartões de crédito e linhas a descoberto – para pagar despesas e avisou que problema se vai agravar com o fim das moratórias no crédito à habitação no final de setembro. Na totalidade dos novos créditos ao consumo, os portugueses endividaram-se em 16,6 milhões de euros por dia no primeiro semestre deste ano.
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