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Voltar às manifestações não está excluído, mas se até verão nada mudar, Alberto Cabral coloca um ponto final em três décadas de trabalho. Este proprietário de várias discotecas esteve na greve de fome, em frente a Assembleia da República, e espera que o Governo não abandone o setor.
“Se o Governo nos deixar abrir antes do verão e nos apoiar na retoma, eu voltarei. Depois do verão penso que não. Provavelmente, irei emigrar. São 30 anos de noite, mas temos seis discotecas fechadas há um ano e estamos cansados. Precisamos que o Governo nos deixe abrir ou nos dê um apoio que nos ajude a combater esta dívida”, desabafa.
Alberto Cabral integra o movimento Sobreviver a Pão e Água, cujo porta-voz reconhece que o executivo deu resposta a algumas das exigências. Em declarações à Renascença, José Gouveia critica, contudo, alguma demora nos apoios.
“O nosso grande apontar de dedo é à lentidão de todo este processo. Estamos a falar de empresas que apenas ao final de um ano começam a receber os seus apoios. Desde então os custos fixos não desapareceram”, explica.
Alberto Cabral faz outra crítica: um empresário com mais do que uma discoteca e outro com apenas uma recebem o mesmo apoio.
Lembra ainda que o fim das moratórias vai ser um tsunami para muitas empresas. “Ao nível das rendas, não aderi às moratórias, mas há colegas meus que, só em rendas, têm de pagar 400 mil euros quando isto abrir. É impossível. E depois o programa Apoiar é quase um ‘não Apoiar’. Por exemplo, no nosso caso, com várias discotecas, temos o mesmo apoio que um empresário de um bar ou de um empresário que tem apenas uma”, critica.
José Gouveia afirma que o desconfinamento está a gerar expectativas. O modelo já anunciado pelo Reino Unido é visto como um possível plano a seguir. No entanto, pede mais eficácia na comunicação de medidas. Lembra o que se passou no Ano Novo, quando “o Governo anunciou que era possível o prolongamento de horário até à 1h, com os restaurantes a reforçar o stock para poderem trabalhar nesse dia e depois, uma semana antes, decretou que não haveria passagem de ano”.
“Às vezes, há aqui alguns erros de comunicação que criam mais prejuízos às empresas, que não têm onde ir buscar mais rendimento, o que leva a um esvaziar das tesourarias dos empresários”, explica.
Comunicação com o Governo é essencial
Este empresário do setor da restauração alerta que, perante essa realidade, pode haver quem não chegue ao fundo do túnel. Valoriza, por isso, o canal de comunicação com o Governo, nomeadamente com o secretário de Estado do Comércio e Serviços, João Torres. José Gouveia revela que há um trabalho exaustivo junto do Ministério da Economia.
A postura do movimento Sobreviver a Pão e Água tem sido mais discreta. José Gouveia explica que resulta de alguma mágoa perante leituras políticas e críticas associadas aos elementos mais mediáticos do movimento. Alberto Cabral não exclui um regresso a manifestações, mas diz que o tempo é de resistência.
“Estamos a resistir, estamos a deixar passar o tempo. Não vale a pena andarmos na rua em manifestações, porque o Governo sabe que tem aqui estes empresários desesperados”, conclui.
Os empresários da restauração, bares e discotecas e da hotelaria querem regressar ao trabalho em pleno. Entendem que, no atual quadro da pandemia, não podem ainda abrir os seus estabelecimentos. Dizem-se preparados para cumprir todas as regras sanitárias, como garantem ter feito no passado. Receiam, no entanto, que a descapitalização das empresas não permita a reabertura.
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