A Web Summit rendeu menos a Portugal do que se esperava entre os anos de 2016 e 2019, a última edição para a qual existem dados. A conclusão é de um estudo do Gabinete de Estudos Económicos do Ministério da Economia, que recomenda a descentralização da conferência tecnológica.
De acordo com o documento, divulgado esta quarta-feira, a quebra de rendimentos foi de cerca de 40% em relação às previsões (consulte aqui o estudo em formato PDF).
Sobre a estimativa para 2019, um primeiro estudo, publicado em 2018 previa ganhos de 124,3 milhões de euros de valor acrescentado bruto e de 58,4 milhões de euros de receita fiscal, num cenário que contempla a visita de perto de 60 mil participantes estrangeiros, com estadia média de cinco noites.
Contudo, o novo estudo divulgado esta quarta-feira aponta já para um valor acrescentado bruto de 69,8 milhões de euros e de apenas 29,7 milhões de receita fiscal. Trata-se, respetivamente, de uma diminuição de 44% e de 49,2%.
A redução também atinge as previsões para a criação de postos de trabalho, com uma primeira estimativa de 2.911 empregos a ser revisto em baixa para 1.915.
Os dados têm de ser lidos no contexto também de uma diminuição de despesa associada à Web Summit, de 99,4 milhões de euros para 86 milhões. São ao todo menos 13,4 milhões de euros gastos pelo Estado, mas que em termos percentuais não acompanham as quedas fiscais e de valor acrescentado bruto, ficando-se pelos 13,5%.
O estudo analisa ainda outros cenários, com algumas variações nos valores e nas percentagens, mas em todos os casos se verificam quedas significativas entre as previsões de 2016 e 2019.
Descentralizar e manter caráter internacional
O estudo do Gabinete de Estudos Económicos do Ministério da Economia faz um conjunto de recomendações, entre as quais está a descentralização da conferência.
“Incentivar à organização para que inicie um processo de descentralização do evento, com microeventos noutras cidades do país. Segundo a interpretação de alguns investidores, o evento deveria ser cada vez menos lisboeta e cada vez mais português”, refere o documento.
Condicionar o apoio do Estado ao evento “à manutenção do seu caráter internacional” e no sentido de continuar a ser um “learning event”.
“Para esse efeito, os organizadores devem assegurar que na Web Summit estão presentes as últimas tecnologias e que os palestrantes garantem intervenções de interesse e com valor acrescentado para os participantes”, sublinha o estudo.
O Governo também é aconselhado a acompanhar as iniciativas da organização da Web Summit destinadas a replicar eventos similares noutros países, como por exemplo o recentemente anunciado no Brasil em 2022.
“Enquanto forem complementares e permitam escalar o evento, estas spin-offs podem ser positivas para o conceito, no entanto existe o risco de que retirem importância e protagonismo ao evento celebrado em Portugal”, advertem os autores do estudo.
Para o secretário de Estado da Transição Digital, André de Aragão Azevedo, a mudança das previsões em nada belisca o valor de ter em Portugal um evento como a Web Summit.
“O que está em causa, naturalmente, é um crescimento significativo, uma análise comparativa diacrónica do período de 2016 a 2019, em que fica claro que à medida que temos mais visitantes, e o número foi crescendo até cerca de 72 mil em 2019, que foram os últimos dados que serviram de base ao estudo, houve de facto um acréscimo em todas as dimensões, em todos os indicadores.”
“A conclusão, que acho que deve ser destacada, é de que o impacto é inquestionável. O retorno do investimento que o Estado português está a fazer neste evento, e que se comprometeu a fazer até 2028, tem um enorme retorno, isso é inquestionável e acho é isso que devemos valorizar”, explica, em declarações feitas à Renascença em plena Web Summit.
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