A agência de notação identificou cinco áreas de risco e fraquezas para a Europa em caso de uma nova crise do sistema financeiro. No relatório divulgado esta segunda-feira, a Moody’s não faz previsão de quando poderá ocorrer, mas acredita que, mais cedo ou mais tarde haverá uma. E nessa altura, o Velho Continente estará menos preparado para enfrentar o choque. Os riscos vão desde os elevados níveis de dívida pública e privada, até ao aparecimento de movimentos políticos antissistema que podem minar a capacidade de acordo para reformas institucionais da Zona Euro.
A Moody’s reconhece que face a 2008 muita coisa mudou na Europa, com países e empresas a aproveitar os juros mais baixos para trocar dívida com maturidades mais longas e os bancos centrais mais “calejados” depois da crise mundial.
A agência de notação sublinha, contudo, que o crescimento económico vai permanecer lento, a produtividade vai crescer pouco e a concorrência internacional vai intensificar-se. Fatores que “tornam os emitentes frágeis mais vulneráveis a um choque, tornando a recuperação da crise mais difícil, com potencial para ser mais grave.
De acordo com os analistas da Moody’s, existem setores que serão mais afetados por uma nova crise: banca, empresas, infraestruturas, seguros, soberanos (países), operações financeiras estruturadas e administrações locais e regionais.
Os cinco grandes riscos segundo a Moody’s:
Elevados níveis de endividamento
Os analistas acreditam que o endividamento vai limitar a capacidade para absorver choques decorrentes de aumentos das taxas de juro. Mas, neste aspeto, Portugal até consegue estar no “verde”, com a Moody’s a referir que será um dos poucos países a melhorar o saldo estrutural (saldo ajustado do ciclo económico e corrigido de medidas extraordinárias e temporárias) nos próximos 12 a 18 meses. Já no caso de Espanha, França e Reino Unido, a dívida continuará a aumentar e na Alemanha preveem que os elevados níveis de endividamento do Estado demore anos até normalizar;
Ferramentas esgotam-se
A agência de notação financeira reconhece que a economia europeia está a crescer ao ritmo mais elevado desse 2008, mas nota que ainda permanece baixo. E esta condição faz com que os governos tenham menos ferramentas para suportar a economia em tempos de crise, além de que, em muitos casos, ainda não foram constituídas reservas suficientes. Também a banca ainda apresenta grandes fragilidades, por exemplo, no crédito malparado apesar do “progresso significativo para reduzir os NPL” (empréstimos não performativos), refere o relatório da agência de notação.
Mercado imobiliário
A agência de notação financeira refere que a subida acelerada dos preços de alguns ativos coloca um risco acrescido em caso de uma correção. A Moody’s refere em concreto o mercado imobiliário apesar de considerar que, em média, os ativos “têm um preço justo, dadas as baixas taxas de juro.” Questionada pelo Dinheiro Vivo sobre o mercado português, a Moody’s refere que os “preços estão mais elevados na Noruega, na Bélgica, na Alemanha e França, mas “não incluem especificamente Portugal”, referiu um dos analistas na teleconferência desta segunda-feira, lembrando que os preços elevados das casas “não representam um sinal de que estão sobreavaliadas.”
Riscos políticos
Neste capítulo, a Moody’s lembra que as “causas subjacentes ao surgimento de movimentos antissistema e contra consensos na Europa não foram atacadas, “em concreto a insegurança económica.” O relatório refere, por exemplo, que o rendimento real disponível das famílias na Itália, na Grécia e em Portugal ainda não recuperaram para níveis pré-crise. E sobretudo “em regiões com elevadas taxas de desemprego o apoio a movimentos políticos fora do sistema será ainda maior, como no caso das eleições presidenciais francesas de 2017”, sublinha o relatório, lembrando ainda que estes movimentos políticos “vão permanecer como um risco de crédito nos próximos anos.” Também para a Europa será mais difícil alcançar consensos políticos para as reformas institucionais da Zona Euro.
Inovações tecnológicas
Este é um risco que, em primeiro lugar, afetará os serviços financeiros. A Moody’s acredita que a inovação digital vai redefinir a “banca nos próximos anos” como novos modelos de negócio e margens de lucro mais pequenas. As chamadas fintechs (banca que opera através de plataformas eletrónicas) podem representar um risco para a banca tradicional. E mesmo os seguros vão enfrentar a concorrência de novas companhias, com margens de lucro mais curtas e menor resistência para enfrentarem uma crise.
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