O antigo ministro da Economia Álvaro Santos Pereira denuncia relações de compadrio entre o Estado e privados no caso das rendas excessivas no setor da energia.
“Claro que as rendas excessivas no setor da energia estão, no mínimo, intimamente associadas a práticas de relações de compadrio entre os privados e o Estado que vigoraram no nosso país durante demasiado tempo”, disse Álvaro Santos Pereira, esta quinta-feira, na comissão parlamentar de inquérito ao pagamento de rendas excessivas aos produtores de eletricidade.
Para o antigo ministro, “durante muitos anos privilegiou-se um modelo económico em que se promoveram ligações perigosas entre o Estado e interesses privados, que beneficiaram uns poucos à custa das famílias e da economia”.
Álvaro Santos Almeida, que foi ministro no executivo de Passos Coelho durante dois anos, assegura que antes desse XIX Governo ninguém cortou nas rendas de energia.
O economista disse que “quem afirma que não existem rendas excessivas certamente não presta atenção à conta da luz”, quantificando essas rendas em “quase 4.000 milhões de euros entre 2007 e 2020”.
“É claro que os produtores foram beneficiados. É bem claro que antes de nós ninguém tinha tido coragem de enfrentar os ‘lobbies’ da energia. Ninguém tinha cortado um só cêntimo. Graças à nossa ação, e do meu sucessor, cortaram-se mais de 3.500 milhões de euros nas rendas da energia”, declarou o antigo governante.
Álvaro Santos Pereira afirmou que “a única divergência que existia” com o seu secretário de Estado da Energia, que se demitiu ao fim de nove meses no Governo, “era tática”.
“A única divergência que tivemos os dois era tática”, disse o antigo ministro, na comissão parlamentar de inquérito ao pagamento de rendas excessivas aos produtores de eletricidade, quando questionado pelo deputado comunista Bruno Dias, depois de, na sua intervenção inicial, ter elogiado a independência do seu secretário de Estado.
Em janeiro, Henrique Gomes, que foi a primeira ‘baixa’ do Governo de Passos Coelho, revelou que, quando estava no cargo, foi “proibido de falar em rendas excessivas” na eletricidade nas suas intervenções públicas pelo então ministro da Economia.
Hoje Álvaro Santos Pereira admitiu que “a tática dos dois” era diferente: “Quando se fazem negociações, quando se tenta fazer reformas, não adianta vir gritar para as câmaras dizer que se vai reformar. A minha única divergência com o Henrique [Gomes] era se devíamos falar antes ou depois. Eu defendia que era para falar só depois”, acrescentou.
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